segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

Crítica – Dois Papas


Análise Crítica – Dois Papas


Review – Dois Papas
Dirigido pelo brasileiro Fernando Meirelles e produzido pela Netflix, este Dois Papas é mais um daqueles filmes que visa premiações e que tenta passar uma mensagem sobre a necessidade de nos abrirmos para o diálogo, mesmo com aqueles que pensam diferente de nós. O longa não diz nada que outros filmes com a mesma temática já tenham dito, mas ao menos consegue dar nuance suficiente aos seus personagens para conseguir funcionar.

A trama é baseada na história real dos dois últimos Papas da igreja católica, o Papa Bento XVI/ Joseph Ratzinger (Anthony Hopkins) e o atual Papa Francisco/ Jorge Bergoglio (Jonathan Pryce). Eles tinham posicionamentos opostos em relação a como guiar a igreja, mas ao longo de seu papado Bento percebe que não foi capaz de resolver os problemas internos da instituição que Bergoglio tanto apontava. A narrativa se desenvolve a partir dos diálogos dos dois e da tentativa de Bento em convencer Bergoglio a não se aposentar, pois pensa que ele pode ser o próximo Papa.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

Crítica – Pokémon Sword e Shield


Análise Crítica – Pokémon Sword e Shield


Review – Pokémon Sword and Shield
Eu joguei muito Pokémon bem na época que virou febre no início dos anos 2000. Devo ter jogado Pokémon Red/Blue/Yellow do início ao fim uma meia dúzia de vezes e o mesmo para Pokémon Gold/Silver/Crystal e mais algumas para Pokémon Fire Red/ Leaf Green, remakes dos primeiros jogos para Game Boy Advance, além de ter jogado os dois Pokémon Stadium para Nintendo 64. Meu interesse pelos monstrinhos meio que parou por aí e eu nem tive ânimo para jogar Pokémon Ruby/Sapphire até o fim (sim, eu sei que ele saiu antes de Fire Red) e depois não voltei mais para a franquia. Voltei a me interessar com a notícia de que estes Pokémon Sword e Shield sairiam exclusivamente para o Nintendo Switch, o principal console da Nintendo. Longe das limitações dos pequenos portáteis como o 3DS, talvez houvesse potencial para algo com um escopo mais amplo e, de certa forma é exatamente o que acontece.

Como em outros games da franquia, a narrativa é praticamente a mesma. O jogador controla um garoto que deseja se tornar o campeão de sua região, escolhe entre três pokémons iniciais diferentes e depois corre o mundo para coletar insígnias dos diferentes ginásios da região. É básico, é verdade, embora tenham alguns outros elementos como o mistério envolvendo a forma de energia chamada de Dynamax, mas não sai muito o traçado da franquia e não tem problema, ninguém realmente joga Pokémon pela história.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

Crítica – The Witcher: 1ª Temporada


Análise Crítica – The Witcher: 1ª Temporada


Review – The Witcher: 1ª TemporadaApesar de ter se tornado famoso nos games, o universo de The Witcher nasceu na literatura pelas mãos do autor Andrzej Sapkowski. É importante lembrar isso porque essa série produzida pela Netflix é baseada nos livros, que tem algumas diferenças em relação aos games.

A trama é centrada em Geralt de Rívia (Henry Cavill). Geralt é um bruxo, um caçador de monstros que passou por uma série de mutações criadas artificialmente para ampliar suas capacidades físicas e ser capaz de enfrentar toda a sorte de criaturas sobrenaturais. O destino de Geralt muda quando ele conhece a maga Yennefer de Vengerberg (Anya Chalotra) e quando é prometido a tutela da jovem princesa Ciri (Freya Allan), uma garota dotada de poderes misteriosos que despertam a atenção de muitas pessoas perigosas.

