domingo, 13 de janeiro de 2019

Crítica - Titãs: 1ª Temporada

Análise Crítica - Titãs: 1ª Temporada


Review - Titãs: 1ª Temporada
O primeiro trailer de Titãs não me deixou nem um pouco interessado na série. Assim como os recentes filmes do Zack Snyder no universo DC, a prévia parecia confundir a exibição de violência e sombras com sinônimo de maturidade quando violência ou palavrões por si só não tornam nada complexo ou maduro. Felizmente o produto final não chega a ser o que a divulgação dava a entender e esta primeira temporada é razoavelmente aproveitável.

A temporada começa com Dick Grayson (Brenton Thwaites), agora um policial, chegando à cidade de Detroit e tendo que lidar com o seu afastamento de Bruce Wayne/Batman, assim como a possibilidade de deixar o manto de Robin. Enquanto isso, a jovem Rachel (Teagan Croft) tem dificuldade em controlar seus recém descobertos poderes e começa a ser caçada por um estranho culto. Ela começa a ter visões envolvendo Dick e pensa que ele pode ajuda-la. Ao mesmo tempo, Kory Anders (Anna Diop) acorda de um acidente de carro sem memória de quem é e a única coisa que tem consigo é uma foto de Rachel, assim ela tenta encontrar a garota na esperança de descobrir sua própria identidade.


Apesar de alguns excessos como a tortura de Kory no sétimo episódio ou a infame frase “foda-se o Batman” no episódio piloto, a violência ou linguagem gráfica raramente soa despropositada e os personagens constantemente são confrontados com as consequências de seu comportamento e ponderam sobre essas repercussões, diferente do que acontecia, por exemplo, nos filmes do Zack Snyder, no qual o fato do Superman matar Zod em O Homem de Aço (2013) nunca causa qualquer efeito no personagem.

Boa parte da violência vem de Dick, o único do grupo que é um super-herói experiente, e que questiona o quanto sua vida com Bruce contribuiu para que ele se tornasse quem é ou quanto disso é seu próprio lado sombrio. Dick acaba sendo o personagem melhor desenvolvido da temporada, tendo tanta atenção da narrativa que por vezes seus conflitos soam redundantes. As alucinações dele no sétimo episódio, por exemplo, tem pouco a desenvolver seu conflito interno que o episódio anterior não tenha feito ao explorar a relação de Dick com Jason Todd (Curran Walters), que é basicamente o que Dick seria se não tivesse uma bússola moral.

A complexidade da relação entre Dick e Bruce também emerge do encontro com Jason, mostrando Dick surpreso pelo Batman já ter conseguido um novo parceiro, se comportando como uma pessoa que descobre que a ex-namorada engatou uma nova relação pouco depois do término. A atitude de Dick mostra o quanto ele ainda é ligado a Bruce, por mais que se ressinta dele.

Rachel, que os fãs dos quadrinhos sabem que se tornará a heroína Ravena, é outra personagem bem desenvolvida, trabalhando seu senso de isolamento por desconhecer sua origem e o medo a respeito de seus poderes. Kory, por outro lado, fica presa ao clichê da amnésia e tem pouco a fazer além de funcionar como um contraponto à atitude sorumbática de Dick graças a sua personalidade direta e seu senso de humor, ajudando a humanizar o hesitante Robin. Gar (Ryan Potter) acaba tendo pouco espaço, recebendo apenas algumas interações significativas com Rachel e uma cena com Kory quando viajam em um trem.

Gar é ainda prejudicado pelos efeitos especiais irregulares que dão vida à sua forma animal, que nunca parece pertencer ao mesmo nível de realidade de todo resto. Kory e Rachel também são prejudicadas por efeitos especiais pouco convincentes, com o visual dos poderes de Rachel parecendo algo saído de algum filme de terror ruim, nunca soando sinistro ou assustador como o texto pretende. Na verdade, os poderes dela tem mais impacto quando usados com sutileza como quando ela abre uma ferida na garganta de um personagem. As coreografias de luta das cenas protagonizadas por Dick e outros heróis sem poderes, no entanto, são muito bem executadas e ajudam a enxergarmos o Robin como um combatente imponente e bruto.

Outro problema constante é a falta de foco da trama, que por vezes tergiversa em episódios que existem mais para introduzir novos personagens com potencial de terem suas próprias séries do que para desenvolver os protagonistas. Isso acontece tanto nos dois episódios focados na dupla Rapina (Alam Ritchson) e Columba (Minka Kelly) quanto no da Patrulha do Destino. Algumas introduções, entanto, conseguem integrar melhor a construção do universo com a da trama, a exemplo do já citado episódio com Jason Todd e também a introdução de Donna Troy (Conor Leslie), que funciona como uma irmã mais velha de Dick.

O final da temporada falha em amarrar as muitas pontas soltas, nunca soando como um desfecho propriamente dito (o final do penúltimo episódio funcionaria melhor como final de temporada) ao explorar a realidade ilusória na qual Dick é preso por Trigon. O primeiro problema é que tem pouco a acrescentar sobre o conflito do personagem, podendo ter sido abreviado para explorar o que acontecia com os demais. O segundo problema são as interações entre Dick e Bruce/Batman.

Eu entendo que a decisão de nunca vermos ou ouvirmos Bruce provavelmente não foi da equipe criativa da série e sim dos figurões da Warner/DC (que não faz muito sentido, considerando que temos um Flash nas séries e outro no cinema), mas se Bruce vai ser alguém com quem os personagens interagem diretamente e com o qual precisamos ficar investidos emocionalmente, ele não pode ser uma silhueta nas sombras ou ficar constantemente mudo e fora de foco. Não conseguimos nos importar com o conflito entre Dick e Bruce porque Brenton Thwaites está o tempo todo contracenando com o vazio e supondo o que Bruce está pensando já que ele nunca fala nada. Se a série vai continuar a colocar Bruce para aparecer, ele precisa ser interpretado por alguém, nem que seja ao menos a voz, para que o percebamos como um sujeito real.

Assim, a primeira temporada de Titãs é um começo promissor para a equipe de jovens heróis, ainda que prejudicada por irregularidades no fluxo narrativo e no desenvolvimento de personagens.


Nota: 6/10

Trailer


Um comentário:

Bruno Porciuncula disse...

Concordo com o relator... hehehe o episódio com a Patrulha do Destino eu até gostei pq foi natural. O de Rapina e Columba não acrescentou nada à trama central... e realmenre Bruce deveria falar. Já ta na hora de colocar Batman ali.. adinal, ali é outro universo. E, além de Flash, que vc citou, temos o Superman na Supergirl... e aquela cena pós-crédito? Mais um herói para a 2a temoorada (ou dois, já que tem o Supercão)