sexta-feira, 26 de abril de 2024

Crítica – Último Ato

 

Análise Crítica – Último Ato

Review – Último Ato
O que fazer para unificar uma nação profundamente polarizada depois que uma parcela do país tentou violentamente abolir o Estado? É uma pergunta que se aplica aos Estados Unidos de hoje (e também ao Brasil, infelizmente), mas no caso da minissérie Último Ato se refere ao fim da Guerra de Secessão dos EUA e como o assassinato do presidente Abraham Lincoln representou um freio nas tentativas de unificar o país, trazendo justiça social e punindo os golpistas.

A trama começa no dia do assassinato de Lincoln (Hamish Linklater) e segue os doze dias da caçada empreendida contra o assassino John Wilkes Booth (Anthony Boyle) pelo ministro da guerra de Lincoln, Edwin Stanton (Tobias Menzies, de Outlander), e pelo detetive Lafayette Baker (Patton Oswalt). Ao mesmo tempo, Stanton luta para que o governo não recue nas reformas pretendidas por Lincoln, principalmente quando o presidente Andrew Jackson (Glenn Morshower), ele próprio um ex-escravagista, parece disposto a capitular às demandas dos ricos do derrotado sul.

quinta-feira, 25 de abril de 2024

Crítica – Rebel Moon Parte 2: A Marcadora de Cicatrizes

 

Análise Crítica – Rebel Moon Parte 2: A Marcadora de Cicatrizes

Review – Rebel Moon Parte 2: A Marcadora de Cicatrizes
Depois da entediante e inane primeira parte de Rebel Moon, o diretor Zack Snyder chega a este Rebel Moon Parte 2: A Marcadora de Cicatrizes com a promessa de algo que vai mais direto ao ponto ao trazer o clímax da história com os rebeldes montando suas defesas contra o ataque do Mundo-Mãe. Apesar de ser basicamente uma longa cena de ação de quase duas horas, essa segunda parte é tão sem graça, inane e esquecível quanto a primeira.

Na trama, depois de recrutar mercenários de diferentes partes do universo, Kora (Sofia Boutella) retorna para a lua de Veldt para ajudar os camponeses a enfrentarem o ataque das forças imperiais lideradas por Noble (Ed Skrein). É isso, não tem mais trama do que esse fiapo de ideia copiada de Os Sete Samurais (1954) do Akira Kurosawa. O problema nem é reproduzir a ideia (em si ela poderia algo bacana), mas fazer isso de maneira tão desinteressante.

quarta-feira, 24 de abril de 2024

Crítica – Contra o Mundo

 

Análise Crítica – Contra o Mundo

Review – Contra o Mundo
Partindo da premissa mais batida possível para um filme de ação, Contra o Mundo diverte pelo senso de caos que cria tanto na narrativa quanto nas suas cenas de ação. A trama se passa em um futuro distópico no qual tudo é controlado pela poderosa Hilda Van Der Koy (Famke Janssen) que anualmente realiza um evento para exterminar seus opositores, executando-os publicamente em um programa de televisão. O protagonista (Bill Skarsgard) é um jovem que teve a família morta pelo regime de Koy quando ele era criança. Criado na floresta pelo misterioso Xamã (Yayan Ruhian), ele treinou a vida inteira para se vingar e agora decidiu que está pronto para o ataque. Como ele é mudo, nosso acesso ao protagonista se dá pela voz em sua cabeça (H. Jon Benjamin, voz do protagonista de Archer) que nos guia pela onda homicida do personagem.