A série é bem fiel ao universo cinzento dos livros, no qual bem e mal não existem de maneira absoluta e um ser humano comum pode ser mais vil que qualquer criatura sobrenatural. Geralt caminha por esse universo seguindo um código moral próprio, se recusando a matar monstros que não fazem mal a ninguém e preferindo curar ou restaurar criaturas amaldiçoadas a destruí-las. Nesse sentido Geralt é praticamente um protagonista de narrativas noir, um sujeito duro e cínico que tenta sobreviver e preservar a honra em um ambiente de pouca clareza moral.

quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

Crítica – Star Wars: A Ascensão Skywalker

Análise Crítica – Star Wars: A Ascensão Skywalker


Review – Star Wars: A Ascensão Skywalker
Depois da recepção dividida de Os Últimos Jedi (2017) e da apatia com o qual Han Solo (2018) foi recebido, a impressão é que a Disney fez este Star Wars: A Ascensão Skywalker para dar exatamente o que fãs queriam na esperança de que isso agradasse e tornasse o filme melhor. O resultado, no entanto, é praticamente o inverso, um filme com cara de fanfic mal elaborada que desfaz ou ignora muito do que os dois anteriores fizeram apenas para fazer um fanservice desesperado por medo do fandom. Medo, como Yoda disse uma vez, é o caminho para o lado sombrio.

Na trama, o Imperador Palpatine (Ian McDiarmid) aparentemente retornou e posa uma ameaça para toda galáxia com uma poderosa frota estelar. Palpatine propõe uma aliança com Kylo Ren (Adam Driver), mas para isso Ren deve matar Rey (Daisy Ridley) a última remanescente da Ordem Jedi. Para deter os planos do Imperador a Resistência precisa primeiro descobrir como chegar ao planeta ancestral dos Sith, com Rey, Poe (Oscar Isaac) e Finn (John Boyega) empreendendo uma caçada desesperada por pistas que possam dar indicações do local.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

Crítica – Watchmen (Parte 3 de 3)


Resenha Crítica – Watchmen


Resenha – Watchmen
No texto anterior sobre Watchmen falei como a série explora a questão da história e memória racial dos negros nos Estados Unidos associado à iconografia dos super-heróis. Nessa terceira e última parte vou mostrar como a série adentra ainda mais nesses temas em seus três últimos episódios revelando, inclusive, como a ideia de super-heróis pode estar associada a ideias de soberania nacional ou racial.

Peles e máscaras


O sétimo episódio explora ainda mais o passado de Angela Abar (Regina King), mostrando a infância da personagem no Vietnã e como ela se tornou órfã. É curioso que se a origem de Will remetia à do Superman, aqui a origem de Angela está próxima do Batman, com ela vendo os pais serem assassinados em um crime violento. O passado de Angela nos permite compreender como ela foi impelida ao vigilantismo por uma série de fatores e também o peso que a representatividade tem na vida da personagem.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

Crítica – Watchmen (Parte 2 de 3)


Análise Crítica - Watchmen (Parte 2 de 3)


Review – Watchmen (Parte 2 de 3)
No texto anterior mencionei como Watchmen começava já deixando claro os temas que seriam centrais para sua narrativa e parecia usar um massacre étnico real ocorrido nos Estados Unidos para falar do racismo institucional no país, tentando fazer algumas relações entre isso e a iconografia dos super-heróis. Na primeira parte analisei como, apesar das qualidades, os primeiros episódios não deixavam muito claro exatamente até onde a série queria levar esses temas, mas, conforme a temporada foi se desenvolvendo, se tornou possível ter um melhor vislumbre do caminho que a narrativa queria seguir. Assim como na primeira parte, aviso que o texto pode conter SPOILERS.

Através do espelho


É no quinto episódio que a série começa realmente a decolar e a mostrar até onde deseja levar a complexidade de seus temas. Até então o mistério principal de quem era Will Reeves (Louis Gossett Jr), qual o motivo dele ter matado o chefe de polícia Judd (Don Johnson) ou quem exatamente era a Sétima Kavalaria vinha sendo cozinhada em banho maria enquanto a trama focava em desenvolver seus personagens e o universo ao redor deles. As coisas começam a mudar no quinto capítulo, centrado em Wade/ Lookin Glass (Tim Blake Nelson).

quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

Crítica – Watchmen (Parte 1 de 3)


Análise Crítica – Watchmen (Parte 1 de 3)


Review – Watchmen (Parte 1 de 3)
Fiquei curioso quando a HBO anunciou que faria uma série de Watchmen e que ela seria escrita por Damon Lindelof, uma das mentes responsáveis por Lost. Sempre achei que o material dos quadrinhos, criado por Alan Moore e Dave Gibbons se prestava mais a uma adaptação como série do que como filme, ainda que eu ache que Watchmen: O Filme (2008), de Zack Snyder, tenha feito um trabalho razoavelmente bom.

