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quinta-feira, 26 de setembro de 2024

Crítica – Pizza Tower

 

Análise Crítica – Pizza Tower

Review – Pizza Tower
Como algumas séries de games sendo esquecidas por suas desenvolvedoras, muitas vezes cabe a jogos indie trazer de volta o espírito desses jogos. Pizza Tower de certa forma faz isso pela série Wario Land, que a Nintendo não produz um game novo desde Wario Land: Shake It, no Nintendo Wii. Pizza Tower é um game de plataforma que tem o claro objetivo de evocar a estrutura de fase e senso de velocidade que marcou alguns games da série Wario Land. Eu não joguei quando Pizza Tower foi lançado para PC ano passado, mas aproveitei o lançamento para Nintendo Switch para finalmente conferir.

terça-feira, 24 de setembro de 2024

Crítica – A Substância

 

Análise Crítica – A Substância

Review – A Substância
Funcionando como uma versão moderna de O Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde, ou do Fausto, de Goethe, A Substância usa o horror corporal para ponderar sobre o tempo, nossa relação com o corpo e os excessos que as pessoas vão para se adequarem a padrões de beleza e juventude impostos pela sociedade. É também sobre como Hollywood e toda a indústria do entretenimento objetifica as mulheres e constrói uma visão de que envelhecimento é algo indesejável apesar de ser um meio controlado por homens brancos velhos.

A narrativa é protagonizada por Elizabeth Sparkle (Demi Moore) que outrora foi uma premiada estrela de cinema, mas com o tempo viu sua fama diminuir e agora apresenta um programa matinal de ginástica. Em seu aniversário de 50 anos Elizabeth ouve Harvey (Dennis Quaid), o produtor do programa, falando em demiti-la e contratar alguém mais jovem por Elizabeth já ter passado demais de seu tempo. Depois da demissão Elizabeth recebe uma correspondência lhe oferecendo uma droga misteriosa chamada apenas de “A Substância” que promete um “novo eu” perfeito. Ela decide usar o item misterioso e cria uma versão jovem e bela de si em Sue (Margaret Qualley). Os efeitos da substância, no entanto, não são permanentes e ela deve voltar ao seu corpo original a cada sete dias, mas a fama e facilidades que Sue obtém a fazem ter repulsa de seu corpo mais velho e a levam a estender mais seu tempo como Sue, trazendo consequências sérias para ambas.

segunda-feira, 23 de setembro de 2024

Crítica – O Dia Que Te Conheci

 

Análise Crítica – O Dia Que Te Conheci

Review – O Dia Que Te Conheci
O cinema de André Novais e dos outros diretores da Filmes de Plástico é muito calcado na construção de um senso de cotidianidade. Se o drama normalmente tenta se concentrar nos grandes momentos de triunfo ou tragédia da vida comum, André e seus colegas entendem que a vida se constrói principalmente nos interlúdios entre essas duas coisas, que o grosso de nosso tempo se concentra nesse “eterno quase” de conseguirmos ou não aquilo que desejamos e neste "eterno quase" em que residem muitos de nossos momentos especiais. O Dia Que Te Conheci é um romance que se desenvolve justamente nesses momentos.

sexta-feira, 20 de setembro de 2024

Crítica – Black Tea: O Aroma do Amor

 

Análise Crítica – Black Tea: O Aroma do Amor

Review – Black Tea: O Aroma do Amor
Dirigido pelo mauritano Abderrahmane Sissako, responsável por filmes como Bamako (2006), Black Tea: O Aroma do Amor é um melodrama transnacional sobre desejo e rejeição. A trama é centrada em Aya (Nina Melo) que depois de dizer “não” no dia do casamento ao descobrir uma traição do noivo. Aya então se muda para Guangzhou, na China para reconstruir sua vida. Lá ela começa a trabalhar em uma loja de chás e se aproxima do dono, Cai Wang (Han Chang) e começam a viver um romance, mas diferenças culturais e o racismo local trazem problemas para a relação.

