segunda-feira, 21 de julho de 2025

Crítica – Iracema: Uma Transa Amazônica

 

Análise Crítica – Iracema: Uma Transa Amazônica

Review – Iracema: Uma Transa Amazônica
Realizado por Orlando Senna e Jorge Bodanzky e lançado em 1975 Iracema: Uma Transa Amazônica chegou a ser proibido pela ditadura militar por muitos anos e só foi lançado no Brasil em 1981. Hoje o filme recebe uma restauração em 4K para voltar aos cinemas e revisitá-lo agora traz a constatação melancólica de que muito pouco mudou no país entre os cinquenta anos que separam sua produção do seu retorno às salas de cinema.

Mitos desconstruídos

A narrativa acompanha o caminhoneiro Tião Brasil Grande (Paulo César Peréio) que vai para o norte do Brasil por conta da promessa de progresso e riqueza que a rodovia Transamazônica (oficialmente a BR-230) supostamente traria. Chegando lá ele conhece Iracema (Edna de Cássia), uma adolescente indígena que sobrevive de prostituição, e a leva consigo em suas viagens pelo norte. É um filme que mistura atores e cenas encenadas com personagens reais, colocando Peréio para interagir com pessoas da região enquanto dialoga sobre o suposto progresso que o governo militar diz estar acontecendo por conta da obra da rodovia.

sexta-feira, 18 de julho de 2025

Crítica - Apocalipse nos Trópicos

 

Análise Crítica - Apocalipse nos Trópicos

Em Democracia em Vertigem (2019) a diretora Petra Costa narra a queda de Dilma Roussef da presidência com grande vigor arquivístico, mas que se acomodava em fazer de sua narrativa uma grande bricolagem de vários momentos chave que foram narrados continuamente no noticiário político brasileiro sem oferecer muito em termos de uma nova perspectiva ou de uma grande sacada interpretativa que contribuísse para uma compreensão mais aprofundada dos fatos. Neste Apocalipse nos Trópicos a diretora se propõe a fazer um mergulho no ambiente da direita conservadora, principalmente àquela ligada a igrejas neopentecostais, para melhor entender a ascensão desse grupo na política brasileira.

Repetição histórica

Digo que o filme propõe esse mergulho porque ele fica na proposta apenas. A ideia de um debate para tentar compreender a ascensão da direita evangélica e sua adesão ao bolsonarismo é logo abandonada para que a diretora basicamente repita os mesmos procedimentos de Democracia em Vertigem, um apanhado de imagens de arquivo e outras registradas pela diretora que recapitulam momentos chave da vida política brasileira que tiveram bastante exposição midiática nos últimos anos, tudo embalado por uma narração sussurrante, lamuriosa que fala através de platitudes que explicitam o óbvio das imagens.

quinta-feira, 17 de julho de 2025

Crítica – Y2K: O Bug do Milênio

 

Análise Crítica – Y2K: O Bug do Milênio

Review – Y2K: O Bug do Milênio
Quem viveu o final dos anos 90 se lembra do pânico sobre o bug do milênio. O temor de que quando os sistemas de computadores fizessem a passagem do 99 para o 00 do 2000 geraria uma pane nos sistemas que poderia causar uma série de problemas. O filme Y2K: O Bug do Milênio tenta falar desse medo em uma trama que mistura terror e comédia, mas não sai bem sucedido nesses esforços.

Rebelião das máquinas

A narrativa é centrada em Eli (Jaeden Martell) que junto com o melhor amigo Danny (Julian Dennison) pensam em como pegar garotas na festa de ano novo da escola que vai marcar a virada para o ano 2000. Eli pensa em se aproximar de Laura (Rachel Zegler), a garota popular por quem é apaixonado, mas assim que chega a meia-noite os computadores ganham autonomia e começam a matar pessoas. Agora eles precisam sobreviver.

terça-feira, 15 de julho de 2025

Drops – Chefes de Estado

 

Crítica – Chefes de Estado

Review – Chefes de Estado
É curioso como às vezes ideias similares são produzidas quase que ao mesmo tempo em Hollywood. Meses atrás a Amazon lançou G20, filme que trazia Viola Davis como presidente enfrentando uma ameaça terrorista. Agora, a mesma Amazon lança outro filme com líderes mundiais partindo para a ação neste Chefes de Estado.