Meu interesse, no entanto, diminuiu quando descobri que a série não seria uma adaptação direta, mas uma continuação. Watchmen não parecia o tipo de produto que necessitaria de continuação e os quadrinhos basicamente diziam tudo que precisavam dizer para expor sua visão sobre a ideia dos super-heróis. As tentativas da DC em trazer de volta esse universo nos quadrinhos só comprovaram minha impressão, já que todo o material ficou aquém da obra de Moore. Ainda assim, resolvi assistir a série por pura curiosidade e o que encontrei me deixou de queixo caído.

É maravilhoso quando um produto audiovisual não é nada daquilo que você espera e o resultado é muito melhor do que você poderia imaginar. Foi exatamente isso que Watchmen, a série, fez comigo. Quando eu achava que não havia nada mais a ser dito sobre a questão dos super-heróis e nossa cultura, sociedade ou política, a série puxou o tapete sob os meus pés e me mostrou que sim, havia muito a ser dito e ponderado sobre essas questões, criando algo perfeitamente digno do legado da obra de Alan Moore. Na verdade, tenho tanto a dizer sobre a série que decidi dividir minha crítica em três partes, sendo essa a primeira. Aviso que a partir desse ponto podem haver SPOILERS sobre a série.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

Crítica – Esquadrão 6




Nos primeiros dez minutos de Esquadrão 6, novo filme da Netflix dirigido por Michael Bay, seriamente pensei em parar de assistir. Iniciando com uma sequência de ação filmada como uma câmera chacoalhante, uma montagem que corta a cada dois segundos e lens flares (reflexos de luz na lente da câmera) pipocando por todos os cantos do quadro, a produção mais parecia um desconfortável exame de epilepsia do que um filme propriamente dito. Tendo perseverado e assistido até o fim, devo dizer que me arrependi bastante de não desistido nos primeiros dez minutos.

A trama segue um esquadrão secreto criado por Um (Ryan Reynolds), um bilionário que resolveu criar um grupo de operações ilegais para derrubar os “vilões do mundo”. A missão que acompanhamos envolve derrubar Rovach (Lior Raz), ditador de um país do Oriente Médio, e impedi-lo de por as mãos em toneladas de armas químicas.

Os personagens são tão genéricos quanto os números que os nomeiam, seguindo clichês tipo o soldado traumatizado, a espiã fria, o criminoso arrependido e outros elementos que já cansamos de ver. Nesse sentido de nada adianta um elenco de atores carismáticos como Ryan Reynolds, Melanie Laurent ou Corey Hawkins se os personagens e mesmo o desenvolvimento da camaradagem entre eles soa forçado e não merecido.

terça-feira, 17 de dezembro de 2019

Crítica – A Batalha das Correntes


Análise Crítica – A Batalha das Correntes


Review – A Batalha das Correntes
O lançamento deste A Batalha das Correntes no cinema é um daqueles casos que me deixa confuso quanto ao processo de decisão de algumas distribuidoras brasileiras. Filmes celebrados, sucesso de público e crítica, vencedores de prêmios muitas vezes chegam diretamente em home video (um dos casos mais recentes foi Ex Machina), enquanto grandes fracassos ignorados (merecidamente) por múltiplas instâncias de recepção ocupam espaço precioso nas telas de cinema do Brasil.

A Batalha das Correntes se encaixa no segundo caso. Pronto para ser lançado em 2017, o filme entrou num limbo de distribuição (como aconteceu com Amigos Para Sempre) depois que o escândalo envolvendo o produtor Harvey Weinstein tomou as manchetes. Dois anos depois, o filme, que tinha sido pensado para concorrer em festivais e premiações, foi finalmente lançado e a recepção foi de pura apatia. Que um filme que tenha demorado tanto para sair e tenha tido uma recepção tão morna (merecidamente) seja lançado nos cinemas ao invés de serviços de streaming ou coisa assim não tem justificativa. Principalmente quando produtos muito melhores sequer tem chance de chegar a uma sala de cinema.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

Crítica – 11 de Setembro: O Resgate


Análise Crítica – 11 de Setembro: O Resgate


Review – 11 de Setembro: O Resgate
Eu não sei por onde começar a falar de 11 de Setembro: O Resgate. Um projeto tão equivocado e que trata de modo tão aproveitador uma tragédia real que me surpreendo que parentes das vítimas não tenham protestado contra esse filme, embora suspeito de que seja porque a maioria das pessoas sequer saiba que ele exista e talvez seja melhor assim.