Desejo e distância

É uma trama sobre construção de pontes, conciliações possíveis e também sobre a dificuldade de superar certos abismos culturais. Tudo isso subjacente à jornada emocional da relação entre Aya e Cai que permanece o centro emocional da história. As cenas em que Cai ensina a Aya as técnicas de chá são dotadas de uma sensualidade silenciosa, repleta de um desejo que esses personagens mal conseguem conter, algo que me lembra o cinema de Wong Kar-Wai. Cada toque, cada gesto, cada movimento pulsa com esse desejo latente no qual os diálogos sobre a necessidade de movimentos precisos para evitar se queimar com a água fervente não é uma fala apenas sobre chá, é sobre eles se abrirem àquele desejo apesar dos relacionamentos anteriores que não deram certo.

É quando foca no desenvolvimento desse relacionamento e no cotidiano de Aya em se adaptar ao modo de vida na China que o filme funciona melhor. A questão é que lá pela metade ele começa a se abrir a várias subtramas que não chegam a ser desenvolvidas ao ponto de nos fisgar ou ter grande impacto. Um exemplo é o arco de Cai em seu desejo de se reaproximar da filha que tem em Cabo Verde, algo que se materializa em um literal sonho cujas imagens dele caindo sucessivamente de um barranco e temendo quebrar o jogo de chá que levou servem também como uma metáfora para seus sentimentos de fracasso como pai, sempre tropeçando sem nunca alcançar a filha. A questão é que a despeito dessas imagens marcantes, todo esse conflito fica apenas subjacente ao personagem e não chega a levá-lo em direção alguma, carecendo de força dramática.

Diálogos errantes

Do mesmo modo o clímax que envolve a chegada dos ex sogros de Cai para o aniversário de vinte anos do filho dele, Li-Ben (Michael Chang), não tem a devida tensão porque até aquele ponto os personagens e seus posicionamentos não foram devidamente construídos. Claro, a decisão de Cai em pedir que Aya fique no quarto e não saia enquanto ele e o resto da família jantam porque os sogros não entenderiam a presença de uma mulher negra ali mostra o preconceito latente no próprio comerciante, que não está disposto a “assumir” Aya apesar do que sente por ela. A questão é que o debate entre Li-Ben e os avôs que acontece logo depois fica na superfície do conflito de gerações em que o avô é uma pessoa que apenas reproduz esses preconceitos anacrônicos enquanto o neto tem uma mentalidade um pouco mais aberta e cosmopolita pelo próprio contato que ele tem com as populações africanas.

É uma maneira de mostrar como a juventude está mais aberta à diversidade do que gerações anteriores, a questão é que o avô aparece ali pela primeira vez e Li-Ben é um personagem que ficou nas bordas da narrativa até então e sabíamos muito pouco a seu respeito, então não são personagens cujos dramas estamos investidos. Do mesmo modo, o fato de Aya, o centro de tudo estar praticamente ausente no conflito contribui para diluir a força da cena. Talvez por isso o momento mais singelo da discussão é quando Aya começa a cantar e Li-Ben diz que a voz vem do bluetooth, avisando ao avô que no mundo de hoje todos estamos conectados.

Há uma direção muito precisa e consciente na construção visual de Black Tea: O Aroma do Amor, mas a despeito de bons momentos e imagens marcantes a impressão é que o todo termina menor que a soma das partes por conta do excesso de subtramas e personagens que não são devidamente explorados.

 

Esse texto faz parte de nossa cobertura da Mostra de Cinemas Africanos 2024.


