terça-feira, 18 de junho de 2019

Crítica – Mistério no Mediterrâneo


Análise Crítica – Mistério no Mediterrâneo


Review – Mistério no Mediterrâneo
Não sei explicar o motivo que me levou a assistir este Mistério no Mediterrâneo. Apesar de ter apreciado o trabalho de Adam Sandler em Os Meyerowitz: Família não Se Escolhe (2017), dirigido por Noah Baumbach, sei que Sandler nunca rende nos filmes que ele próprio produz o mesmo que rende quando trabalha com outros cineastas. Além disso, os últimos filmes que Sandler produziu em sua parceria com a Netflix, como Lá Vem os Pais (2018) ou Sandy Wexler (2017) foram porcarias atrozes que me fizeram questionar minha própria sanidade. Como se isso já não desse um prospecto suficientemente ruim, ainda havia o fato de que Mistério no Mediterrânio foi dirigido por Kyle Newacheck, que cometeu a hecatombe que foi Perda Total (2018), filme que coloquei entre os piores daquele ano.

Mas então, porque fui assistir Mistério no Mediterrâneo? Bem, não tenho uma resposta específica e direta para isso, talvez tenha sido tédio, talvez eu possua um lado masoquista que me impele a assistir filmes cujo prognóstico parece ruim, talvez eu tenha problemas de autoestima e me sujeitar a ver esse tipo de coisa seja uma forma de autopunição, não sei. De todo modo, o resultado de Mistério no Mediterrâneo é bem melhor do que as produções anteriores de Sandler para a Netflix, o que é um patamar baixo a superar, admito, mas já é alguma coisa.


A trama é centrada no casal Nick (Adam Sandler) e Audrey (Jennifer Aniston). Nick é um policial preguiçoso, acomodado e pão-duro que mente para a esposa sobre ter sido promovido a detetive. Audrey é uma cabeleireira que reclama e desaprova tudo que o marido faz. Juntos eles não tem qualquer traço positivo de personalidade nem dão ao público qualquer razão para se importar ou torcer por eles, mas ainda assim estamos presos a essas pessoas detestáveis por cerca de 100 minutos. Quando Nick, pressionado pela constante desaprovação da esposa fútil e materialista, resolve finalmente dar a viagem para a Europa que prometeu a ela anos atrás, o casal acaba indo parar no iate do bilionário Malcolm Quince. Quince é misteriosamente assassinado e o casal de protagonistas precisa descobrir quem, entre os convidados do barco, é o assassino.

É uma premissa típica dos romances de Agatha Christie, mas se seus livros ou filmes baseados nele, como Assassinato no Expresso do Oriente (2017), se sustentam em um hábil manejo da intriga e um elenco de personagens singulares, aqui não há nenhum desses elementos. Os suspeitos são uma coleção de caricaturas unidimensionais que mais provocam tédio do que risos, falhando em causar qualquer impressão ao ponto que eu não lembro o nome de nenhum deles apenas horas depois de ter assistido o filme.

Como de costume em suas últimas “comédias”, Sandler parece absolutamente miserável em cena, sem qualquer energia, disposição ou mesmo esforço de estabelecer qualquer química com Jennifer Aniston, sua parceira de cena durante quase todo o tempo. Aniston, por sinal, até se esforça, acreditando na própria personagem e nas situações inanes que o roteiro a coloca, mas mesmo o carisma dela não consegue salvar uma personagem que é, durante quase toda a duração do filme, uma megera castradora fútil, o tipo de personagem que é bastante comum aos filmes de Sandler, como apontei em meu texto de Zerando a Vida (2016).

Era de se esperar que uma comédia que pega um formato batido como o deste tipo de mistério fosse tentar zoar com os clichês que permeiam essas histórias, no entanto praticamente não há esforço nessa direção. O filme chega perto disso na cena final, quando Nick e Audrey apontam o responsável pelo crime e depois questionam o fato da pessoa não confessar imediatamente como é comum nessas narrativas, mas é um momento pequeno perto da miríade de oportunidades desperdiçadas ou de piadas sem graça, como as muitas cenas dos personagens mexendo com cadáveres.

Ainda assim, a direção de Kyle Newacheck consegue conferir alguma energia às cenas de perseguição, como a correria pelas ruas da Itália ou toda a perseguição de carros que há no clímax. Se o esmero desses momentos de ação também estivesse presente na construção do roteiro ou nas performances de boa parte do elenco, o resultado poderia ser minimamente aproveitável.

Do jeito que está, Mistério no Mediterrâneo é mais uma comédia rasteira e preguiçosa protagonizada por um Adam Sandler desinteressado.

Nota: 4/10


Trailer

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