A trama se passa durante os atentados de 11 de setembro de 2001 no qual as torres gêmeas do World Trade Center em Nova Iorque foram derrubadas por um ataque terrorista. Apesar de se basear em uma história real, a narrativa segue um grupo de personagens fictícios que fica preso em um dos elevadores durante o ataque às torres. Jeff (Charlie Sheen), Eve (Gina Gershon), Eddie (Luis Guzman), Michael (Wood Harris) e Tina (Olga Fonda). Enquanto estão presos no elevador, eles conversam com a supervisora de segurança Metzie (Whoopi Goldberg), que tenta encontrar um jeito de tirá-los de lá.

É impressionante que um filme sobre pessoas tentando sobreviver a um desastre iminente consiga ser tão chato. Os personagens são unidimensionais, funcionando como uma coleção de clichês, tipo o rico empresário que não presta atenção na família, o trabalhador simplório que só quer voltar para a família, a patricinha materialista, o sujeito com problemas de vício (em jogos de azar, nesse caso) e daí por diante. Eles trocam confidências sobre seus problemas, como uma espécie de Clube dos Cinco (1985) adulto, mas o texto nunca vai além desses dados expositivos. Não há praticamente nenhum aprendizado ou transformação experimentado por esses personagens e todos eles são um tédio de acompanhar.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

Crítica – South Park: 23ª Temporada


Análise Crítica – South Park: 23ª Temporada


Review – South Park: 23ª Temporada
Se a temporada anterior de South Park começou tratando de um tema difícil que estava em evidência no momento ao falar dos tiroteios nas escolas. Esta vigésima terceira temporada começa também tratando um tema difícil, o da prisão de crianças imigrantes no que são, basicamente, campos de concentração. O episódio Mexican Joker lida com a questão tentando mostrar como a xenofobia estadunidense é baseada em medos de uma ameaça inexistente vinda dos imigrantes que se fundamenta em puro racismo. Assim, quando Kyle alerta para as autoridades que manter crianças em jaulas daria origem a um “Coringa mexicano” e o governo aumenta ainda mais a repressão por conta de uma ameaça que não existe.

Do mesmo modo, o episódio tenta mostrar como funcionam os mecanismos de colonialismo quando uma das crianças mexicanas é adotado por uma família branca, os Whites (brancos em inglês) e essa nova família tenta fazer o garoto se esquecer do passado e de sua origem para se tornar um White. A ideia aqui parece ser a de mostrar como a cultura estadunidense só aceita a integração de pessoas que partilham de uma visão de mundo que parte do olhar branco, dominador, normatizando esse olhar e tratando as demais visões de mundo como desviantes e como ameaça. Poderia render algo interessante, mas o texto se prende demais a trocadilhos bobos com a palavra White.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

Crítica – Klaus


Funcionando como uma espécie de “Papai Noel Begins” a animação Klaus tenta imaginar a história de como a figura do Papai Noel se tornou conhecida e como os elementos cercando sua mitologia foram sendo construídos aos poucos. A trama é centrada em Jesper (voz de Jason Schwartzman), um jovem de família rica que não tem nenhum desejo de trabalhar e quer apenas aproveitar a boa vida que a fortuna de seu pai pode lhe proporcionar.

O pai de Jesper, no entanto, quer que ele prove o próprio valor e o envia para chefiar a agência dos correios em uma remota ilha no mar do norte. Se Jesper quiser voltar a sua vida de privilégios, ele precisa entregar seis mil cartas em um ano. O problema é que a vila é habitada por dois clãs que possuem uma rivalidade secular um com o outro e ninguém se interessa por mandar cartas. A situação muda quando Jesper conhece Klaus (voz de J.K Simmons) um lenhador e fabricante de brinquedos que doa brinquedos a crianças que pedem. Jesper então começa a estimular que as crianças enviem cartas a Noel para que consiga atingir a meta de sua agência postal.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

Crítica – Entre Facas e Segredos


Análise Crítica – Entre Facas e Segredos


Review – Entre Facas e Segredos
Apesar de ter se tornado conhecido com a ficção-científica Looper: Assassinos do Futuro (2012) e posteriormente por comandar Star Wars: Os Últimos Jedi (2017), o diretor Rian Johnson já mostrava familiaridade com narrativas policiais em seu primeiro longa-metragem: A Ponta de Um Crime (2005), no qual ele construía uma espécie de noir adolescente. Ele volta ao gênero com este Entre Facas e Segredos, mas ao invés do universo cinzento e bruto das correntes do noir ou do hard-boiled, ele faz algo que brinca com as histórias de detetives diletantes como Hercule Poirot ou Sherlock Holmes.