Trailer

quinta-feira, 19 de setembro de 2024

Crítica – Castlevania Dominus Collection

 

Análise Crítica – Castlevania Dominus Collection

Review – Castlevania Dominus Collection
Faz algum tempo que a Konami não lança nenhum game novo de suas principais franquias, mas ao menos tem disponibilizado seus antigos games em ótimas coleções. Os Castlevania já foram contemplados com Castlevania Anniversary Collection que trazia os jogos de NES, SNES, Mega Drive e Game Boy, além da Castlevania Advance Collection que trouxe a trilogia de games do Game Boy Advance e Castlevania Requiem, que juntava Rondo of Blood e Symphony ofthe Night em um único pacote. Agora é a vez dos três games de Nintendo DS serem relançados nesta Castlevania Dominus Collection. A coleção traz em si Castlevania Dawn of Sorrow, Castlevania Portrait of Ruin e Castlevania Order of Ecclesia, além do game de fliperama Haunted Castle em sua versão original e em um remaster.

quarta-feira, 18 de setembro de 2024

Crítica – Os Fantasmas Ainda Se Divertem

 

Análise Crítica – Os Fantasmas Ainda Se Divertem

Review – Os Fantasmas Ainda Se Divertem
Com a mania de Hollywood em continuações tardias que apelam para a nostalgia do espectador é a vez de Tim Burton se juntar à onda com este Os Fantasmas Ainda Se Divertem, continuação de Os Fantasmas Se Divertem (1988). Não esperava muita coisa e o resultado final é meio bagunçado por subtramas que não vão a lugar nenhum, mas ao menos é divertido por mais que seja mais estilo do que substância.

Bagunça sobrenatural

Mais de trinta anos depois do original, Lydia Deetz (Winona Ryder) tem um programa de investigação sobrenatural, explorando sua mediunidade para ganhar dinheiro com a ajuda do noivo Rory (Justin Theroux). Quando o pai dela morre (porque é claro que eles não trariam de volta o Jeffrey Jones depois que ele foi preso por conta de vários crimes sexuais incluindo pedofilia) Lydia precisa voltar a sua cidade natal, se reconectando com a filha, Astrid (Jenna Ortega), e com a madrasta Delia (Catherine O’Hara). O retorno de Lydia também chama atenção do espectro Beetlejuice (Michael Keaton), que segue obcecado em casar com Lydia. O fantasma lida com seus próprios problemas, já que sua antiga noiva Delores (Monica Belucci) se libertou de sua prisão sobrenatural e agora busca vingança.

terça-feira, 17 de setembro de 2024

Crítica – Feios

 

Análise Crítica – Feios

Review – Feios
Quando escrevi sobre o péssimo Mentes Sombrias nos idos de 2018 e o fraco Máquinas Mortais em 2019 mencionei como eles chegaram atrasados para a festa das adaptações de romances jovens distópicos, estreando em um momento em que todo mundo já estava cansado dos clichês desse tipo de história e com tramas que não faziam muito mais do que repetir tropos desgastados. Pois é com surpresa ver que Hollywood ainda insiste neste gênero que ninguém mais quer com este Feios. Produzido pela Netflix, é mais uma adaptação de uma série de romances sobre distopias protagonizadas por adolescentes e, como era de se esperar, é muito, muito ruim.

segunda-feira, 16 de setembro de 2024

Crítica – Quando Eu Me Encontrar

 

Análise Crítica – Quando Eu Me Encontrar

Review – Quando Eu Me Encontrar
A ausência de um ente querido promove mudanças no cotidiano de todo mundo afetado por esse vazio. A produção cearense Quando Eu Me Encontrar se propõe justamente a examinar as consequências dessa ausência e como as pessoas reexaminam suas vidas diante dela.

Marcas da ausência

Na trama, a jovem Dayane vai embora de casa sem dar satisfação nenhuma à família. Sua mãe, Marluce (Luciana Souza) fica em choque com a partida repentina que a faz reexaminar sua relação com a própria mãe. Antônio (David Santos), noivo de Dayane, tenta de algum modo encontrar uma explicação para o sumiço da amada, se aproximando da melhor amiga dela, Cecília (Di Ferreira). A irmã mais nova de Dayane, Mariana (Pipa), enfrenta problemas na escola de classe média que ela frequenta como bolsista depois que uma amiga é abusada durante uma festa e elas se tornam alvos de comentários maldosos.