Relacionamento especial

Assim como G20, a trama de Chefes de Estado é muito idiota e não se preocupa muito em ser crível ou realista. A diferença é que aqui ao invés de se levar à sério como G20 fez, o filme tem plena consciência de sua idiotice e assume o compromisso com a diversão sem noção. O filme acompanha Will (John Cena), astro de cinema recém eleito presidente dos Estados Unidos, e Sam (Idris Elba), primeiro ministro britânico. Quando os dois são atacados em uma viagem diplomática, precisam se unir para sobreviver a despeito de suas personalidades conflitantes e desvendar quem está por trás da conspiração. Ao longo do percurso eles terão ajuda da agente Noel (Priyanka Chopra).

segunda-feira, 14 de julho de 2025

Crítica – Karate Kid: Lendas

 

Análise Crítica – Karate Kid: Lendas

Review – Karate Kid: Lendas
A série Cobra Kai conseguiu ressuscitar a franquia Karate Kid quando ela parecia morta, já que mesmo uma tentativa de remake estrelada por Jackie Chan (inexplicavelmente trocando caratê por kung fu a despeito do título se manter) não chegou a decolar embora não tenha sido um fracasso. Com Cobra Kai se encerrando depois de se alongar demais, a franquia volta aos cinemas neste Karate Kid: Lendas, que reúne o Sr. Han (Jackie Chan) do remake com Daniel Larusso (Ralph Macchio).

Novo protagonista, mesma história

A narrativa é encabeçada por Li Fong (Ben Wang), estudante e sobrinho do Sr. Han que se muda da China para os Estados Unidos depois que sua mãe consegue um emprego em um hospital em Nova Iorque. Lá ele se aproxima da garota Mia (Sadie Stanley) e do pai dela, Victor (Joshua Jackson), dono de uma pizzaria no bairro. Quando Li descobre que Victor está devendo para pessoas perigosas e vai tentar recuperar o dinheiro em uma luta de boxe, Li decide ajudar Victor a treinar com seu conhecimento de Kung Fu. Ao mesmo tempo, ele disputa a atenção de Mia com o valentão Conor (Aramis Knight).

sexta-feira, 11 de julho de 2025

Drops – Desastre Total: Cruzeiro do Cocô

 

Crítica – Desastre Total: Cruzeiro do Cocô

Review – Desastre Total: Cruzeiro do Cocô
Parte do selo Desastre Total da Netflix, que compreende documentários sobre catástrofes ou eventos controversos, Cruzeiro do Cocô narra um desastre marítimo ocorrido em 2013 que mobilizou a imprensa dos Estados Unidos.

Viagem de merda

O documentário conta a história do navio de cruzeiro Carnival Triumph que em 2013 sofreu um incêndio na casa de máquinas que destruiu os geradores de energia da embarcação e a deixou sem energia. Como até mesmo a descarga das privadas dependiam de geradores para funcionar, os passageiros sequer conseguiam usar o banheiro direito. Soma-se isso a uma demora da empresa que gerenciava o cruzeiro em mandar um reboque para trazer a embarcação de volta a um porto próximo, temos um grande desastre que colocou a vida de todos em risco.

quinta-feira, 10 de julho de 2025

Crítica – Cuckoo: O Medo Chama

 

Análise Crítica – Cuckoo: O Medo Chama

Review – Cuckoo: O Medo Chama
Estrelado por Hunter Schafer, Cuckoo: O Medo Chama cria uma misteriosa atmosfera de horror para sua história, mas conforme progride não consegue dar conta dos múltiplos temas que tenta abordar. A narrativa é centrada em Gretchen (Hunter Schafer), uma jovem que se muda para a Alemanha com o pai, Luis (Marton Csokas), a madastra, Beth (Jessica Henwick), e a irmã caçula Alma (Mila Lieu), que desde que nasceu nunca conseguiu falar. Luis vai para o país a trabalho, para reformar o remoto resort nas montanhas de propriedade do excêntrico Konig (Dan Stevens). Gretchen começa a trabalhar como recepcionista do remoto resort, mas logo começa a notar estranhos fenômenos e a ser perseguida por uma bizarra mulher encapuzada. Como ninguém mais vê a tal mulher, o pai e a madrasta acham que Gretchen está tentando chamar atenção, já que eles estão focados nos problemas de saúde de Alma.

Espécie invasora

A narrativa vai aos poucos construindo um senso de tensão e estranheza conforme fenômenos bizarros vão acontecendo ao redor de Gretchen, desde conduta esquisita dos hóspedes, passando por estranhos sons e momentos de deja vu que ela experimenta até as violentas perseguições da mulher encapuzada. Há uma ambiguidade nesses momentos que nos deixa incertos se é tudo na mente de Gretchen, que lida com o senso de isolamento e o falecimento inesperado de sua mãe, ou se há de fato uma criatura à espreita que explica todos os fenômenos estranhos.

