Visitante sombria
A narrativa é protagonizada por Ramona (Danielle Deadwyler) uma mulher devastada pelo luto depois de perder o marido em um acidente de carro. Sozinha na fazenda que o marido comprou para a família, ela sequer tem ânimo para levantar da cama, precisando que os filhos a façam sair do quarto quando algum problema acontece na casa. Ela também está com uma perna quebrada por conta do acidente, se locomovendo com o auxílio de muletas. Um dia uma estranha mulher vestida de preto aparece sentada na frente da casa dela. A mulher parece confusa, mas também faz várias ameaças a Ramona. Ela tenta convencer os filhos de que está tudo bem, mas as crianças desconfiam de que há algo muito errado.
A produção tenta apostar mais em um clima de tensão e incerteza do que em gore ou coisas assustadoras mais explícitas. O problema é que é tudo tão vago que é difícil sentir qualquer suspense. A mulher faz algumas ameaças genéricas e suas habilidades sombrias são tão vagamente definidas que não dá para construir qualquer senso de expectativa em relação ao que ela pode fazer. Sim, explicar demais a natureza de uma ameaça pode torná-la previsível e sem graça, mas não estabelecer qualquer parâmetro de como uma entidade pode atuar cria a sensação de que vale qualquer coisa e que a trama pode inventar qualquer nova habilidade a qualquer momento.
Trauma evidente
Os subtextos da narrativa são óbvios desde o primeiro momento, sendo previsível a revelação de que a mulher é, de algum modo, a manifestação dos traumas e sentimentos autodestrutivos da depressão em que Ramona se encontra. A despeito da previsibilidade, a narrativa poderia ainda funcionar como terror psicológico e como uma reflexão da depressão, mas não faz nenhuma dessas coisas direito.
A trama não parece decidir se a mulher é de fato uma entidade sobrenatural que existe separada de Ramona, podendo ser vista por outras pessoas e interagir com ela ou se é algo que existe meramente na psique da protagonista, movendo as ações dela. Isso gera uma série de contradições e inconsistências que provavelmente foram pensadas para fazer a trama soar complexas e gerar debates sobre o que é real ou não. Na prática só faz a narrativa soar uma bagunça que não consegue decidir o que quer ser, já que mesmo essa dubiedade é mal construída.
As reflexões sobre depressão, que deveriam ser o centro dramático da narrativa, esbarram em constatações óbvias sobre isolamento, autodestruição e como isso impacta tanto o depressivo quanto as pessoas ao redor dela. Considerando o quanto o filme foca nesse subtexto era de se esperar que tivesse algo mais consistente em seu exame da depressão. Até mesmo o clímax emocional de Ramona, quando a entidade a convence a apontar uma arma para si mesma, é decepcionante já que se resolve fora de cena. Vemos a protagonista prestes a usar a arma em si mesma, a cena corta para fora da casa e logo ela sai de lá de dentro. O que a fez dominar os próprios sentimentos e superar suas ideações suicidas? O que se passou na mente dela para fazê-la mudar de ideia? Ramona confrontar tudo isso e sair vitoriosa é o cerne do conflito emocional dela e isso simplesmente não é posto em cena. Mais uma vez soa como algo pensado para ser aberto a interpretações, mas como a narrativa não dá sequer indícios de nada tudo soa vazio.
A Mulher no Jardim acaba sofrendo do mesmo problema de algumas
produções de terror dos últimos, como recente Lobisomem, de ficar tão preocupada com o subtexto, com significados
subjacentes, com possíveis camadas de leitura, que esquece o texto, dos
elementos explícitos. Está tão preocupado com as metáforas psicológicas que sua
ameaça sobrenatural pode simbolizar que esquece que é um filme de terror e que
essa ameaça precisa ser, bem, uma ameaça. A diferença para Lobisomem é que ele ao menos tinha algo a dizer sobre os temas de
masculinidade tóxica e relações parentais que tentava evocar, A Mulher no Jardim nem isso consegue.
Nota: 2/10
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