segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

Crítica – Avatar: O Caminho da Água

 

Análise Crítica – Avatar: O Caminho da Água

Review Crítica – Avatar: O Caminho da Água
Confesso que tinha minhas reservas com Avatar: O Caminho da Água. O primeiro filme entregava um grande espetáculo visual que criava um universo interessantíssimo, mas a trama básica me fazia pensar se seria capaz de sustentar uma franquia. Esse sentimento foi ampliado pelo hiato de treze anos entre os dois filmes. Afinal, será que James Cameron conseguiria ainda fazer o público se importar com o mundo de Pandora depois de tanto tempo? Será que seria mais um apelo cínico à nostalgia como Hollywood tem feito incansavelmente nos últimos anos? Para minha surpresa, o resultado de Avatar: O Caminho da Água é majoritariamente positivo.

A trama se passa muitos anos depois do primeiro filme. Jake (Sam Worthington) agora tem uma família com Neytiri (Zoe Saldana) e vive em comunhão com o povo da floresta e com os poucos humanos que restaram em Pandora. Tudo muda quando a humanidade retornar pronta para guerra e para retomar o controle do planeta. Jake lidera uma guerrilha contra os humanos, mas os planos mudam com a chegada de um clone do coronel Quaritch (Stephen Lang), agora num avatar de Na’vi, enviado especialmente para caçar Jake e sua família. Jake decide deixar a floresta e se refugiar com o povo da água, onde acredita que ficará seguro.

O filme basicamente repete a trama do anterior, com Jake (agora com a família) sendo “estranhos no ninho” precisando se adaptar aos costumes e práticas de um povo que não entende para ser aceito por ele. Se a trama do primeiro já era relativamente derivativa, aqui temos a derivação da derivação ao ponto em que temo que futuras continuações simplesmente repitam a mesma estrutura de Jake se mudar para um novo bioma, conhecer uma nova tribo de Na’vi e precisar aprender seus costumes.

Não ajuda que Jake continue sendo um protagonista básico e sem personalidade que não nos dá muito com o que se importar além de narrações excessivamente expositivas que muitas vezes explicam aqui que já estamos vendo na tela. Incomoda também a desculpa usada para trazer Quaritch de volta, já que a ideia de clones que herdam as memórias do original é o tipo de dispositivo narrativo que pode ser abusado facilmente para tornar a morte um elemento dramatúrgico inconsequente. Sem falar que a despeito da aura de ameaça que Lang colocava no vilão, o personagem não é lá grande coisa ao ponto de justificar esse retorno, sendo mais sustentado pela performance de seu ator do que pela construção do roteiro.

Sim, há uma clara metáfora para a violência colonial do nosso mundo no modo como os humanos tratam os Na’vi ou a natureza (a cena do óleo sendo retirado de um Tulkum claramente referencia a indústria baleeira), bem como uma crítica à postura dos Estados Unidos como “polícia do mundo” e suas “guerras preventivas” no exterior, com as cenas de Quaritch torturando nativos e queimando vilas remetendo ao Vietnã. A questão é que tudo isso acaba sendo relativamente superficial, não falando muito além do que já sabemos sobre esses temas. O próprio James Cameron já usou antes a ficção científica como metáfora para o Vietnã em Aliens: O Resgate (1986).

Roteiros, no entanto, nunca foram o forte ou o foco do cinema de Cameron e sim o espetáculo audiovisual e, nesse aspecto, o cineasta cumpre tudo aquilo que promete, entregando ação e qualidade visual como poucos diretores conseguem. Visualmente Avatar: O Caminho da Água é ainda mais deslumbrante que o anterior. O mundo de pandora vibra e pulsa como um lugar real. As criaturas da água se movem com peso e fluidez como se realmente se movessem sob a pressão e correntes de um oceano, os Na’Vi se movem como se tivessem esqueleto e músculos reais e não como bonecos de pano como a maioria dos personagens digitais. Mesmo em um cenário dominado por computação gráfica e seres digitais, o que Cameron entrega aqui está, de fato, em outro patamar.

Nesse sentido não posso deixar de recomendar que esse filme seja visto em um cinema com a maior tela possível e em 3D. Sim, em 3D. Eu sou a primeira pessoa a dizer que 3ª em geral é picaretagem porque a maioria dos filmes lançados no formato não são filmados com câmeras 3D, mas convertidos para o formato durante a pós produção, o que não costuma dar conta da ilusão de tridimensionalidade. Cameron, por outro lado, filmou tudo com câmeras 3D, conseguindo de fato transmitir a sensação de profundidade espacial e volume dos objetos, nos deixando imersos no mundo que ele cria no filme.

As cenas de ação são muito bem conduzidas, conseguindo injetar tensão, urgência, drama e empolgação aos embates entre humanos e Na’vi. Por mais que os personagens sejam básicos, a ação é tão bem conduzida que eu me vi temendo pelo destino desses personagens, tenso com os possíveis desdobramentos e mortes durante o confronto com as forças lideradas por Quaritch ao final do filme. O fato de conseguir me conectar com os eventos e personagens na tela mesmo sabendo conscientemente que Jake Sully é um dos protagonistas mais sem sal feitos por Hollywood é um testamento da habilidade de James Cameron em criar cenas de ação espetaculares que nos envolvem pelo puro deleite visual e emocional que elas proporcionam.

O desfecho deixa algumas pontas soltas e caminhos possíveis para futuras continuações. Nem todos esses desdobramentos são exatamente bem construídos, como a relação de Spider (Jack Champion) e Quaritch, enquanto outros são desnecessariamente empurrados para próximos filmes a exemplo da revelação sobre a origem de Kiri (Sigourney Weaver). Esses elementos e outros já anteriormente citados me fazem duvidar se de fato há fôlego para o número de continuações que Cameron planeja ou se resultará em algo semelhante ao que aconteceu com a Warner e a tentativa de múltiplas continuações de Animais Fantásticos que resultou em filmes progressivamente piores.

Assim, mesmo sendo derivativo em sua trama, Avatar: O Caminho da Água entrega um nível espetáculo que tem se tornado cada vez mais raro em blockbusters hollywoodianos, envolvendo e encantando pela sua inventividade visual e condução das cenas de ação.

 

Nota: 8/10


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