segunda-feira, 22 de abril de 2024

Crítica – Clube Zero

 

Análise Crítica – Clube Zero

Review – Clube Zero
Começando com um aviso de gatilho sobre as representações de distúrbios alimentares presentes no longa, Clube Zero acaba sendo mais sobre controle e a construção de uma mentalidade de culto. Sim, distúrbios alimentares estão presentes e são discutidos, mas a diretora austríaca Jessica Hausner parece mais interessada em como seu grupo de personagens se radicaliza do que nos distúrbios que surgem dessa radicalização.

A trama é centrada na professora Novak (Mia Wasikowska) que chega para dar aula em uma escola de elite e forma um clube sobre bem estar e nutrição para ajudar os estudantes. A professora tem visões bem radicais sobre alimentação, defendendo comer o mínimo possível para liberar as toxinas do corpo e para desestimular o predatismo da indústria agropecuária. Os estudantes sob sua tutela acreditam na mensagem da professora e entram em uma perigosa dinâmica na qual ela passa a exercer um controle excessivo sobre suas vidas e sua saúde.

Wasikowska é assustadora como a professora Novak, uma mulher de fala mansa, que nunca eleva o tom de voz, fala sempre como uma cadência calma e benevolente, como que cheia de boas intenções e apresenta os argumentos da conduta extrema que propõe sob um viés de cientificismo e racionalidade ética, fazendo tudo soar benigno e razoável. O que a torna verdadeiramente perigosa, no entanto, é como ela demonstra verdadeiramente acreditar em tudo que diz e propõe. Novak não parece estar simplesmente buscando poder, ela crê que está de fato ajudando os alunos ao propor uma conduta pouco saudável e convencendo-os a deixá-la exercer enorme controle sobre suas vidas. Um fanatismo que é difícil de deter, justamente por se assentar apenas na certeza radical baseada em crença em não em racionalidade.

Hausner usa com habilidade enquadramentos e cores para ilustrar a dinâmica que desenvolve entre seus personagens. Novak é constantemente filmada no centro do quadro com os alunos ao redor e enquanto todos os estudantes se vestem igual, com o uniforme da escola, a professora usa cores radicalmente diferentes das dos estudantes. Essa construção visual revela a centralidade do poder exercido pela professora e como ela está em uma posição diferenciada dos alunos, com ela mantendo sua singularidade enquanto eles são padronizados. Quando uma das alunas, Elsa (Ksenia Devriendt), está passando por problemas de saúde em casa por se recusar a comer, a personagem é filmada usando roupas do mesmo tom de rosa que as paredes do seu quarto, quase desaparecendo no ambiente, servindo como uma metáfora visual para o definhar físico e mental da garota, que perdeu sua identidade para a mentalidade de culto.

Apesar de construir bem como essa mentalidade de culto se desenvolve entre os estudantes e como boas intenções e inquietações de juventude são manipulados pela professora para radicalizá-los, uma vez que o culto é estabelecido, o filme não parece ter mais nada a dizer sobre a questão. Isso resulta em um clímax que anda em círculos em termos temáticos, se limitando à constatação óbvia de que cultos são ruins. As propostas sobre ansiedade, pressão de grupo ou a radicalização de ativismo não saem da superfície, deixando as críticas que a produção tenta tecer sem impacto ou contundência. É uma pena, portanto, que apesar de boas performances do elenco e do cuidado que a diretora tem com a construção visual que Clube Zero tenha tão pouca clareza do que quer dizer sobre os temas provocadores que levanta.

 

Nota: 5/10


Trailer


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