Muito do humor vem do contraste entre a voz grave e áspera da narração de Benjamin e o total absurdo que acontece ao seu redor. A narração serve para entendermos o que se passa na cabeça do protagonista, mas o modo sério com o qual ele pensa sobre si mesmo sempre esbarra na maluquice que toma sua jornada de vingança ou na sua incompreensão do que o cerca, a exemplo do momento em que tenta ler os lábios de um sujeito falando um idioma diferente e tudo que a voz consegue transmitir é uma série palavras aleatórias sem sentido.

terça-feira, 23 de abril de 2024

Crítica – Rivais

 

Análise Crítica – Rivais

Review – Rivais
Em uma de suas primeiras cenas em Rivais, a tenista interpretada por Zendaya diz que tênis é como um relacionamento, quando você joga você descobre tudo sobre a pessoa e ganhar ou perder tem a ver em como você joga essa relação com o outro na quadra. A fala dá a tônica do filme, que gira em torno da relação de Tashi (Zendaya), uma tenista promissora que tem a carreira interrompida por uma lesão no joelho, com os também tenistas Art (Mike Faist) e Patrick (Josh O’Connor).

Art e Patrick se envolveram com Tashi na juventude e tem estilos de jogo opostos. Art arrisca pouco e é mais técnico, Patrick é mais temperamental e confia mais no próprio talento do que em técnicas de treinamento. Ambos se envolvem com Tashi ao longo dos anos, mas ela se casa com Art e se torna treinadora dele. Anos depois Art está em uma maré de derrotas e isso atrapalha os planos do casal para que ele ganhe o US Open, o único dos Grand Slams que Art ainda não venceu. Para tentar recuperar a confiança dele, Tashi o inscreve em um pequeno torneio em um country club, mas a presença de Patrick na competição revive rancores antigos entre os três.

segunda-feira, 22 de abril de 2024

Crítica – Clube Zero

 

Análise Crítica – Clube Zero

Review – Clube Zero
Começando com um aviso de gatilho sobre as representações de distúrbios alimentares presentes no longa, Clube Zero acaba sendo mais sobre controle e a construção de uma mentalidade de culto. Sim, distúrbios alimentares estão presentes e são discutidos, mas a diretora austríaca Jessica Hausner parece mais interessada em como seu grupo de personagens se radicaliza do que nos distúrbios que surgem dessa radicalização.

A trama é centrada na professora Novak (Mia Wasikowska) que chega para dar aula em uma escola de elite e forma um clube sobre bem estar e nutrição para ajudar os estudantes. A professora tem visões bem radicais sobre alimentação, defendendo comer o mínimo possível para liberar as toxinas do corpo e para desestimular o predatismo da indústria agropecuária. Os estudantes sob sua tutela acreditam na mensagem da professora e entram em uma perigosa dinâmica na qual ela passa a exercer um controle excessivo sobre suas vidas e sua saúde.

sexta-feira, 19 de abril de 2024

Crítica – O Que Jennifer Fez?

 

Análise Crítica – O Que Jennifer Fez?

Review – O Que Jennifer Fez?
O documentário “true crime” virou um filão constantemente explorado por serviços de streaming. Se alguns ajudam a compreender como a sociedade lida com certos eventos extremos e as falhas nas leis ou nos órgãos que deveriam cuidar da população, a exemplo de O Mistério de Maya (2023), outros, como este O Que Jennifer Fez? parecem não ter nada a oferecer que não uma exploração sensacionalista do crime.

O documentário narra a invasão à casa de uma família de imigrantes vietnamitas em Ontário, Canadá. Os invasores matam a mãe e o pai é baleado e severamente ferido, ficando em coma. A filha Jennifer é a única sobrevivente do massacre, mas parece não ter muitas informações úteis para a polícia. De início as autoridades desconfiam que os pais dela poderiam estar envolvidos em algo ilegal, já que é um tipo de crime incomum na região, mas conforme a investigação avança as suspeitas passam a pairar sobre Jennifer.

quinta-feira, 18 de abril de 2024

Drops – Kung Fu Panda 4

 

Análise Crítica – Kung Fu Panda 4

Review – Kung Fu Panda 4
Assim como outras animações que tiveram continuações demais, Kung Fu Panda 4 dá sinais de cansaço da franquia e um senso de que tudo é feito a toque de caixa simplesmente porque é mais barato e menos arriscado financeiramente fazer mais um do que tentar algo novo. A trama coloca Po para enfrentar uma nova vilã ao mesmo tempo em que o mestre Shifu o incumbe de encontrar um novo Dragão Guerreiro para substituí-lo, já que Po deve se tornar o líder espiritual do Vale da Paz. Em sua jornada, Po encontra a raposa Zhen e se alia a ela contra a nova vilã.