sexta-feira, 13 de setembro de 2024

Crítica – Marvel vs Capcom Fighting Collection

 

Análise Crítica – Marvel vs Capcom Fighting Collection

Review – Marvel vs Capcom Fighting Collection
De uns anos para cá a Capcom parece interessada em resgatar a memória de seus clássicos games de luta. Primeiro lançaram a Capcom Fighting Collection trazendo games da década de 90 que a empresa nunca fez novas iterações como Darkstalkers ou Cyberbots. Este ano a empresa pegou todo mundo de surpresa com o anúncio desta Marvel vs Capcom Fighting Collection que compila os jogos de fliperama que a Capcom fez em parceria com a Marvel. Digo que pegou de surpresa porque desde o fracasso de Marvel vs Capcom Infinite a relação entre as duas empresas não parecia estar em um bom momento e mesmo campanhas de fãs para trazer de volta games como Marvel vs Capcom 2, como a liderada pelo youtuber Maximilian Dood, eram recebidas com frieza pela Capcom e com respostas de que era difícil algo assim acontecer.

quinta-feira, 12 de setembro de 2024

Crítica – O Cara da Piscina

 

Análise Crítica – O Cara da Piscina

Review – O Cara da Piscina
Se não me engano foi o crítico Roger Ebert que disse que um filme bom nunca é longo o bastante e um filme ruim nunca é curto o bastante. Isso se aplica perfeitamente a este O Cara da Piscina, cujos meros cem minutos de duração se transformam em algo tão dolorosamente excruciante que o filme parece ter mais de quatro horas de duração.

A trama é centrada em Darren (Chris Pine), um tratador de piscinas hiponga, conspiracionista, metido a filósofo e ativista político, sempre cobrando mudanças nas linhas de ônibus na câmara de vereadores. Quando ele esbarra em um escândalo envolvendo o presidente da câmara, Stephen Toronkowski (Stephen Tobolowski), que pode estar recebendo propina do magnata imobiliário Theodore Hollandaise (Clancy Brown) para aprovar um grande empreendimento, Darren decide investigar a questão. No meio do caminho encontra a femme fatale June (DeWanda Wise) e mais uma série de personagens pitorescos.

quarta-feira, 11 de setembro de 2024

Crítica – Lisa Frankenstein

 

Análise Crítica – Lisa Frankenstein

Review – Lisa Frankenstein
Escrito por Diablo Cody (de Garota Infernal e Tully) e dirigido por Zelda Williams (filha do comediante Robin Williams) este Lisa Frankenstein tem cara de algo feito para virar cult entre certos setores da cinefilia com sua trama insólita e personagens excêntricos. A trama se passa em 1989 sendo protagonizada por Lisa (Kathryn Newton) uma garota introspectiva que vive à sombra da meio-irmã popular Taffy (Liza Soberano) e da madrasta opressora Janet (Carla Gugino). Sem sorte com garotos por ser considerada esquisita, as coisas mudam para ela quando acidentalmente reanima um cadáver vitoriano (Cole Sprouse, de Riverdale) durante uma tempestade e decide fazer dele seu homem ideal com partes que pega de outros garotos.

segunda-feira, 9 de setembro de 2024

Crítica – O Bastardo

 

Análise Crítica – O Bastardo

Review – O Bastardo
Histórias sobre a colonização de algum espaço costumam ser narradas como feitos heroicos de pessoas enfrentando ermos cheios de intempéries ou subjugando populações nativas, sem, no entanto, ponderar sobre as consequências ou a inerente violência desse processo colonial. A produção dinamarquesa O Bastardo, uma das escolhas do país para o Oscar, traz um pouco de ponderação sobre o egoísmo humano que está no cerne desse impulso desbravador.

