sábado, 26 de janeiro de 2013

Crítica - O Mestre

Durante muito tempo O Mestre era tido como uma espécie de filme-denúncia que trataria do início da cientologia, seita que arrebanha famosos como Tom Cruise e John Travolta, centrando-se na figura de seu criador, L. Ron Hubbard. O filme, entretanto passa longe disto. O diretor Paul Thomas Anderson de fato retrata um grupo bem parecido com a cientologia e o personagem Lancaster Dodd (Philip Seymour-Hoffman), o mestre do título, é a cara de Hubbard, mas sua intenção aqui parece ser muito mais tratar de ideias como controle, poder e o fascínio da crença do que apenas criticar a cientologia.
O Mestre conta a história de Freddie Quell (Joaquin Phoenix) um veterano da Segunda Guerra, confuso, alcoólatra e autodestrutivo que se encontra por acaso com Lancaster Dodd, líder do grupo conhecido como “A Causa”. A partir desse encontro, Dodd vê em Quell uma cobaia (o personagem chega a se referir a ele desta forma) para testar os métodos de sua religião e acompanhamos o desenrolar da relação dos dois bem como o crescimento do culto.
É impressionante como Phoenix desaparece em sua composição de Quell, com uma postura torta, ombros curvados e andar esquisito que revelam externamente o interior “distorcido” do personagem. A confusão interna do personagem também é retratada em sua dicção, com um tom grave e lento (como se o ato fosse incrivelmente difícil), além de mal mover os lábios para falar.

Crítica – Lincoln

Lincoln inicia com um longo texto explicando todo o contexto da guerra de secessão americana, no momento me questionei se seria realmente necessário realizar aquela longa exposição daquela forma, antes mesmo do filme propriamente dito começar, mas ao fim do filme compreendi se tratar de uma escolha acertada. A verdade é que o restante do mundo pouco conhece da história dos Estados Unidos e tampouco partilha da idolatria dos americanos para com seu presidente-mártir e é exatamente com essa idolatria que o filme conta para envolver o espectador.
Com isso não quero dizer que o filme é uma peça ufanista estúpida de propaganda do “sonho americano”, longe disso. O diretor Steven Spielberg se esforça para traçar um retrato complexo dos últimos meses em que Abraham Lincoln (Daniel Day-Lewis) ocupou a presidência dos Estados Unidos e sua luta e estratagemas para encerrar a guerra de secessão e abolir a escravidão, mas apesar de sua direção classuda e competente, o filme nunca realmente se preocupa em nos envolver e nos engajar da luta daqueles personagens como se o fato de sabermos se tratar da história de Abraham Lincoln fosse o bastante para nos colocar dentro do filme e torcendo pelos personagens.

sábado, 19 de janeiro de 2013

Crítica - Django Livre

A vingança é um tema caro ao diretor Quentin Tarantino, praticamente em todos os seus filmes há um personagem engajado numa busca por vingança. O fascínio pelo tema é compreensível, afinal vingança consiste em reparar um erro ou uma injustiça feita com alguém de modo a devolver o equilíbrio às coisas. Neste Django Livre o tema da vingança parece mais do que adequado, já que se trata do levante de um escravo contra seus escravizadores e duvido que haja uma situação social tão unanimemente considerada como maligna quanto a escravidão.

No filme, dois anos antes da Guerra de Secessão americana que pôs fim à escravidão no país, Django (Jamie Foxx) é um escravo libertado pelo caçador de recompensas alemão Dr. King Schultz (Christoph Waltz) para ajuda-lo a encontrar um grupo de bandidos que apenas Django conhece o rosto. Ao mesmo tempo, Django deseja reencontrar sua esposa, Brunhilde (Kerry Washington), que foi vendida ao inescrupuloso fazendeiro Calvin Candie (Leonardo DiCaprio).

Tarantino, entretanto, não está aqui para produzir um longo tratado antropológico acerca das mazelas da escravidão, ele deseja produzir alguma sensação de reparação, mas o faz de seu próprio jeito, com diálogos irônicos e verborrágicos, além de, é claro, uma dose cavalar de ultraviolência. Se muitos podem criticar o filme por não adentrar em todas as implicações da escravidão, é impossível negar o efeito catártico produzido pelas imagens de Django açoitando violentamente seu feitor.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Crítica - O Último Desafio

Análise O Último DesafioUm perigoso bandido em fuga dirige-se para uma cidadezinha no interior dos Estados Unidos e cabe ao xerife local a responsabilidade de lidar com a ameaça, mesmo sabendo que não tem contingente para lidar com alguém tão perigoso. Esse enredo tão característico dos filmes de faroeste é mais uma vez reeditada neste O Último Desafio, dirigido por Kim Jee-woon e estrelado por Arnold Schwarzenegger, que interpreta o xerife de uma pequena cidade dos dias atuais próxima à fronteira com o México.

O filme, apesar de beber da fonte dos faroestes de outrora com sua música e com os tiroteios em meio à rua principal de uma pequena cidade, passa longe de ser um faroeste moderno e revisionista como Onde os Fracos Não Tem Vez (2007) dos irmãos Coen. O foco aqui é mesmo a ação exagerada e sanguinolenta no melhor estilo dos filmes de ação da década de 80 que parece estar sendo trazido de volta em filmes como este e Os Mercenários (2010).

Dito isto, fica claro que O Último Desafio não é um filme para ser levado a sério ou analisado a fundo, trata-se de uma bobagem, mas uma bobagem altamente eficiente e divertida. Se o roteiro do filme foi facilmente reduzido à frase inicial desta crítica, não se pode esperar muito mais profundidade dos personagens. O narcotraficante em fuga Gabriel Cortez (Eduardo Noriega) e seu assistente Burrel (Peter Stormare) são tão caricatos e exagerados que se tornam incrivelmente hilários.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Crítica - Detona Ralph

Faz um bom tempo que a indústria americana tenta emplacar nos cinemas os grandes sucessos da indústria dos videogames, mas os resultados costumam sempre ficar aquém do esperado. Claro, temos a franquia Resident Evil que já está no seu quinto filme, embora nenhum digno de nota. A ideia de fazer um filme sobre um game que não existe e, portanto, livre das amarras que envolvem adaptar um jogo já existente parecia bastante promissora e o resultado deste Detona Ralph é realmente bom.

O filme é encabeçado por Ralph, vilão do game oitentista Fix-It Felix (algo bem parecido com o Donkey Kong original), que está cansado de todo dia ser arremessado do alto de seu prédio e ficar sozinho em um lixão sendo ignorado pelo resto dos personagens de seu game. A trama é uma mistura de Toy Story com Uma Cilada Para Roger Rabbit. Do clássico da Pixar se revisita a ideia do que fazem os brinquedos, ou videogames nesse caso, quando não estamos por perto e do segundo a mistura de personagens de diferentes universos coexistindo e interagindo. Assim, na cena em Ralph está na sua terapia de grupo dos “Vilões Anônimos”, vemos ele lado a lado com personagens conhecidos dos videogames como Zangief, Dr. Eggman, Kano e um dos fantasmas do Pac-Man. É apenas uma pena que o filme se aproveite tão pouco de suas “participações especiais”, pois seria bastante interessante ver uma cena entre Sonic e Mario ou entre Ryu e Sub-Zero nos moldes das interações entre Patolino e Pato Donald ou entre Mickey e Pernalonga em Uma Cilada Para Roger Rabbit.