terça-feira, 23 de abril de 2024

Crítica – Rivais

 

Análise Crítica – Rivais

Review – Rivais
Em uma de suas primeiras cenas em Rivais, a tenista interpretada por Zendaya diz que tênis é como um relacionamento, quando você joga você descobre tudo sobre a pessoa e ganhar ou perder tem a ver em como você joga essa relação com o outro na quadra. A fala dá a tônica do filme, que gira em torno da relação de Tashi (Zendaya), uma tenista promissora que tem a carreira interrompida por uma lesão no joelho, com os também tenistas Art (Mike Faist) e Patrick (Josh O’Connor).

Art e Patrick se envolveram com Tashi na juventude e tem estilos de jogo opostos. Art arrisca pouco e é mais técnico, Patrick é mais temperamental e confia mais no próprio talento do que em técnicas de treinamento. Ambos se envolvem com Tashi ao longo dos anos, mas ela se casa com Art e se torna treinadora dele. Anos depois Art está em uma maré de derrotas e isso atrapalha os planos do casal para que ele ganhe o US Open, o único dos Grand Slams que Art ainda não venceu. Para tentar recuperar a confiança dele, Tashi o inscreve em um pequeno torneio em um country club, mas a presença de Patrick na competição revive rancores antigos entre os três.

A trama se passa primordialmente durante a partida entre Art e Patrick na final da competição, indo e voltando no tempo para mostrar os desencontros entre os três personagens nos últimos quinze anos. Se tênis é como um relacionamento, as idas e vindas no tempo são como a bola quicando de um lado a outro da quadra trazendo reveses que os personagens precisam enfrentar. Quanto mais a partida avança, mais aprendemos sobre os dramas do trio e percebemos diferentes camadas do que está em jogo entre eles. Conforme a enérgica partida se alonga na disputa equilibrada dos dois, mais tensão se acumula tanto por conta do jogo em si quanto pelo acúmulo de informações passadas que ilustra o que há em jogo para Art, Partrick e Tashi.

Tashi é o centro de tudo e o início do filme explicita a dominância dela em relação a Art e Patrick. Ela vence um torneio júnior com facilidade na competição individual, mas Patrick e Art vencem como dupla. Quando Tashi visita os dois no quarto à noite é ela quem guia toda a conversa e chama os dois para cama, evidenciando que só os dois juntos “dão conta” de Tashi, uma noção que é importante no final. Os dois passam a gravitar em torno de Tashi buscando tanto seu afeto quanto sua aprovação como tenista, com o interesse dela dependendo também do talento ou da disposição deles em melhorarem. Quando Patrick pede para conversar com ela sobre outra coisa além de tênis, Tashi responde com um direto “sobre o que mais iríamos conversar?” revelando não apenas o hiperfoco da personagem, mas como ela só se interessa por Patrick na medida em que ele tem algo a oferecer enquanto tenista.

A lógica do tênis enquanto relacionamento é transmitida pelo modo como Luca Guadagnino filma os diálogos do trio, com a câmera se movendo rapidamente entre os rostos dos falantes como se seguisse uma bola jogada de um lado para outro na quadra. É como se cada diálogo fosse também um embate na quadra, com Art, Tashi e Patrick medindo e desafiando o outro a cada troca, a cada palavra. Isso fica evidenciado na conversa entre Art e Patrick na sauna na véspera da final, com Patrick tentando provocar Art, mas termina desestabilizado por ele.

Essa noção também está no modo como os personagens jogam e como a libido deles é deslocada para as quadras. Vemos isso no grito quase orgásmico que Tashi solta ao vencer seu primeiro torneio. A libido é igualmente sentida na dinâmica de erotismo subjacente presente entre Art e Patrick, a exemplo da cena em que eles conversam sobre Tashi enquanto comem churros e um morde o churros do outro ilustrando uma tensão também sexual entre eles e uma tentativa de emascular o rival ao ficar com a garota da qual o outro gosta. Esses três personagens só parecem realmente vivos quando juntos pelo desejo mútuo de se levarem ao limite, um desejo que vai das quadras ao quarto e que o filme mantem retido até seu final.

Na verdade, é o filme hollywoodiano mais sensual que vi em muito tempo. Claro, existem outros filmes repletos de cenas de sexo que até mostram mais do corpo dos atores em cena do que Rivais, mas nenhum na minha memória recente exalava tanto tesão e volúpia como esse. A cada beijo, a cada toque ou movimento de língua é possível sentir um desejo intenso de cada personagem. Que o responsável por isso tenha sido um diretor europeu não é surpresa considerando o quanto o puritanismo recente de Hollywood tem sido discutido nos últimos anos a exemplo do ótimo ensaio “Todo mundo é lindo, mas ninguém está excitado” de Raquel Benedict.

O filme vai aumentando cada vez mais as tensões profissionais e afetivas desses personagens até o explosivo clímax quando Art e Patrick chegam ao set desempate dispostos a dar tudo de si. Esse embate final mais uma vez ilustra o vínculo entre esporte e libido que os três personagens e a energia que eles liberam no jogo. A tensão vem tanto do texto quanto do modo como Guadagnino filma a partida, usando movimentos rápidos de câmera, câmeras em primeira pessoa para transmitir o ponto de vista dos jogadores e até desloca o ponto de vista para a bola, transmitindo a velocidade intensa de cada rebatida. É uma disputa com tanto drama e energia que me colocou na beira da poltrona, vibrando como se fosse uma partida real e olha que nem sou fã de tênis. O final é tão intenso que seu clímax dramático é equivalido a um clímax sexual marcado pelo grito final de Tashi, revelando que ela finalmente extraiu o que desejava dos outros dois tenistas.

Construindo a relação de seus três protagonistas com o dinamismo de uma partida de tênis, Rivais entrega um drama cheio de energia, tensão e sensualidade que borra as fronteiras entre o desejo de vencer e o desejo sexual.

 

Nota: 9/10


Trailer


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