quinta-feira, 27 de novembro de 2025

Crítica – A Mulher no Jardim

 

Análise Crítica – A Mulher no Jardim

Review – A Mulher no Jardim
É curioso como a Blumhouse foi de uma produtora referência no terror para uma produtora que parece dar sinal verde para qualquer produção do gênero sem qualquer curadoria dos filmes que seleciona ou se preocupar com a qualidade deles. A impressão é que de uns tempos para cá o prestígio da produtora enfraqueceu um pouco conforme ela lançava filmes cada vez mais distantes do padrão de qualidade que estabeleceu para si. A Mulher no Jardim é mais uma dessas produções que dá a impressão que os melhores dias da Blumhouse estão no passado e não no presente.

Visitante sombria

A narrativa é protagonizada por Ramona (Danielle Deadwyler) uma mulher devastada pelo luto depois de perder o marido em um acidente de carro. Sozinha na fazenda que o marido comprou para a família, ela sequer tem ânimo para levantar da cama, precisando que os filhos a façam sair do quarto quando algum problema acontece na casa. Ela também está com uma perna quebrada por conta do acidente, se locomovendo com o auxílio de muletas. Um dia uma estranha mulher vestida de preto aparece sentada na frente da casa dela. A mulher parece confusa, mas também faz várias ameaças a Ramona. Ela tenta convencer os filhos de que está tudo bem, mas as crianças desconfiam de que há algo muito errado.

A produção tenta apostar mais em um clima de tensão e incerteza do que em gore ou coisas assustadoras mais explícitas. O problema é que é tudo tão vago que é difícil sentir qualquer suspense. A mulher faz algumas ameaças genéricas e suas habilidades sombrias são tão vagamente definidas que não dá para construir qualquer senso de expectativa em relação ao que ela pode fazer. Sim, explicar demais a natureza de uma ameaça pode torná-la previsível e sem graça, mas não estabelecer qualquer parâmetro de como uma entidade pode atuar cria a sensação de que vale qualquer coisa e que a trama pode inventar qualquer nova habilidade a qualquer momento.

Trauma evidente

Os subtextos da narrativa são óbvios desde o primeiro momento, sendo previsível a revelação de que a mulher é, de algum modo, a manifestação dos traumas e sentimentos autodestrutivos da depressão em que Ramona se encontra. A despeito da previsibilidade, a narrativa poderia ainda funcionar como terror psicológico e como uma reflexão da depressão, mas não faz nenhuma dessas coisas direito.

A trama não parece decidir se a mulher é de fato uma entidade sobrenatural que existe separada de Ramona, podendo ser vista por outras pessoas e interagir com ela ou se é algo que existe meramente na psique da protagonista, movendo as ações dela. Isso gera uma série de contradições e inconsistências que provavelmente foram pensadas para fazer a trama soar complexas e gerar debates sobre o que é real ou não. Na prática só faz a narrativa soar uma bagunça que não consegue decidir o que quer ser, já que mesmo essa dubiedade é mal construída.

As reflexões sobre depressão, que deveriam ser o centro dramático da narrativa, esbarram em constatações óbvias sobre isolamento, autodestruição e como isso impacta tanto o depressivo quanto as pessoas ao redor dela. Considerando o quanto o filme foca nesse subtexto era de se esperar que tivesse algo mais consistente em seu exame da depressão. Até mesmo o clímax emocional de Ramona, quando a entidade a convence a apontar uma arma para si mesma, é decepcionante já que se resolve fora de cena. Vemos a protagonista prestes a usar a arma em si mesma, a cena corta para fora da casa e logo ela sai de lá de dentro. O que a fez dominar os próprios sentimentos e superar suas ideações suicidas? O que se passou na mente dela para fazê-la mudar de ideia? Ramona confrontar tudo isso e sair vitoriosa é o cerne do conflito emocional dela e isso simplesmente não é posto em cena. Mais uma vez soa como algo pensado para ser aberto a interpretações, mas como a narrativa não dá sequer indícios de nada tudo soa vazio.

A Mulher no Jardim acaba sofrendo do mesmo problema de algumas produções de terror dos últimos, como recente Lobisomem, de ficar tão preocupada com o subtexto, com significados subjacentes, com possíveis camadas de leitura, que esquece o texto, dos elementos explícitos. Está tão preocupado com as metáforas psicológicas que sua ameaça sobrenatural pode simbolizar que esquece que é um filme de terror e que essa ameaça precisa ser, bem, uma ameaça. A diferença para Lobisomem é que ele ao menos tinha algo a dizer sobre os temas de masculinidade tóxica e relações parentais que tentava evocar, A Mulher no Jardim nem isso consegue.

 

Nota: 2/10


Trailer

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