quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

Crítica – Ameaça Profunda


Análise Crítica – Ameaça Profunda


Review – Ameaça Profunda
Na mesma semana que estreia Kursk: A Última Missão também chega aos cinemas outro filme sobre pessoas presas em uma instalação submarina neste Ameaça Profunda. Não que eles vão competir diretamente por público, já que o primeiro é um drama baseado em uma história real e o segundo é uma ficção de terror, mas não deixa de ser curioso que dois filmes com ambientação parecida estreiem no mesmo dia.

A trama é centrada em Norah (Kristen Stewart), uma engenheira mecânica que fica presa em uma instalação submarina de perfuração em um dos pontos mais profundos do oceano. Depois que um aparente terremoto destrói parte do complexo, ela e mais alguns sobreviventes precisam achar alguma maneira de escapar.

O início tenta criar algum suspense acerca do que está acontecendo, mas como alguns letreiros durante os créditos iniciais já falam que criaturas estranhas estavam sendo avistadas ao redor da instalação, então fica óbvio desde o início que eles não estão diante de um desastre natural, mas de algum horror abissal saído das profundezas. A falta de qualquer construção de atmosfera e tensão é um problema que acompanha o filme em sua integralidade, já que ao invés de ir trabalhando o suspense, o filme opta pelo choque fácil de jogar a esmo sustos surpresa na tela.

Esses jumpscares nunca funcionam porque são bastante previsíveis. Basta a câmera se deter por mais tempo que o normal em algum canto escuro que já sei que algum bicho ou cadáver vai pular na tela. Como é fácil prever a vinda dos sustos, eles nunca conseguem surtir o efeito desejado. Não ajuda que as mortes também falhem em chocar ou impressionar como deveriam. O mesmo pode ser dito das criaturas, cujo visual muitas vezes remete a monstros de outros filmes de terror, como Alien: O Oitavo Passageiro (1979), com a gigantesca criatura que aparece no final sendo a única exceção em termos de inventividade visual.

Falando em Alien, fica relativamente a ambição da fita em ser uma espécie de versão submarina do filme de Ridley Scott, mas Ameaça Profunda carece de substância para tal tanto em termos da criação de um sentimento de temor, quanto de desenvolvimento de personagem ou de universo. Ainda assim o filme insiste em reproduzir imagens chave da obra de Scott, como a cena em que Norah e os demais examinam uma criatura em cima de uma mesa, remetendo a cena da mesa em Alien, ou as cenas de Nora caminhando pela instalação apenas de calcinha e sutiã de maneira muito similar à Ripley vivida por Sigourney Weaver.

Os diálogos são predominantemente expositivos, com os personagens explicando não só o que está acontecendo, como o que sentem e o que pensam. Tudo é dito, mas nada é efetivamente sentido. Se dois personagens não falassem explicitamente que estão em um relacionamento, seria impossível deduzir tal informação, já que eles nunca demonstram isso. Do mesmo modo, se Norah não falasse do seu pesar pela morte do noivo, nunca teríamos como saber como a personagem está se sentindo.

Aliás, todo esse arco do trauma afetivo da personagem é porcamente desenvolvido, sendo esquecido durante boa parte do filme e só retornando nos últimos minutos para justificar uma decisão da personagem que não careceria desses elementos para ser justificada. No final, toda a questão afetiva dela faz pouca diferença. O comediante T.J completa o elenco e faz o mesmo tipo engraçadinho que faz em toda produção da qual participa, no entanto o problema é menos a repetição e mais o modo como o texto faz dele um sujeito tão inconveniente que eu efetivamente torci para que ele morresse logo.

Apesar de toda a exposição contida nos diálogos, o texto é incapaz de nos fazer entender a lógica espacial daquelas instalações submarinas, como funciona ou qual a especialidade de cada personagem. O que faz todo esse universo soar vago, frouxamente desenvolvido e carecendo de personalidade própria. A própria corporação para a qual os personagens trabalham que parece fazer questão de ocultar os incidentes soa como uma reprodução da Weyland-Yutani de Alien.

Ameaça Profunda é, portanto, um terror vazio, genérico e incapaz de causar medo ou tensão.

Nota: 3/10

Trailer

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