A trama é relativamente previsível, sendo óbvio desde o início que Zhen vai trair Po e depois se arrepender por conta da amizade genuína que o panda mostrou a ela. Do mesmo modo, é bem evidente quem Po escolherá como seu sucessor. A vilã Camaleoa, apesar da dublagem de Viola Davis torná-la ameaçadora, acaba se revelando uma antagonista bastante genérica, longe dos vilões marcantes dos filmes anteriores, em especial o Tai Lung do primeiro filme que reaparece aqui para nos lembrar de filmes melhores da franquia. A ideia da vilã poder se transformar em inimigos do passado de Po poderia servir de metáfora para o personagem confrontar seu passado, mas na narrativa nunca faz nada de muito interessante com esse conceito.

quarta-feira, 17 de abril de 2024

Crítica – O Túnel de Pombos

 

Análise Crítica – O Túnel de Pombos

Review – O Túnel de Pombos
Dirigido por Erroll Morris (responsável pelo seminal A Tênue Linha da Morte), o documentário O Túnel de Pombos é uma longa conversa com o elusivo escritor de romances de espionagem John Le Carré, pseudônimo de David Cornwell. Carré sempre foi uma figura reservada, não falando muito sobre sua vida pessoal, seu trabalho na inteligência britânica ou suas inspirações para seus romances, mas nesta conversa com Morris, filmada um ano antes de sua morte, ele se abre sobre vários desses aspectos.

O filme todo é estruturado ao redor das várias conversas que Morris filmou com Carré, sem outras fontes ou outros entrevistados além do próprio escritor. Interessa mais a Morris ouvir Carré e inquiri-lo a respeito de sua perspectiva pessoal acerca de sua trajetória ou das inspirações de sua obra do que ter outros falando, inclusive porque é tão raro que o autor aceite se abrir.

terça-feira, 16 de abril de 2024

Crítica – Fallout

 

Análise Crítica – Fallout

Review – Fallout
Depois do sucesso de The Last of Us, outro game passado em um cenário apocalíptico ganha uma adaptação como série televisiva. Fallout chama atenção pelo modo como se mantem fiel à estética dos games e suas mecânicas principais ao contar uma história sobre como esse mundo se tornou o deserto nuclear que conhecemos.

A trama se passa mais de duzentos anos depois que uma guerra nuclear dizimou o planeta. Parte da humanidade passou a viver em refúgios, abrigos subterrâneos protegidos da radiação da superfície. Os habitantes desses refúgios esperam a queda na radiação para voltar a habitar a superfície, que se tornou um deserto povoado por criaturas mutantes e saqueadores violentos. No centro da narrativa está Lucy (Ella Purnell), uma habitante do refúgio 33 que precisa se aventurar na superfície depois que seu pai é sequestrado por saqueadores.

A série transpõe com muita fidelidade a estética presente nos games que mescla referências dos anos 50 com elementos de futurismo, criando uma espécie de “futuro analógico”. O clima dos games, de um ermo hostil no qual diversas facções lutam por poder e dominação também está presente, com algumas dos principais grupos dos games aparecendo ao longo desta primeira temporada.

segunda-feira, 15 de abril de 2024

Crítica – Guerra Civil

 

Análise Crítica – Guerra Civil

Review – Guerra Civil
O diretor Alex Garland sempre traz elementos provocadores em seus filmes e isso ajuda a torná-los marcantes mesmo quando o resultado final não atinge plenamente seu potencial como em Aniquilação (2018) ou Men: Faces do Medo (2022), produções que, embora competentes, não tiveram o mesmo impacto que sua estreia na direção com Ex Machina: Instinto Artificial (2014). Guerra Civil tinha potencial para alcançar esse mesmo patamar com uma trama sobre os Estados Unidos divididos por um conflito interno.