A trama começa como um típico “mistério do quarto fechado”, com o milionário romancista Harlan Thrombey (Christopher Plummer) sendo encontrado morto sozinho em seu quarto fechado no sótão de sua mansão. A polícia acredita ter sido suicídio, mas o consultor Benoit Blanc (Daniel Craig) suspeita de assassinato e reúne todos os membros da família para tentar descobrir o assassino.

É possível perceber o grande repertório de referências do gênero policial que Johnson exibe aqui, sendo possível identificar elementos de contos protagonizados pelo detetive Auguste Dupin, histórias de Sherlock Holmes ou de Hercule Poirot (dizer quais especificamente seria arriscar entregar spoilers). Apesar de ser possível identificar com clareza as bases do que Johnson faz aqui, seu trabalho nunca soa derivativo, exibindo uma personalidade própria e autoconsciência das estruturas manjadas que está evocando, sendo capaz de apontar os anacronismos desses lugares-comuns e fazer piada com eles. Nesse sentido, o filme acaba sendo simultaneamente uma celebração e uma paródia desses antigos clichês.

terça-feira, 10 de dezembro de 2019

Crítica – Crime Sem Saída


Análise Crítica – Crime Sem Saída


Review – Crime Sem SaídaA impressão inicial é que Crime Sem Saída parecia ser um desses suspenses genéricos que passam nas madrugadas da televisão aberta, no Supercine ou Domingo Maior, e, bem, o resultado final é exatamente isso. A trama acompanha Andre Davis (Chadwick Boseman, que viveu o T’Challa em Pantera Negra), um detetive durão e famoso (ou infame) por querer fazer justiça com as próprias e seguir um código moral próprio. Ele é incumbido de caçar dois bandidos que mataram uma dúzia de policiais em um assalto que deu errado, mas conforme sua investigação progride noite adentro ele começa a desconfiar de um grande esquema de corrupção.

A ideia da polícia fechar todas as entradas e saídas da ilha de Manhattan em Nova Iorque soa relativamente forçada. Sim, tratam-se de assassinos de policiais e a corporação tende a levar isso a sério, mas, ao mesmo tempo, soa uma medida exagerada considerando que são dois bandidinhos de quinta categoria e estamos em uma cidade com traumas muito maiores como terrorismo.

Isso incomodaria menos se o desenvolvimento da trama conseguisse de fato construir uma sensação de suspense e corrida contra o tempo, mas isso não acontece. Existem alguns bons momentos de tensão, como o assalto inicial, no entanto durante boa parte da projeção o texto se apega demais aos clichês do gênero e a soluções previsíveis. Fica evidente desde o início que os policiais mortos são corruptos e coniventes com o tráfico, assim como é bem previsível que Andre será eventualmente traído por uma personagem que acompanha sua investigação.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

Crítica – História de Um Casamento


Análise Crítica – História de Um Casamento


Review – História de Um Casamento
As primeiras cenas de História de um Casamento mostram narrações dos dois protagonistas, Nicole (Scarlett Johansson) e Charlie (Adam Driver), dizendo o que mais amam um no outro. São falas cheias de afeto e admiração que nos fazem entender os motivos dos dois personagens estarem juntos. Essa narração no entanto, é contraposta com as imagens dos dois em uma sessão de mediação na qual deveriam escrever coisas positivas um sobre o outro, as exatas palavras que vimos no começo do filme, mas nenhum deles lê para o outro o que escreveu, escolhendo seguir com a separação.

Esses primeiros quinze minutos servem como uma síntese de toda trama. Uma história sobre o doloroso processo do fim de um relacionamento no qual ambos perdem de vista o fato de que ainda nutrem um sentimento genuíno um pelo outro ainda que tenham optado por não permanecerem mais juntos. No percurso desses personagens, as palavras de carinho nunca ditas são substituídas por palavras agressivas ou acusatórias ditas diretamente um para o outro ou através de advogados. É como se a escolha de não comunicar para o cônjuge seu afeto tenha desgastado a relação ao ponto de que a única coisa que tenham a dizer para o outro sejam ofensas.