A narrativa é baseada na história real de Ludvig Kahlen (Mads Mikkelsen) militar dinamarquês responsável por colonizar a península da Jutlândia no século XVIII, que hoje compreende a maior parte do território dinamarquês. Estabelecer o primeiro assentamento da região, no entanto, não era uma tarefa fácil e o reinado dinamarquês já tinha perdido o interesse no espaço. É apenas quando Kahlen propõe custear a empreitada do próprio bolso que a Coroa lhe dá permissão para construir seu assentamento. Lá, Kahlen enfrenta as intempéries do ermo, a dificuldade de cultivar um solo tomado por urzes, os saqueadores e principalmente as sabotagens perpetradas pelo magistrado local Frederik De Schinkel (Simon Bennebjerg) que quer as terras para si.

quinta-feira, 5 de setembro de 2024

Crítica – Twisters

 

Análise Crítica – Twisters

Review – Twisters
Filmes-catástrofe não fazem muito meu estilo e não morro de amores pelo primeiro Twister (1996), então não fiquei exatamente empolgado com o anúncio desse Twisters. Parecia só mais uma dessas continuações tardias que existe para capitalizar em cima da nostalgia do espectador. Talvez por isso eu tenha ficado surpreso com o fato de que o filme se concentra mais em seus novos personagens sem se preocupar muito com referências ao original.

Novos rostos

A trama é protagonizada por Kate (Daisy Edgar-Jones), meteorologista que desenvolve um protótipo que pode dissipar tornados. As coisas dão errado durante o teste e quase toda sua equipe morre. Anos depois, ela trabalha em Nova Iorque quando o antigo colega, Javi (Anthony Ramos), a procura para uma nova caçada a tornados. Javi está trabalhando para o empreendedor Scott (David Corenswet), que financia sua pesquisa de escaneamento de tornados. Com esse mapeamento, Kate poderia aperfeiçoar seu protótipo e, assim, ela aceita participar da empreitada. Chegando no interior do país, a equipe de Kate esbarra no grupo de youtubers liderado por Tyler (Glen Powell), cuja postura é bem menos profissional que a equipe de cientistas da qual Kate faz parte.

terça-feira, 3 de setembro de 2024

Crítica – Othelo: O Grande

 

Análise Crítica – Othelo: O Grande

Review – Othelo: O Grande
Um dos atores de carreira mais longeva e marcante na dramaturgia brasileira, Grande Otelo, nome artístico de Sebastião Bernardes de Souza Prata, demorou para ter o devido reconhecimento. Parte disso se deve ao racismo da época em que ele atuou, parte por sua trajetória ser muito marcada pela comédia, um gênero muitas vezes considerado “menos artístico” ou “menos sofisticado”. O documentário Othelo: O Grande reconta a trajetória do ator, suas dificuldades, seus triunfos e seu ativismo político.

Memória audiovisual

A narrativa é toda contada através de imagens de arquivo, usando produções das quais Otelo participou e também várias entrevistas e discursos públicos que o ator deu ao longo de sua carreira. A pesquisa de arquivo é a principal força do filme trazendo imagens raras e em ótima qualidade de trabalhos antigos, como o Moleque Tião ou suas comédias para a Atlântida, que quase sempre encontramos em qualidade ruim pela internet.

A pesquisa de arquivo também é eficiente nas falas que traz do ator, com ele trazendo desde seus posicionamentos, denunciando o racismo ao longo de sua trajetória, narrando experiências com diretores renomados, como a impagável fala em que conta como foi trabalhar com Werner Herzog em Fitzcarraldo (1982), e também refletindo sobre a natureza da dramaturgia brasileira nos palcos, no cinema e na televisão. Há uma fala interessante de Grande Otelo sobre o Cinema Novo em que ele pondera que o fato do movimento nunca ter atingido as massas como almejavam seus agitadores provavelmente se relacionava com a linguagem experimental de seus filmes, mencionando como uma produção como Macunaíma (1969) teve penetração junto ao público justamente por ter uma linguagem mais próxima das comédias populares de sua época.