A narrativa se passa em um futuro próximo no qual diferentes facções se separaram do governo dos Estados Unidos e agora lutam para derrubar o governo e tomar o controle do país. O governo federal está nas cordas, a guerra está praticamente perdida. Os jornalistas que cobrem a guerra praticamente não tem mais histórias para contar. O repórter Joe (Wagner Moura) e a fotojornalista Lee (Kirsten Dunst) decidem ir até Washington D.C para tentar uma entrevista com o presidente, talvez a única matéria que resta na guerra. Para isso terão que atravessar pelo meio do front de batalha entre regiões cheias de conflito. Na viagem eles são acompanhados pelo veterano repórter Sammy (Stephen McKinley Henderson) e a fotógrafa novata Jessie (Cailee Spaeny).

sexta-feira, 12 de abril de 2024

Crítica – Wonka

 

Análise Crítica – Wonka

Review – Wonka
Não tive lá muita vontade de conferir Wonka. A ideia de contar a origem do personagem nunca me soou como uma premissa interessante e o personagem não era o tipo que pedia um prelúdio. Na verdade, parte do charme de Willy Wonka era ter uma aura de mistério ao seu redor por não sabermos muito a respeito dele e isso lhe conferia certa imprevisibilidade. Wonka de fato não tem muito a dizer sobre seu personagem e conhecermos sua origem não traz nada que nos ajude a vê-lo sob um novo prisma, mas tem encantamento o bastante para ser uma aventura divertida.

Na trama um jovem Willy Wonka (Timothee Chalamet) chega à Inglaterra para abrir sua loja de chocolates, mas enfrenta resistência de um cartel de chocolate que não vê com bons olhos as invenções de Wonka. Perseguido, Wonka conta com a ajuda da órfã Noodle (Calah Lane) e do misterioso Umpa Lumpa (Hugh Grant) para denunciar a corrupção do cartel que mantem controle até mesmo sobre o chefe de polícia (Keegan Michael Key).

quinta-feira, 11 de abril de 2024

Crítica – Ripley

 

Análise Crítica – Ripley

Review – Ripley
É curioso que apesar de ser um personagem marcante na literatura de Patricia Highsmith, Tom Ripley é majoritariamente lembrado pelo primeiro dos cinco livros que protagoniza. Talvez porque as continuações nunca chegam perto da complexidade que o personagem exibe em sua estreia, preferindo focar em crimes e esquemas complexos do que nos dilemas internos dele. A minissérie Ripley, escrita e dirigida por Steven Zaillian, é mais uma adaptação do primeiro romance, O Talentoso Ripley.

A trama se passa na década de 60. Tom Ripley (Andrew Scott) é um jovem que vive de pequenos golpes até ser chamado por rico construtor de navios que pensa que Ripley é muito próximo de seu filho, Dickie (Johnny Flynn). O pai de Dickie quer que Ripley vá atrás de Dickie na Itália e o traga de volta, já que Dickie deve deixar sua vida de playboy e retornar aos EUA para assumir os negócios da família. Chegando na Itália Ripley se encanta pelo estilo de vida luxuoso e despreocupado de Dickie, mas o ricaço logo fica entediado com o amigo carente, tentando mandá-lo embora. Ripley acaba matando Dickie e decide tomar sua identidade, mas a namorada de Dickie, Marge (Dakota Fanning), e a polícia italiana estão em seu encalço.

quarta-feira, 10 de abril de 2024

Crítica – A Grande Entrevista

 

