sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Crítica - The Ridiculous 6



O serviço de streaming Netflix se tornou bastante reconhecido pela qualidade de suas produções originais, tanto de seriados quanto de documentários, mas foi apenas recentemente que a plataforma começou a investir em longas-metragens de ficção. O primeiro foi o ótimo Beasts of No Nation, impactante história sobre crianças soldado na África, mas o projeto seguinte pegou todos de surpresa com o anúncio de que a Netflix se juntaria com Adam Sandler, comediante famoso pelos trabalhos rasteiros e cujas bilheterias vem diminuindo a cada novo projeto, tornando a escolha incompreensível tanto por razões artísticas quanto comerciais.

A produção foi marcada por problemas, em especial quando os figurantes indígenas se recusaram a trabalhar acusando o filme de ser racista. Dado o histórico de Sandler em fazer um humor baseado na reafirmação de preconceitos de raça e gênero, o filme começou a ser execrado antes mesmo de ser lançado e tudo apontava para um completo desastre. A verdade, no entanto, é que o filme de fato não é exatamente ofensivo em relação aos indígenas, embora seja difícil dizer se ele sempre foi assim ou se alterações foram feitas depois da polêmica ter surgido. De todo modo, nada disso evita que a obra seja mais uma coleção de piadas preguiçosas e desinteressantes que pode até não estar no baixo nível de atrocidades como Gente Grande 2 (2013) ou Cada um Tem a Gêmea que Merece (2011), mas ainda assim passa longe de ser minimamente satisfatória e é provavelmente a pior produção original do Netflix até então.

A trama se passa no velho oeste é centrada em Tommy ou "Faca Branca" (Adam Sandler), um homem branco criado por índios e um exímio guerreiro. Quando seu pai verdadeiro, Frank (Nick Nolte), é sequestrado por membros de sua antiga gangue de ladrões, Tommy resolve cruzar o oeste selvagem para resgatá-lo e no caminho acaba encontrando outros meio-irmãos com quem forma um bando.

O humor é aquela coleção de escatologia e humor físico preguiçoso que todo mundo está habituado em filmes do comediante. Não há nada errado per se nesse tipo de humor, mas não há nenhum esforço em montar uma situação engraçada com esses atributos, ele apenas nos mostra um jumento defecando em alguém ou uma pessoa tendo a cabeça arrancada e espera que ríamos disso.

Os personagens não são apenas unidimensionais, como também são indivíduos de uma piada só. Herm (Jorge Garcia) fala através de grunhidos, Lil Pete (Taylor Lautner) é um idiota e tem três mamilos, Tommy é invencível (repetindo a "piada única" que Sandler já tinha feito no horrendo Zohan: O Agente Bom de Corte)  e alguns sequer tem qualquer qualidade engraçada a seu respeito e o filme irá apenas apontar a câmera para os personagens e dizer "olha ele é burro", "olha só, ele é gordo" ou "vejam como fulano é esquisito", como se apenas apontar defeitos ou coisas exóticas a respeito de um personagem fosse algo inerentemente engraçado.

Há também uma tentativa de fazer graça com figuras históricas, mas isso se resume a exibi-los para câmera e obrigá-los a fazer algo estúpido que muitas vezes nem tem relação com suas biografias ou personalidades. Um exemplo é quando o execrável Vanilla Ice (um rapper sem talento e um ator pior ainda) aparece em cena agindo como ele próprio, mas caracterizado como o escritor Mark Twain. Aparentemente os responsáveis pelo filme acharam ver o consagrado escritor se comportando como um rapper incompetente tinha algo de engraçado, mas não faz rir nem pelo puro nonsense da situação.

Muitos segmentos de humor aparecem soltos, deslocados do resto do filme, mais parecendo esquetes inseridos sem critério no meio da história. A cena envolvendo a criação do beisebol, por exemplo, além de ser sem graça ocupa uns dez minutos de filme a troco de nada. Aliás, a duração de cerca de duas horas é outro problema, já que estende mais do que deveria uma obra que já não tem lá muito conteúdo ou ritmo e torna tudo ainda mais cansativo. Ainda por cima decepciona ao aproveitar mal vários bons comediantes como Terry Crews (o eterno pai do Chris), Lavell Crawford (o Huell de Breaking Bad) ou Will Forte (o protagonista da divertida série O Último Cara da Terra) em papeis irrelevantes e que não exploram o potencial cômico de seus atores.

No fim The Ridiculous 6 é mais uma comédia tocada no piloto automático pela produtora Happy Madison de Adam Sandler, passando longe do padrão de qualidade que se espera do Netflix e só deve agradar aos entusiastas de jumentos com diarreia ou se vista com expectativas muito baixas.

Nota: 3/10

Trailer:



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