Otelo e o cinema brasileiro

Nesse sentido, conhecer a história de Grande Otelo é também conhecer a história do teatro e do audiovisual brasileiro, considerando a longevidade de sua trajetória e a amplitude de diretores e movimentos com os quais colaborou. Vemos o histórico de racismo na dramaturgia onde até mesmo alguém da competência de Grande Otelo tinha dificuldade em conseguir trabalho porque papéis negros eram interpretados por brancos em blackface, algo que Joel Zito Araújo também mostrou no documentário A Negação do Brasil (2001). 

Acompanhando a trajetória de Grande Otelo vemos a ascensão das chanchadas (não confundir com pornochanchadas) da Atlântida em filmes como Carnaval Atlântida (1952). Testemunhamos o surgimento de diretores como Nelson Pereira dos Santos, com quem Grande Otelo trabalhou em Rio, Zona Norte (1957) e a eclosão de vanguardas como o Cinema Novo. Vemos o surgimento e a consolidação da televisão como meio de comunicação de massa e sua difusão pelo país no trabalho de Grande Otelo em programas como A Escolinha do Professor Raimundo. Como o filme nos mostra, conhecer Grande Otelo é conhecer o desenvolvimento do audiovisual brasileiro. 

Por outro lado, o documentário se prende demais às convenções de um filme de arquivo, soando demasiadamente expositivo e convencional para uma figura que não pode ser facilmente colocada em caixinhas. Grande Otelo é uma figura complexa, multifacetada e bastante singular. O filme transmite isso nas falas e depoimentos, mas fica a impressão de que a forma, não apenas o conteúdo, poderia também ser usada para construir a complexidade do biografado. 

Mesmo nunca saindo das convenções de um documentário de arquivo, Othelo: O Grande envolve pela trajetória longeva do ator e como ela se mescla com o desenvolvimento do cinema brasileiro.

 

Nota: 6/10


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segunda-feira, 2 de setembro de 2024

Crítica – Armadilha

 

Análise Crítica – Armadilha

Review – Armadilha
Um sujeito leva a filha para o show de uma diva pop e se espanta com o volume de policiais no local. Ele logo fica sabendo que as autoridades montaram no show uma armadilha para prender um perigoso assassino em série ao saberem que ele estaria lá. O problema é que o sujeito é o assassino que polícia procura. Novo filme do M. Night Shyamalan, Armadilha parte de uma premissa que parece saída de um suspense B e abraça completamente essa natureza, talvez o filme de sensibilidade mais B do diretor desde A Visita (2015).

A prisão do pop

Cooper (Josh Hartnett) está com a filha no show da cantora pop Lady Rave (Saleka Shyamalan, filha do diretor). Ao descobrir que a polícia montou uma armadilha para prendê-lo ele usa todas as suas habilidades para encontrar um meio de fugir do local ao mesmo tempo em que tenta manter sua fachada diante da filha.

A narrativa tem sua parcela de conveniências, como o fato de Cooper constantemente encontrar pessoas que revelam facilmente os segredos da operação ou algumas soluções pouco plausíveis, como o avental roubado de um funcionário estar com a carteira do sujeito dentro para que Cooper possa usar um documento para sair de um problema. Muito disso, no entanto, é tratado com alguma medida de humor, parte da autoconsciência que o filme exibe a respeito de toda a sua vibe de filme B.

Hartnett, que vem experimentando uma renascença na carreira com participações em produções como Black Mirror ou Oppenheimer (2023), é ótimo em construir a dualidade de Cooper. Um pai amoroso, que parece se importar de verdade com a filha e quer mantê-la longe de sua faceta mais sombria, e um assassino ardiloso e cruel que não se importa em mentir, manipular ou ferir os outros para conseguir o que quer. A composição de Harnett mostra aos poucos as rachaduras que vão aparecendo em sua fachada de cidadão pacato, ficando mais agitado e com mais dificuldade de se manter no controle.

