domingo, 12 de janeiro de 2020

Crítica – Titãs: 2ª Temporada


Análise Crítica – Titãs: 2ª Temporada


Review – Titãs: 2ª Temporada
Ao escrever sobre a primeira temporada de Titãs, mencionei como o forte da série era a maneira como trabalhava as relações entre seus personagens e como fazia aqueles indivíduos imperfeitos e problemáticos conseguirem superar seus problemas em conjunto. Essa segunda temporada mantém o foco naquilo que o ano de estreia fez tão bem, no entanto, repete também muitos dos problemas do primeiro ano.

A narrativa recomeça no ponto onde a anterior parou, com o demoníaco Trigon (Seamus Dever) tomando o controle de Dick (Brenton Thwaites) para usá-lo contra Rachel (Teagan Croft) enquanto os demais membros da equipe tentam penetrar na barreira mágica que isola a casa na qual estão. Enfrentar Trigon é só o começo dos problemas dos Titãs, já que as ações da equipe chamam a atenção de um antigo inimigo de Dick, o letal Slade Wilson (Esai Morales).

Se a temporada focava na ruptura de Dick com Bruce Wayne (Iain Glen) e sua tentativa em ser diferente de seu tutor, essa segunda mostra os erros que Dick cometeu pelo caminho e como sua dedicação obsessiva à missão causou danos irreparáveis nele e nos outros Titãs. Essa bagagem emocional vem à tona com a tentativa de criar um novo grupo de Titãs ao treinar Gar (Ryan Potter), Rachel e Jason (Curran Walters) e também com o resgate de Rose (Chelsea Zhang), a filha de Slade que aparentemente estava sendo caçada por ele.

O confronto com Slade e o trauma que Dick e os antigos Titãs, Donna (Conor Leslie), Hank (Alan Ritchson) e Dawn (Minka Kelly) leva Dick a retornar aos hábitos que tanto rejeita de tentar agir como Bruce Wayne, atuando sozinho, guardando segredos e afastando as pessoas importantes ao seu redor. A trama é eficiente em mostrar como a postura solitária e rígida de Dick aliena as pessoas ao seu redor ao mesmo tempo que consegue justificar de maneira crível os motivos do personagem para agir de tal maneira. O arco dele é sobre o ciclo de trauma e como um indivíduo machucado pela vida acaba invariavelmente machucando os outros.

Considerando que o ator Manu Bennet tinha sido um ótimo Slade nas duas primeira de Arrow, tinha minhas dúvidas se Esai Morales conseguiria fazer sua própria versão do personagem ser uma ameaça convincente para a equipe de heróis. O ator, no entanto, é hábil em nos convencer de que Slade é um homem extremamente focado e inteligente, com ampla capacidade de antecipação e planejamento, além de um oponente formidável em combate. Assim, seu Slade é alguém que nos faz temer pelo destino dos heróis sempre que está em cena.

Se a construção deste arco é competente, o mesmo não pode ser dito pela maneira como a série amarra todas essas histórias. O plano de Slade soa estranhamente suave para um sujeito que é um assassino implacável. Eu entendo que ele queira fazer Dick se sentir solitário e desamparado, mas apenas separar os Titãs não soa suficiente como vingança, afinal relações sempre podem ser consertadas e deixar todos vivos deixaria em aberto a possibilidade de que a equipe reunida poderia eventualmente derrotá-lo (o tipo de plano que soa feito de propósito para fracassar). Seria mais cruel matar todos os demais Titãs e apenas deixar Dick vivo para que ele vivesse carregando consigo a solidão e o arrependimento.

Do mesmo modo, o arco de Dick acaba falhando na apresentação de sua nova identidade de herói. Se a ideia dele se tornar o Asa Noturna seria forjar algo para si mesmo divorciado da influência de Bruce, ainda que logicamente impactado pelo convívio com ele, ao mostrar que Dick praticamente recebe seu novo uniforme pronto por colaboradores do antigo mentor, o texto vai na contramão de suas próprias ideias para o personagem ao demonstrar que Dick ainda é dependente e tem sua identidade construída por Bruce. Claro, seria inevitável que a tecnologia para os novos equipamentos de Dick viessem das Indústrias Wayne e seus colaboradores, mas a série poderia ao menos colocar Dick como uma força ativa no processo, colocando-o para tomar as decisões de como seria seu novo uniforme ao invés de colocar o personagem para receber tudo de mão beijada.

Já o arco de Kory (Anna Diop) soa distanciado demais do resto das tramas da temporada para causar algum impacto e acaba soando mais como um grande teaser de um conflito que ainda está por vir do que como uma narrativa feita para impactar a história presente daqueles personagens. Como toda a história envolvendo o planeta natal dela acontece fora de câmera e é apenas explicada à personagem através de diálogos, todo o drama dessa narrativa acaba desprovido de impacto.

O final da temporada também entrega uma morte que carece de impacto de tão súbita e forçada que é apresentada. A impressão é que essa morte é colocada apenas para chocar o espectador sem ter muito a contribuir para os temas principais da trama. Como imediatamente depois dessa morte Rachel levanta a possibilidade de ser capaz de revertê-la, o expediente de matar um personagem importante soa ainda mais apelativo e jogado de qualquer maneira. A ideia parecia mostrar as consequências inesperadas que as ações dos heróis geram, mas todo o arco envolvendo Slade já dizia exatamente isso, então não há muito que essa morte tenha a dizer nesse aspecto.

Outro problema é que a série mantem a mesma estrutura truncada da temporada anterior. Sempre que a narrativa parece estar caminhando e um episódio termina em um grande gancho, a série insere logo depois um episódio que é inteiro em flashback ou apresentando algum novo personagem. Tudo isso quebra o ritmo da trama e teria sido melhor integrar os flashbacks durante os episódios, como fazia Arrow, por exemplo, ao invés de ter que parar tudo apenas para nos explicar o passado dos personagens.

As cenas de luta continuam competentes e bem filmadas e alguns efeitos especiais, como os poderes de Kory ou Rachel até tiveram uma melhora em relação ao que eram antes. Por outro lado, criaturas inteiramente digitais como a forma demoníaca de Trigon ou a transformação de Gar em tigre continuam parecendo demasiadamente artificiais e claramente divorciadas daquele mesmo plano de realidade.

Tal como no primeiro ano, a segunda temporada de Titãs acerta na construção da relação entre seus protagonistas e dos traumas que carregam, mas ainda não consegue entregar desfechos que sejam consistentes com as jornadas que constroem.

Nota: 6/10

Trailer

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