Rebelião das máquinas
A narrativa começa quando o governo perde o controle de Amelia (Ivanna Sakhno), um robô de ataque criado a partir de ideias semelhantes às de Megan. Gemma (Allison Williams) e Cady (Violet McGraw) são identificadas como alvos potenciais de Amelia e passam a ser vigiadas pelo governo, mas as autoridades logo se mostram incapazes de protegê-las. É então que Gemma é contatada por Megan, cuja consciência ainda existe em espaços digitais. Megan pede a Gemma que construa para ela um novo corpo para que ela possa continuar cumprindo sua diretriz primária: tomar conta de Cady. Sem escolha, Gemma cria um novo corpo para Megan enfrentar Amelia.
Se o primeiro filme era Brinquedo Assassino (1988), o segundo é Exterminador do Futuro 2 (1991) ao tornar o vilã do primeiro filme em uma anti-heroína com a missão de proteger os humanos de uma máquina de matar ainda mais avançada. É uma mudança de abordagem que tenta evitar que a continuação seja mais do mesmo, mas isso não significa que não tenha problemas. A ação por vezes sofre com uma computação gráfica artificial, como na cena em que Megan salta com um wingsuit e as coreografias de luta, ainda que bem filmadas, não dão a medida exata da brutalidade dessas máquinas assassinas pela falta de sangue e gore. O primeiro filme já tinha um pouco disso, é verdade, no entanto conseguia contornar a ausência de uma violência mais explícita com uma criatividade que criava momentos de agonia mesmo sem mostrar muito.
Sim, a boneca Megan continua sendo uma personagem interessante por conta de sua personalidade afrontosa e direta, principalmente no modo como usa sarcasmo para constantemente provocar Gemma. A questão é que ela merecia um material melhor para fazer jus ao seu potencial, já que não é apenas no quesito da ação que o filme decepciona, também há o modo pelo qual ele reflete sobre a presença de IA no mundo contemporâneo.
Mensagem confusa
A reviravolta envolvendo quem estava por trás de Amelia é bem previsível. A narrativa tenta fazer do vilão uma espécie de ludita do século XXI que quer destruir tecnologia por achar que só há desdobramentos negativos por trás dos desenvolvimentos tecnológicos. É um ponto de vista que até poderia render uma discussão interessante no contexto atual no qual o desenvolvimento tecnológico e de IA está vinculado a interesses de lucro de um punhado de grandes empresas e não necessariamente na melhora da sociedade. Digo poderia porque o plano do vilão não faz muito sentido e não soa crível em seu objetivo de conseguir que a ONU promova uma proibição global de IA e artefatos similares.
O discurso final de Gemma, de que ela talvez tivesse sido radical demais em relação à sua postura anti-IA é igualmente problemático. Novamente é uma instância em que poderia haver alguma discussão interessante sobre tecnologia, pensando a partir de ideias de transhumanismo ou pós-humanismo, no entanto o resultado que o filme apresenta é no mínimo ingênuo. A ideia de que basta “ensinar melhor” as IAs num contexto em que essas ferramentas estão sendo desenvolvidas por instâncias que pouco se importam com os impactos dessa tecnologia e visam somente o lucro soa desconectada com o contexto no qual esses debates vem acontecendo e não leva em consideração o fato de que essas ferramentas que estão sendo usadas para precarizar a vida de tanta gente estão fazendo exatamente o que elas foram desenhadas para fazer.
Nota: 5/10
Trailer
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