
Em Benedetta o diretor Paul Verhoeven faz uma reflexão sobre a
materialidade da fé, tanto em termos do poder financeiro que as instituições
religiosas exercem, tanto na influência que a religião (principalmente o
catolicismo) tem sobre a formação de tabus acerca das relações carnais. Poderia
ser um denuncismo raso e óbvio, mas o veterano diretor transita com habilidade
entre os vários meandros complexos que tenta tratar.
Levemente baseado em uma história
real, a trama é centrada em Benedetta (Virginie Efira), uma jovem freira que é
colocada em um convento por seus pais ainda na infância. Benedetta é muito
devota e com o tempo começa a ter visões com Cristo e diz falar com ele. Ao
mesmo tempo, a freira se aproxima da noviça Bartholomea (Daphne Patakia), com
quem começa a compartilhar sentimentos. Conforme as visões e profecias de
Benedetta se tornam mais presentes e reais, ela sobe na hierarquia do convento,
despertando inveja e desconfiança de algumas que tentarão usar o romance da
protagonista com Bartholomea para derrubá-la.
A narrativa é inteligente em
deixar a conduta de Benedetta e seu fervor religioso como algo ambíguo no
sentido de nunca explicitar se as visões que ela tem são de fato algo
sobrenatural, fruto de algum transtorno mental ou uma enganação pura e simples.
A personagem parece acreditar com fervor em tudo que diz e faz, mostrando como
uma crença cega pode dar espaço para um senso inquestionável de superioridade
moral que desponta para radicalismo.