Conheçam os indicados ao Globo de Ouro 2020




Foram anunciados hoje, 09 de dezembro, os indicados para a 77ª premiação do Globo de Ouro. A cerimônia acontecerá no dia 05 de janeiro de 2020 e será apresentada pelo comediante Ricky Gervais. Entre os indicados é possível destacar História de um Casamento, que levou seis indicações, além de Coringa e O Irlandês, ambos com quatro menções. Entre os esnobados, que não levaram nenhuma menção, está a minissérie Olhos que Condenam, que venceu vários prêmios Emmy.

Confiram abaixo a lista completa de indicados:


MELHOR FILME DE DRAMA

História de um Casamento
1917
Dois Papas


MELHOR FILME DE MUSICAL OU COMÉDIA

Entre Facas e Segredos
JoJo Rabbit


MELHOR ATRIZ EM FILME DE DRAMA

Cynthia Erivo - Harriet
Scarlett Johansson - História de um Casamento
Saoirse Ronan - Adoráveis Mulheres
Charlize Theron - O Escândalo
Renée Zellweger - Judy


MELHOR ATOR EM FILME DE DRAMA

Christian Bale - Ford vs Ferrari
Antonio Banderas - Dor e Glória
Adam Driver - História de um Casamento
Joaquin Phoenix - Coringa
Jonathan Pryce - Dois Papas


MELHOR ATRIZ EM FILME MUSICAL OU COMÉDIA

Awkwafina - The Farewell
Ana de Armas - Entre Facas e Segredos
Cate Blanchett - Cadê Você, Bernadette?
Beanie Feldstein - Fora de Série
Emma Thompson - Late Night


MELHOR ATOR EM FILME MUSICAL OU COMÉDIA

Daniel Craig - Entre Facas e Segredos
Roman Griffin Davis - Jojo Rabbit
Leonardo DiCaprio - Era Uma Vez em... Hollywood
Taron Egerton - Rocketman
Eddie Murphy - Meu Nome é Dolemite


MELHOR ATRIZ COADJUVANTE

Kathy Bates - Richard Jewell
Annette Bening - The Report
Laura Dern - História de um Casamento
Jennifer Lopez - As Golpistas
Margot Robbie - O Escândalo


MELHOR ATOR COADJUVANTE

Tom Hanks - Um Lindo Dia na Vizinhança
Anthony Hopkins - Dois Papas
Al Pacino - O Irlandês
Joe Pesci - O Irlandês


MELHOR DIREÇÃO

Bong Joon-ho - Parasita
Sam Mendes - 1917
Todd Phillips - Coringa
Martin Scorsese - O Irlandês
Quentin Tarantino - Era Uma Vez em... Hollywood


MELHOR ROTEIRO

Noah Baumbach - História de um Casamento
Bong Joon-ho e Han Jin-won - Parasita
Anthony McCarten - Dois Papas
Quentin Tarantino - Era uma Vez em... Hollywood
Steven Zaillian - O Irlandês


MELHOR FILME ANIMADO

O Rei Leão
Toy Story 4


MELHOR FILME EM LÍNGUA ESTRANGEIRA

The Farewell
Os Miseráveis
Retrato de Uma Jovem em Chamas


MELHOR TRILHA SONORA ORIGINAL

Adoráveis Mulheres
História de um Casamento 
1917
Brooklyn - Sem Pai Nem Mãe


MELHOR CANÇÃO ORIGINAL

"Beautiful Ghosts" (Cats)
"I'm Gonna Love Me Again" (Rocketman)
"Into the Unknown" (Frozen 2)
"Spirit" (O Rei Leão)
"Stand Up" (Harriet)


MELHOR SÉRIE DE DRAMA

Big Little Lies - (HBO)
The Crown - (Netflix)
Killing Eve - (BBC America)
The Morning Show - (Apple TV Plus)
Succession - (HBO)


MELHOR SÉRIE DE COMÉDIA OU MUSICAL

Barry - (HBO)
Fleabag - (Prime Video)
The Kominsky Method - (Netflix)
The Marvelous Mrs. Maisel - (Prime Video)
The Politician - (Netflix)


MELHOR MINISSÉRIE OU FILME PARA TV

Catch 22
Fosse/Verdon
The Loudest Voice


MELHOR ATRIZ EM MINISSÉRIE OU FILME PARA TV

Michelle Williams - Fosse/Verdon
Helen Mirren - Catherine the Great
Merritt Wever - Inacreditável
Kaitlyn Dever - Inacreditável
Joey King - The Act