Análise Crítica – A Grande Entrevista

Review – A Grande Entrevista
O cinema gosta de contar histórias que lembram a importância do jornalismo. Em geral são narrativas focadas no jornalismo investigativo como Todos os Homens do Presidente (1976) ou Spotlight (2015), mas ocasionalmente também sobre o processo de entrevista e de extrair de um entrevistado alguma informação que ele não quisesse dar. Frost/Nixon (2008) fez isso ao retratar a seminal entrevista na qual David Frost fez Richard Nixon admitir publicamente os crimes que cometeu durante sua gestão. Em certa medida, A Grande Entrevista apresenta um processo similar ao mostrar como a BBC britânica conseguiu a entrevista com o Príncipe Andrew em 2009 na qual ele admitiu publicamente sua proximidade com o bilionário pedófilo Jeffrey Epstein e relações inapropriadas com menores de idade.

A trama começa em 2010, quando Andrew (Rufus Sewell) foi fotografado em público ao lado do bilionário que já era alvo de denúncias. Anos depois Epstein é preso por tráfico de menores e se suicida sob circunstâncias misteriosas na prisão. A relação entre o ricaço e o príncipe volta a ser discutida pela mídia britânica e o programa Newsnight da BBC decide tentar agendar uma entrevista com o arredio príncipe, recorrendo principalmente à produtora Sam McAllister (Billie Piper) e a âncora Emily Maitlis (Gillian Anderson).

terça-feira, 9 de abril de 2024

Crítica – Invencível: Segunda Temporada (Parte 2)

 

Análise Crítica – Invencível: Segunda Temporada (Parte 2)

Review – Invencível: Segunda Temporada (Parte 2)
Depois de uma primeira parte difusa, que se espalhava demais tentando estabelecer os conflitos dos vários personagens, a segunda parte da segunda temporada de Invencível consegue entregar desfechos impactantes para os conflitos que iniciou em sua metade inicial.

Voltando para a Terra depois de reencontrar o pai e tomar uma surra dos viltrumitas, Mark precisa pensar em um meio de deter os poderosos seres antes que eles lancem sua total invasão ao nosso planeta. Ao mesmo tempo os Guardiões do Globo lidam com seus conflitos internos e o misterioso Angstrom Levy trama nos bastidores sua vingança contra Mark.

segunda-feira, 8 de abril de 2024

Crítica – Ghostbusters: Apocalipse de Gelo

 

Análise Crítica – Ghostbusters: Apocalipse de Gelo

Review – Ghostbusters: Apocalipse de Gelo
Depois de um Ghostbusters: Mais Além (2021) que se apoiava quase que exclusivamente em nostalgia, Ghostbusters: Apocalipse de Gelo tinha potencial para finalmente levar a franquia em novas direções. Era a oportunidade de dar novos rumos, desenvolver os novos personagens e reinventar esse universo. A ideia de um novo vilão, com uma nova mitologia, se afastando do Gozer que o original reciclou do filme anterior tinha potencial, mas não se concretiza.

A trama se inicia quando Ray (Dan Aykroyd) encontra um orbe que aprisionou um espírito ancestral que deseja destruir o mundo com poderes de gelo. A criatura agita os fantasmas de Nova Iorque, dando mais trabalho aos Caça-Fantasmas. Quando uma missão destrói várias ruas, a prefeitura interfere e Phoebe (Mckenna Grace) fica impedida de ajudar a mãe e o irmão a combater fantasmas por ser menor de idade.

sexta-feira, 5 de abril de 2024

Drops – Feriado Sangrento

 

Crítica – Feriado Sangrento

Review – Thanksgiving
Começando sua vida como um trailer falso no projeto Grindhouse de Quentin Tarantino e Robert Rodriguez, Feriado Sangrento seguiu o caminho de Machete e se tornou um longa metragem. Não esperava muita coisa, mas o resultado é um competente slasher. A narrativa começa quando uma liquidação de Black Friday dá errado e várias pessoas são mortas quando uma multidão enfurecida invade uma loja de departamentos. Um ano depois, o Dia de Ação de Graças se aproxima mais uma vez e um misterioso assassino fantasiado de peregrino começa a matar os envolvidos no incidente do ano anterior. Um grupo de adolescentes se vê na mira do assassino enquanto o xerife Eric (Patrick Dempsey) tenta manter a paz na cidade.