Esse desvelamento da personalidade do protagonista se dá também pelo modo como Shyamalan o filma, recorrendo a closes mais fechados ou planos detalhe de pequenos tiques e expressões do personagem que revelam sua tensão e gradual perda de controle, além de ressaltar a sensação de acuamento e como as opções e espaços estão diminuindo ao seu redor. A narrativa se equilibra em uma corda bamba tonal, tentando ao mesmo tempo nos fazer temer Cooper por sua natureza cruel e implacável e fazer nos importarmos com sua relação com a filha, a exemplo de toda a subtrama envolvendo a briga da filha com uma colega de escola. Essas duas facetas eventualmente convergem, como no momento em que Cooper convence a produção do show a escolher sua filha para ser chamada para dançar com Lady Raven no palco, simultaneamente conseguindo acesso aos bastidores da arena e fazendo a filha provocar ciúmes na patricinha que a maltratou.

O caos da liberdade

É uma pena que toda essa construção cuidadosa e o crescimento da tensão desmoronem assim que a narrativa deixa o estádio. A impressão é que Shyamalan tinha umas três ideias diferentes de como encerrar sua narrativa e resolveu executar todas ao mesmo tempo, resultando em um vai e vêm constante de caminhos narrativos, reviravoltas que se acumulam tão rápido que não causam o impacto devido e soluções tão convenientes que mesmo no clima de excesso do filme soam pouco críveis.

A revelação envolvendo a personagem de Alison Pill, por exemplo, falha em ser a grande reviravolta que o filme a conduz para ser por soar desonesta. A personagem aparece muito tarde e muito pouco para sentirmos que aquela é uma guinada inesperada que ressignifica o que achávamos entender da dinâmica daquelas personagens e mais algo que o roteiro tira da cartola no último minuto porque precisava chocar o espectador. Para funcionar como o filme esperava que funcionasse era preciso apresentar a personagem antes, mostrar o estado da relação de Cooper com ela e ir construindo alguma medida subjacente de ambiguidade.

É mais um exemplo que mostra como Shyamalan é um ótimo diretor, mas um péssimo roteirista, algo que já mencionei quando escrevi sobre Batem à Porta (2023). Shyamalan só tinha a ganhar se concentrasse seus esforços na direção e tivesse alguém para desenvolver os roteiros ao seu lado a partir dos argumentos que ele próprio cria.

Armadilha vale pelo modo como constrói o senso crescente de tensão no jogo de gato e rato entre o protagonista e seus perseguidores, bem como na dualidade que traz ao protagonista, sendo lamentável que ele se perca no clímax, desperdiçando o seu próprio potencial.

 

Nota: 6/10


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sexta-feira, 30 de agosto de 2024

Crítica – Tipos de Gentileza

 

Análise Crítica – Tipos de Gentileza

Review – Tipos de Gentileza
Os filmes do diretor grego Yorgos Lanthimos costumam ser divisivos, com reações que muitas vezes se localizam em polos extremos do amor ao ódio por suas produções. Em geral costumo gostar do niilismo surrealista do diretor, mas confesso que Tipos de Gentileza não me pegou.

Absurdo previsível

A produção consiste de um tríptico de três histórias curtas. Na primeira história seguimos Robert (Jesse Plemons), um sujeito completamente devotado ao chefe, Raymond (Willem Dafoe), que controla todos os seus horários e ações ao longo do dia. Quando Raymond pede a Robert que bata seu carro em alta velocidade contra outro veículo, Robert não fica confortável com a possibilidade de matar outra pessoa, criando um conflito na relação. Na segunda história um policial, Daniel (Jesse Plemons) se reúne com a esposa, Liz (Emma Stone), depois que ela se envolve em um naufrágio e fica meses perdida no mar. O problema é que Daniel desconfia que a mulher que voltou não é a sua esposa. A terceira história é protagonizada por Emily (Emma Stone) que é devotada a um bizarro culto sexual liderado por Omi (Willem Dafoe) e Aka (Hong Chau) e é incumbida de encontrar uma mulher que, segundo profecias, seria capaz de ressuscitar os mortos.

quarta-feira, 28 de agosto de 2024

Crítica – Sailor Moon: Cosmos

 

Análise Crítica – Sailor Moon: Cosmos

Review – Sailor Moon: Cosmos
Depois que Sailor Moon: Eternal adaptou o quarto arco do mangá em dois filmes, a saga de Usagi e suas aliadas iniciada em Sailor Moon Crystal chega ao fim neste Sailor Moon: Cosmos, que adapta o arco final do mangá. Como na história anterior, o anime produzido pela Netflix vem no formato de dois filmes.