MELHOR ATOR EM MINISSÉRIE OU FILME PARA TV

Christopher Abbott - Catch-22
Sacha Baron Cohen - The Spy
Russell Crowe - The Loudest Voice
Jared Harris - Chernobyl
Sam Rockwell - Fosse/Verdon


MELHOR ATRIZ EM SÉRIE DE DRAMA

Jennifer Aniston - The Morning Show
Olivia Colman - The Crown
Jodie Comer - Killing Eve
Nicole Kidman - Big Little Lies
Reese Witherspoon - The Morning Show


MELHOR ATOR EM SÉRIE DE DRAMA

Brian Cox - Succession
Kit Harington - Game of Thrones
Rami Malek - Mr. Robot
Tobias Menzies - The Crown
Billy Porter - Pose


MELHOR ATRIZ EM SÉRIE DE COMÉDIA OU MUSICAL

Christina Applegate - Dead to Me
Rachel Brosnahan - The Marvelous Mrs. Maisel
Kirsten Dunst - On Becoming a God in Central Florida
Natasha Lyonne - Russian Doll
Phoebe Waller-Bridge - Fleabag


MELHOR ATOR EM SÉRIE DE COMÉDIA OU MUSICAL

Michael Douglas - The Kominsky Method
Bill Hader - Barry
Ben Platt - The Politician
Paul Rudd - Living with Yourself
Ramy Youssef - Ramy


MELHOR ATRIZ COADJUVANTE EM MINISSÉRIE OU FILME PARA TV

Patricia Arquette - The Act
Helena Bonham Carter - The Crown
Toni Collette - Inacreditável
Meryl Streep - Big Little Lies
Emily Watson - Chernobyl


MELHOR ATOR COADJUVANTE EM MINISSÉRIE OU FILME PARA TV

Alan Arkin - O Método Kominsky
Kieran Culkin - Succession
Andrew Scott - Fleabag
Stellan Skarsgård - Chernobyl
Henry Winkler - Barry

sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

Crítica – Frozen 2


Análise Crítica – Frozen 2


Review – Frozen 2
Eu adoro o primeiro Frozen (2013) e o modo como ele se apropriava de uma típica estrutura narrativa de filmes de princesa da Disney e virava boa parte dos elementos conhecidos de ponta à cabeça. Era um filme que resolvia muito bem todas as suas tramas, mas fez rios de dinheiro e era inevitável que a casa do Mickey resolvesse fazer uma continuação. O temor é que este Frozen 2 não tivesse nada a dizer sobre esse universo e personagens, mas consegue encontrar ideias interessantes, ainda que tenha problemas de ritmo.

Na trama, Elsa começa a ouvir um estranho chamado da floresta e lembra de uma história que seus pais contaram sobre uma floresta mística na qual espíritos elementais perigosos foram selados. Ao interagir com a estranha canção da floresta, Elsa liberta os espíritos dos elementos e, com isso, coloca o todo o reino de Arendelle em risco. Agora ela, Anna, Kristoff, Olaf e Sven precisam viajar até a floresta mística para desvendar seus mistérios.

A narrativa tem o mesmo problema de Valente (2012) no sentido de que demora a encontrar o que quer fazer com seus personagens e quais ideias quer transmitir. A primeira meia hora é uma sucessão de diálogos expositivos e gags cômicas que, embora divertidas, fazem pouco para avançar a narrativa ou desenvolver os personagens. Se ocorresse algum problema na projeção antes de chegar na metade e a sessão tivesse que ser encerrada, eu sequer seria capaz de identificar sobre o que é o filme ou qual o arco narrativo desses personagens.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

Crítica – Eu, a Vó e a Boi


Análise Crítica – Eu, a Vó e a Boi


Review – Eu, a Vó e a Boi
Em 2017, o internauta Eduardo Hanzo viralizou no Twitter ao contar a insólita história da rivalidade entre a avó dele e uma vizinha. Era uma animosidade que se estendia por décadas e envolvia esquemas e peças que pareciam saídas diretamente de uma sitcom televisiva. Provavelmente foi essa impressão de que a realidade pode ser mais estranha que a ficção que chamou tanto a atenção do público. Parecia algo pronto para ser adaptado para o cinema ou televisão e a série Eu, a Vó e a Boi é exatamente isso.