A cena inicial da Black Friday tem ecos do O Despertar dos Mortos (1978) do George Romero no modo como constrói um brutal retrato da zumbificação do individuo dentro do capitalismo e como as pessoas são reduzidas a feras irracionais que existem apenas para consumir, não importando a destruição causada. Apesar dos personagens em cena não serem de fato zumbis e sim pessoas normais, eles se comportam como feras enfurecidas, com uma brutalidade que remete a vídeos do mundo real de liquidações que terminaram em tragédia.

quinta-feira, 4 de abril de 2024

Crítica – Todos Nós Desconhecidos

 

Análise Crítica – Todos Nós Desconhecidos

Review – Todos Nós Desconhecidos
Dirigido por Andrew Haigh, Todos Nós Desconhecidos é uma história sobre luto, solidão, intimidade e estranhamento. Sua narrativa sobre se manter preso ao passado e não se abrir para o presente, preferindo conviver os fantasmas de outrora poderia render um filme bem piegas, daqueles feitos para forçar o público ao choro, mas Haigh traz uma leveza e uma sensibilidade na condução que faz tudo ser emotivo sem cair na pieguice.

A trama é protagonizada por Adam (Andrew Scott), um escritor que aparentemente é a única pessoa morando em um alto prédio de habitação popular. O único outro morador que ele parece encontrar no local é Harry (Paul Mescal) e ambos começam a conversar. Com o tempo, Harry demonstra interesse em Adam, mas o escritor passa seu tempo revisitando a casa que cresceu na infância, tentando escrever um roteiro de cunho autobiográfico a respeito de sua relação com os pais falecidos. Em uma dessas idas, nas quais o trem funciona como uma máquina do tempo, ele encontra o pai (Jamie Bell) em uma loja de conveniência e vai jantar com ele e a mãe (Claire Foy), como se nada tivesse acontecido. Ele passa a dividir seu tempo entre os pais e Harry, mas esses mundos não demonstram facilidade em coexistir.

quarta-feira, 3 de abril de 2024

Crítica – Uma Família Feliz

 

Análise Crítica – Uma Família Feliz

Review – Uma Família Feliz
Um final bem construído pode fazer toda a diferença. Pode até salvar uma produção que não é grande coisa. De maneira análoga, um final ruim, mal desenvolvido, pode afundar um filme que até então estava bom. Isso é infelizmente o que acontece em Uma Família Feliz suspense bem conduzido pelo diretor José Eduardo Belmonte (responsável por filmes como Carcereiros, Alemão e Billi Pig) que naufraga por um péssimo clímax que abandona tudo que fora desenvolvido até então.

A trama é protagonizada por Eva (Grazi Massafera), prestes a ter seu primeiro filho com o marido, Vicente (Reynaldo Gianecchini), que tem duas filhas de um casamento anterior. Cuidando do recém nascido e também das duas enteadas, Eva começa a se sentir sozinha em casa e o cansaço de fazer tudo sozinha começa a afetá-la. Ao mesmo tempo seu bebê e as duas enteadas começam a exibir machucados desconhecidos, que Eva não sabe como explicar e Vicente começa a desconfiar dela.

terça-feira, 2 de abril de 2024

Drops – Em Ruínas

 

Resenha Crítica – Em Ruínas

Review – Badland Hunters
A produção sul coreana Em Ruínas é um daqueles casos em que o filme não tem nada de fundamentalmente errado, mas também não tem nada muito digno de nota. A narrativa se passa em uma Seul que foi devastada por um terremoto anos atrás e agora a sociedade regrediu a um grupo de facções que tenta sobreviver do pouco que restou. O grupo liderado por Nam San (Ma Dong-Seok, de Força Bruta e Eternos) tem uma oportunidade de melhorar de condição quando são abordados por um grupo que vive em um prédio ainda intacto e com água limpa. O local, claro, guarda segredos sombrios e aqueles que aceitam a suposta utopia são usados como cobaias pelo cientista que lidera o local. Assim, Nam San e outros sobreviventes de seu grupo vão resgatar os amigos.