A Lenda da Luz da Lua

A história inicia com Usagi e as demais voltando ao seu cotidiano de estudantes, mas essa paz é logo interrompida pela chegada das misteriosas Sailor Starlights, guerreiras de outro planeta que vieram à Terra um busca de sua princesa, e também da poderosa vilã Sailor Galaxia, que está em busca dos Sailor Crystals que Usagi e as outras carregam consigo.

terça-feira, 27 de agosto de 2024

Crítica – Os Novatos

 

Análise Crítica – Os Novatos

Review – Os Novatos
História mais velha que o próprio tempo: grupo de garotos meio nerds chega no ensino médio decididos a se tornarem populares e conquistarem garotas, a oportunidade vem na primeira grande festa do ano. É essa premissa extremamente típica de filmes adolescentes que Os Novatos vai construir, com o grosso do filme se passando em uma festa que sai do controle não muito diferente de produções como Mal Posso Esperar (1998) ou Projeto X (2012).

Só mais um besteirol americano

A trama gira em torno de Benj (Mason Thames, de O Telefone Preto), que vê na primeira festa do ensino médio uma chance de ficar com Bailey (Isabella Ferreira, de Crush: Amor Colorido), a melhor amiga de sua irmã, Alyssa (Ali Gallo), por quem é apaixonado há anos. Na festa Benj e seus amigos se envolvem em muitas confusões para tentar parecerem descolados.

segunda-feira, 26 de agosto de 2024

Crítica – Longlegs: Vínculo Mortal

 

Análise Crítica – Longlegs: Vínculo Mortal

Review – Longlegs: Vínculo Mortal
Dirigido por Osgood Perkins, filho do ator Anthony Perkins (famoso pelo Norman Bates de Psicose), este Longlegs: Vínculo Mortal mistura um thriller de serial killer com horror sobrenatural. Nem sempre a mistura transita de maneira fluida entre os gêneros, mas a condução de Perkins é eficiente em criar uma atmosfera de constante tensão.

Instinto sombrio

A narrativa é centrada em Lee Harker (Maika Monroe, de Corrente do Mal) uma jovem agente do FBI que tem um instinto afiado para encontrar criminosos. Ela acaba incumbida pelo seu superior, Carter (Blair Underwood), de investigar os assassinatos cometidos pelo misterioso Longlegs (Nicolas Cage). Ao longo de anos, o assassino matou cerca de dez famílias inteiras, sempre deixando uma carta cifrada no local do crime, mas nenhuma evidência física de sua participação nos crimes, que são considerados assassinatos seguidos de suicídio e as provas apontam para os pais de cada família cometendo os crimes.

sexta-feira, 23 de agosto de 2024

Crítica – Jackpot: Loteria Mortal!

 

Análise Crítica – Jackpot: Loteria Mortal!

Review – Jackpot: Loteria Mortal!
Dirigido por Paul Feig, Jackpot: Loteria Mortal! se passa em um futuro próximo no qual o estado da Califórnia criou uma loteria na qual qualquer um pode tomar o prêmio do vencedor desde que consiga matá-lo até o fim do dia. Katie (Awkwafina) chega recentemente a Los Angeles para tentar a sorte como atriz, acidentalmente ela se cadastra na loteria e acaba vencendo, ficando na mira de todas as pessoas da cidade. O guarda-costas Noel (John Cena) aparece oferecendo proteção em troca de um percentual do prêmio e assim eles se tornam aliados relutantes.