A trama é centrada em Roblou (Daniel Rangel) que narra a rivalidade entre as duas avós, Turandot (Arlete Salles), com quem ele mora, e Yolanda (Vera Holtz), a quem Turandot se refere como Boi por achar “vaca” um xingamento machista. As duas moram frente a frente na mesma rua e se odeiam há anos. Com muito tempo livre nas mãos, se dedicam a infernizar a vida da outra.

O primeiro episódio da série é mais focado na rivalidade das duas e acerta no clima de absurdo conforme Turandot e Boi inventam esquemas malucos para tirar uma a outra do sério. Recorrendo a diálogos e situações tiradas diretamente dos tweets de 2017, o episódio tem o clima de absurdo e comicidade que se esperava de uma série sobre duas velhinhas rabugentas que se detestam e apontava para uma comédia promissora.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

Crítica – Atlantique


Análise Crítica – Atlantique


Review – Atlantique
O cinema já produziu inúmeros filmes sobre a questão de imigrantes africanos tentando chegar à Europa de barco em condições precárias. São filmes normalmente voltados para o perigo da jornada, a dificuldade de se adaptar ao novo país e normalmente são feitos pelos mesmos países europeus que recebem esses migrantes, contando essas histórias sob o ponto de vista europeu. Este Atlantique, dirigido pela senegalesa Mati Diop, segue na contramão dessas tendências, tecendo sua trama do ponto de vista africano e do ponto de vista não dos que viajam, mas dos que ficam.

O filme se passa em Dacar, capital do Senegal, e conta a história de Souleiman (Traore) um trabalhador de construção civil que, depois de meses sem receber, deixa o emprego na construção de um grande arranha-céu para tentar ir para a Europa de barco com outros colegas de trabalho. Souleiman está romanticamente envolvido e apaixonado por Ada (Mame Bineta Sane), que, por sua vez, está prometida ao rico Omar (Babacar Sylla) por conta de um casamento arranjado pelos pais dela. Um tempo depois da partida de Souleiman e os outros trabalhadores, eventos estranhos começam a acontecer na cidade.

terça-feira, 3 de dezembro de 2019

Crítica – As Golpistas


Análise Crítica – As Golpistas


Review – As Golpistas
Baseado em uma insólita história real, As Golpistas parece, na superfície, um daqueles filmes disposto a reduzir todo o acontecimento a puro entretenimento, mas felizmente não é isso o que acontece. A trama consegue encontrar uma boa dose de humanidade em suas personagens e entende a complexidade da situação em que elas estão.

A narrativa é centrada em Destiny (Constance Wu) uma jovem que se torna stripper quando precisa sustentar a avó. O dinheiro que ela ganha dançando mal dá para pagar as contas, já que, de tudo que ela recebe, várias pessoas da boate acabam levando uma parte. As coisas começam a mudar quando ela conhece a veterana Ramona (Jennifer Lopez) que a ensina a pegar clientes mais ricos. Anos depois, Destiny casa e tem uma filha, mas quando é deixada pelo marido, acaba tendo que voltar a ser stripper. Ramona, no entanto, propõe um novo esquema, de pegar clientes ricos, drogá-los e depois fazer cobranças de valores altos em seus cartões na boate, fazendo tudo parecer uma noitada de farra.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

Crítica – O Juízo


Análise Crítica – O Juízo


Review – O Juízo
Eu constantemente falo aqui como um dos problemas de se fazer cinema de gênero no Brasil é que muitas vezes os realizadores simplesmente tentam aplicar as formas e estruturas hollywoodianas típicas desses gêneros sem tentar entender como esses formatos se adequam ou não à realidade brasileira. O Caseiro (2016) tentava reproduzir a fórmula de um terror de “casa mal assombrada” sem muito que pudesse diferenciar do que é comumente feito nos EUA. Nesse sentido, este O Juízo era bem promissor ao pegar essa premissa e tentar contar uma história mais calcada em elementos da realidade história brasileiras.

Na trama, Augusto (Felipe Camargo) se muda com a esposa, Teresa (Carol Castro), e o filho adolescente, Marinho (Joaquim Torres Waddington), para a dilapidada propriedade rural da família no interior. Augusto está endividado e propriedade é a única coisa que lhe resta e sua única oportunidade de se reerguer. Chegando lá, Augusto e seu filho começam a receber a visita de um homem estranho (Criolo) que chega oferecendo a oportunidade de encontrar diamantes nas terras do local.