É um cenário pós-apocalíptico bem típico, que já foi explorado a rodo em produções televisivas e cinema do mundo todo. Tanto narrativa, quanto visualmente o filme carece de elementos marcantes. Não é exatamente mal executado, já que os acampamentos e prédios em ruínas prezam por cenários físicos e razoavelmente amplos, que ajudam a tornar crível o clima de desolação, a questão é que a produção não oferece nada que já não tenhamos visto antes.

segunda-feira, 1 de abril de 2024

Crítica – Matador de Aluguel

 

Análise Crítica – Matador de Aluguel

Review – Matador de Aluguel
Estrelado por Patrick Swayze, o primeiro Matador de Aluguel (1989) era um marco do cinema de ação canastrão dos anos 80. Era um filme tão estúpido, tão absurdo, tão exagerado que se tornava genial e divertia pelo modo sério como a direção e elenco abordavam um texto tão risível, conferindo um charme canastrão à fita. A nova versão de Matador Aluguel produzida pela Prime Video, por outro lado, parece não se decidir entre o camp e a seriedade resultando em uma produção sem muita personalidade.

Na trama, Dalton (Jake Gyllenhaal) é um ex-lutador de MMA que deixou o ambiente profissional das lutas depois de um evento traumático. Sem trabalho e sem perspectiva, ele é procurado por Jackie (Jessica Williams) para ser segurança em seu bar no sul da Flórida. A casa tem sido alvo de gangues de motoqueiros e ela precisa de alguém para por ordem no lugar. Chegando lá Dalton se envolve com a médica Ellie (Daniella Melchior) e descobre que o bar está na mira de um magnata local.

quarta-feira, 27 de março de 2024

Crítica – O Homem dos Sonhos

 

Crítica – O Homem dos Sonhos

Review – O Homem dos Sonhos
Com uma premissa bastante insólita, é difícil não ficar curioso para conferir O Homem dos Sonhos. O filme narra a história do pacato e frustrado professor universitário Paul (Nicolas Cage). Apesar de uma carreira estável, Paul anseia mais reconhecimento, algo que vem quando várias pessoas ao redor do país começam a dizer que estão vendo o professor em seus sonhos. O fenômeno ganha atenção da mídia e Paul logo se torna uma espécie de celebridade. O problema é que a fama não é o que o professor esperava.

É uma trama que transita entre comédia, drama, terror e surrealismo, com muito do que sustenta essa variação sendo a performance de Nicolas Cage. Logo quando conhecemos Paul o vemos como um sujeito pacato e relativamente patético, exemplificado na cena em que ele cobra de outra acadêmica os créditos por um termo que ele crê ter cunhado. A cena em questão nos mostra o anseio do personagem ao mesmo tempo em coloca algo de ridículo no modo como ele parecer exigir do mundo algum reconhecimento. Conforme a trama progride e a fama passa a ser um fardo para Paul e sua família, Cage transita entre a dor e a frustração de ver que nem assim suas ambições irão se realizar.

terça-feira, 26 de março de 2024

Crítica – Madame Teia

 

Análise Crítica – Madame Teia

Review – Madame Teia
Depois do horrendo Morbius (2022) a Sony parece não ter aprendido a lição e continua a insistir na ideia equivocada de construir um universo com personagens que gravitam em torno do Homem-Aranha sem, no entanto, usar o herói. A mais nova adição nesse plantel de erros é Madame Teia, um filme tão equivocado, tão sem sentido e incompetente que acaba se tornando divertido e, nesse sentido, acaba sendo um pouco melhor do que Morbius. Um patamar fácil de superar, admito.

