terça-feira, 26 de dezembro de 2023

Crítica – Rebel Moon Parte 1: A Menina do Fogo

 

Análise Crítica – Rebel Moon Parte 1: A Menina do Fogo

Review – Rebel Moon Parte 1: A Menina do Fogo
Os primeiros escritos sobre gêneros dramatúrgicos datam da Grécia antiga e de pensadores como Aristóteles. O filósofo ponderava como os gêneros, com suas estruturas típicas, propiciavam certa economia narrativa. Como o espectador já sabia mais ou menos como a história iria se estruturar, o dramaturgo poderia focar sua atenção nas particularidades dos personagens ou do universo. Hollywood se vale até hoje desse princípio de economia narrativa, com filmes tipo John Wick ou Missão Impossível simplificando suas tramas (porque já sabemos como elas irão transcorrer) para focar no espetáculo de ação.

Zack Snyder, por outro lado, parece ignorar a ideia de economia narrativa neste Rebel Moon Parte 1: A Menina do Fogo, um filme que é basicamente uma cópia de Star Wars misturado com algumas outras produções (como Os Sete Samurais do Kurosawa). Não há nada de original na trama ou universo criado por ele e não teria problema se Snyder ao menos reconhecesse essa natureza derivativa e oferecesse visuais, locais ou cenas de ação bem construídas (como os dois Avatar de James Cameron), mas ao invés disso o diretor parece tão deslumbrado com sua própria criação que conduz tudo com absoluta segurança de que fez algo completamente original, resultando em uma trama arrastada pela necessidade de explicar os próprios clichês sem fazer nada para subvertê-los, como se estivéssemos assistindo algo completamente novo.

A trama é protagonizada por Kora (Sofia Boutella) uma jovem fazendeira em um planeta remoto que vive uma vida pacata até que o exército do Planeta-Mãe chega exigindo toda a colheita do local. Oprimidos pelo império maligno, Kora parte para se juntar a uma rebelião e juntar guerreiros para proteger seu povo. No processo descobrimos que ela tem uma ligação com o Planeta-Mãe e que seu “pai” é um poderoso general inimigo. Ou seja, é basicamente uma cópia de Star Wars, mas a trama gasta quase metade do filme até engrenar, preenchendo todo esse tempo com longos diálogos expositivos e flashbacks idem que soam desnecessários para personagens e situações que não são nada além de uma coleção de clichês.

Não bastasse o tédio de uma trama clichê e arrastada, ainda há o problema da mão pesada de Snyder, sempre tentando forçar para fazer tudo soar épico e original como se não fosse extremamente transparente as fontes em que ele se baseia. Mesmo visualmente, a produção soa como uma mistura de referências sem personalidade de coisas como Star Wars, Duna ou Warhammer 40k. São poucos os momentos em que o filme realmente oferece algo visualmente interessante, como a criatura aracnídea interpretada por Jena Malone.

A ação é repleta dos mesmos excessos de câmera lenta que outros filmes do diretor e servem mais para quebrar o ritmo e deixar tudo arrastado do que para ressaltar determinadas proezas dos personagens. Outro problema é o modo como a ação é montada e parece saltar certos eventos na tentativa de suavizar a violência das lutas. Snyder e a Netflix já tinham avisado de antemão que o filme ganharia posteriormente uma versão do diretor com maior duração e com violência mais explícita.

É uma decisão que soa picareta e gananciosa (como o Napoleão de Ridley Scott), já que supostamente Snyder teve total liberdade para fazer o que bem entendesse, então porque não entregar a versão que mais lhe agradava? A questão de duração ou classificação indicativa não são problemas para um filme em streaming, então não há um motivo real pra duas versões. É visível que a ação foi feita para ser brutal e sangrenta, mas como tudo isso está ausente desse corte, as lutas não tem impacto algum e deixam evidente que está faltando algo. Além disso, os cortes feitos para remover momentos mais brutais quebram todo o senso de continuidade da ação, com personagens se teletransportando pelo cambo de batalha sem qualquer coesão, nos fazendo perder de vista quem está aonde e fazendo o quê.

Sofia Boutella faz o que pode para dar alguma intensidade a Kora, mas é uma personagem tão vazia que a atriz não tem muito que fazer com ela. Ed Skrein faz do comandante Noble um vilão tão caricato que termina soando mais ridículo do que ameaçador, embora a sisudez da condução de Snyder seja parte do problema. Se o diretor reconhecesse o ridículo da conduta histriônica desse fascista de ambições grandiloquentes o personagem talvez fizesse sentido, mas Snyder maneja suas cenas como se estivesse diante de um vilão extremamente peculiar como o Hans Landa de Christoph Waltz ou o Amon Goeth de Ralph Fiennes, quando está a quilômetros disso. Ray Fisher não consegue trazer qualquer aura de autoridade ou imposição para Bloodaxe, falhando em convencer que é um grande líder revolucionário.

Alguns personagens nunca tem tempo de fazer nada interessante ou que tenha muita repercussão na trama. Figuras como Nemesis (Bae Donna) ou Tarak (Staz Nair) nunca mostram a que vieram e poderiam ser cortados sem muito prejuízo. Sim, eles podem ser importantes na segunda parte, mas se esse for o caso deviam ser apresentados no próximo filme

Genérico, arrastado e inane, Rebel Moon Parte 1: A Menina do Fogo é desprovido de substância ou estilo.

 

Nota: 2/10


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