Por outro lado, alguns segredos são bem óbvios desde o início como o fato de Konig claramente estar escondendo algo, o que mina parte da ambiguidade que a narrativa tenta construir. O que era uma narrativa sobre o luto de Gretchen e o senso de não pertencimento dela à nova família do pai vai se abrindo a outros temas a partir do momento em que o filme decide explicar o que de fato está acontecendo e qual a natureza da ameaça.

As experiências de Konig com criaturas híbridas deslocam os temas do luto para falar de ética científica, direitos reprodutivos da mulher e diferentes configurações de família, mas nunca há tempo suficiente para desenvolver todas essas ideias. O filme se torna um slasher competente, com bons momentos de tensão graças aos visuais bizarros e senso de estranheza com o qual tudo é conduzido, mas fica a impressão de que a narrativa levanta muitas questões e não as trabalha a contento.

 

Nota: 6/10


Trailer

quarta-feira, 9 de julho de 2025

Crítica – Shadow Force: Sentença de Morte

 

Análise Crítica – Shadow Force: Sentença de Morte

Review – Shadow Force: Sentença de Morte
É impressionante como quase nada funciona neste Shadow Force: Sentença de Morte, misto de ação com comédia romântica que tenta fazer tanta coisa ao mesmo tempo, misturando diferentes gêneros e propostas estéticas ou narrativas que nada consegue operar conjuntamente com coesão. A impressão que fica é a de um filme que parece brigar consigo mesmo o tempo todo.

Conflito interior

A trama acompanha o casal de mercenários Issac (Omar Sy) e Kyrah (Kerry Washington). No passado eles serviram juntos da Shadow Force, divisão secreta que realizada missões de assassinato. Quando eles se apaixonaram e tiveram um filho decidiram abandonar a divisão, mas isso os colocou na mira do líder, o ardiloso Jack Cinder (Mark Strong). Eles vivem separados, com Issac cuidando do filho do casal, enquanto Kyrah caça os remanescentes do grupo que estão atrás deles. As coisas mudam quando Issac impede um assalto à banco, atraindo atenção da mídia e fazendo seu rosto circular na mídia, chamando atenção de quem os caçava, obrigando ele e Kyrah a se reunirem e eliminarem a ameaça de uma vez por todas.

terça-feira, 8 de julho de 2025

Crítica – Superman

 

Análise Crítica – Superman

Review – Superman
Depois de uma tentativa de construir um universo cinematográfico da DC que não engrenou por conta de escolhas questionáveis e uma demora da Warner em corrigir o rumo este Superman tenta ser um recomeço tanto para o personagem quanto para o universo DC. James Gunn já tinha colocado as mãos em personagens com O Esquadrão Suicida (2021) e seus derivados e aqui assume tanto como diretor quanto como a mente criativa por trás do recém criado DC Studios.

Olhe para o céu

Na trama, Clark Kent (David Corenswet) já é Superman há alguns anos e agora lida com uma crise da confiança do público em si depois que ele impede uma guerra entre dois países distantes. Lex Luthor (Nicholas Hoult) aproveita para minar ainda mais a credibilidade do herói para mobilizar a opinião pública e o governo contra ele, convencendo as autoridades a lhe darem carta branca para tratar o Superman como um inimigo do Estado, ao mesmo tempo em que lucra com a guerra no exterior que o Superman tentou impedir.

segunda-feira, 7 de julho de 2025

Crítica - Yõg Ãtak: Meu Pai, Kaiowá

 

Análise Crítica - Yõg Ãtak: Meu Pai, Kaiowá

Review - Yõg Ãtak: Meu Pai, Kaiowá
Ainda há uma espécie de senso comum equivocado de que a repressão da ditadura militar brasileira foi algo focado nos grandes centros urbanos e que quem estava à margem disso foi pouco afetado. O sucesso de Ainda Estou Aqui no ano passado e certas reações a ele mostrou como esse senso comum ainda está presente, falhando em entender como a ditadura também afetou populações fora desses centros urbanos, como as populações indígenas. O documentário Yõg Ãtak: Meu Pai, Kaiowá, conta exatamente uma dessas histórias de como comunidades indígenas foram impactadas nesse período.

Diáspora indígena

O filme parte da busca de Sueli Maxakali (uma das diretoras do filme) e sua irmã Maiza Maxakali, pelo pai delas, Luiz Kaiowá, de quem foram separadas quando eram pequenas ainda no período da ditadura militar. A narrativa conta como Luiz foi removido à força de seu território natal no Mato Grosso do Sul pelo então governo, sendo transportado por vários estados até chegar ao território dos Tikmũ’ũn (também chamados de Maxakali) em Minas Gerais, onde conheceu a mãe de Sueli e Maiza. Depois Luiz sofre um novo deslocamento forçado por parte do governo e perde o contato com a família que constituiu em Minas Gerais.