A trama acompanha Cassandra Webb (Dakota Johnson) uma paramédica que desenvolve a capacidade de ver o futuro depois de um incidente de quase morte. Ela passa a ter visões com três garotas sendo assassinadas e quando as encontra no metrô decide protegê-las do perigoso Ezekiel Sims (Tahar Rahim). Assim, Cassie coloca as jovens Julia (Sydney Sweeney), Anya (Isabela Merced) e Mattie (Celeste O’Connor) sob sua proteção, já que elas estão destinadas a serem super-heroínas e Sims tem visões de que elas o matarão no futuro.

segunda-feira, 25 de março de 2024

Crítica – Final Fantasy VII Rebirth

 

Análise Crítica – Final Fantasy VII Rebirth

Review – Final Fantasy VII Rebirth
Depois que Final Fantasy VII Remake se mostrou um bom começo para a reimaginação do clássico RPG para as gerações atuais, ficava a dúvida de como uma segunda parte lidaria com os ambientes mais abertos do game após a linearidade do segmento em Midgar. Outra dúvida também seria de quantas partes mais o remake teria. Felizmente Final Fantasy VII Rebirth entrega tudo que esperávamos, com mais exploração, minigames e personagens, além de explicitar que esse será a segunda parte de uma trilogia que comporá o remake do Final Fantasy VII original.

A trama segue no ponto em que o anterior parou, com Cloud e seus aliados fugindo de Midgar e iniciando uma busca por Sephiroth. Ao longo do caminho encontrarão as consequências das ações da Shinra extraindo a energia do planeta, serão alvos do novo presidente da empresa, Rufus, e também lidarão com seus próprios problemas pessoais.

sexta-feira, 22 de março de 2024

Crítica – Not Dead

 

Resenha Crítica – Not Dead

Review – Not Dead
Quando falamos em música em Salvador normalmente pensamos em axé music, mas o cenário musical da cidade é muito mais diverso que isso e o documentário Not Dead visa falar de uma das formas musicais que teve (e tem) uma presença na cidade que é o punk rock. Como alguém que viveu praticamente a vida toda em Salvador, achei interessante conhecer um aspecto da vida cultural da cidade que é pouco falado e pouco visto nas representações midiáticas.

O filme segue um grupo de pessoas influentes no surgimento da cena punk em Salvador nos anos 80, contando sobre a criação da loja Not Dead, que vendia roupas e mercadorias com estética punk e servia como um espaço para congregar a cultura punk em Salvador. A partir disso ele nos mostra como está a cena punk hoje, as bandas que surgiram naquela época que ainda estão ativas e como a ideologia punk transformou a vida dos envolvidos mesmo aqueles que não seguem diretamente engajados na cena punk soteropolitana hoje.

quinta-feira, 21 de março de 2024

Crítica – A Flor do Buriti

 

Análise Crítica – A Flor do Buriti

Review – A Flor do Buriti
Depois de Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos (2018) os diretores João Salaviza e Renée Nader Messora voltam a falar sobre a população indígena Krahô no interior do Tocantins. Em A Flor do Buriti os realizadores focam em narrar a história de luta pela terra dessa população e como eles resistiram a múltiplos massacres.

A narrativa vai da década de 1940 aos dias atuais, mas sem seguir uma cronologia, acompanhando a população da Aldeia Pedra Branca no presente e se deslocando no tempo conforme eles contam as histórias do passado ou seus espíritos entram em contato com ancestrais no passado, misturando cenas encenadas e personagens reais para narrar como a opressão aos indígenas sempre foi uma constante em suas vidas.

Se filmes como Martírio (2016) mostram anos de descaso ou políticas questionáveis da parte do Estado brasileiro, aqui essas décadas de descaso e perseguição são apresentadas do ponto de vista dos próprios indígenas, narrado, inclusive em sua própria língua. O fato dos Krahô falarem seu em sua língua é uma escolha estética e política, permite que eles se coloquem em seus próprios termos, com seu vernáculo e com toda a construção subjetiva e visão de mundo imbricada na própria língua.