segunda-feira, 11 de abril de 2022

Crítica – Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore

 

Análise Crítica – Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore

Review – Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore
Depois da recepção e bilheteria abaixo do esperado de Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald (2018), a Warner decidiu adiar o terceiro filme da saga para reestruturar os planos. Outros atrasos aconteceram por conta da pandemia, mas a ideia do estúdio reconhecer o erro e repensar o caminho dava esperança de que este terceiro filme, Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore, poderia finalmente acertar.

Na trama, uma eleição está para decidir a nova liderança do mundo bruxo e Grindelwald (Mads Mikkelsen) planeja controlar o pleito a seu favor. Por sua vez Dumbledore (Jude Law) percebe que não pode mais acompanhar de longe a ascensão do rival e bola um plano que envolve Newt Scamander (Eddie Redmayne), Kowalski (Dan Fogler) e outros aliados.

A primeira coisa que chama atenção é o quão inconsequentes a maioria dos personagens são para a trama. Personagens são presos, resgatados, atentados são feitos e nada disso faz qualquer diferença. Se no anterior os personagens ao menos tinham algum arco dramático, como a jornada de Newt em compreender o imperativo moral de enfrentar o fascismo, aqui ninguém tem qualquer narrativa própria, passa por qualquer transformação ou aprendizado. Tirando Dumbledore e Grindelwald nenhum deles soa necessário para a trama. Alguns personagens, como o irmão de Newt (tão sem personalidade que nem me lembro o nome), poderiam ser limados completamente que não faria diferença.

Mesmo a dupla de bruxos poderosos também não tem muito desenvolvimento. Ouvimos os dois falarem da paixão arrebatadora que tiveram, mas isso nunca se materializa na tela. Era algo que poderia ser resolvido com um flashback em que víssemos os dois no auge da paixão para que compreendêssemos esse afeto poderoso. A resolução do problema envolvendo o pacto de sangue que impedia Dumbledore de agir contra Grindelwald vem muito fácil e, como muito do filme, vem mais de um evento fortuito do que consequência direta das ações.

A narrativa também falha em construir elementos que foram apresentados nos anteriores. Desde o primeiro filme, por exemplo, Creedence (Ezra Miller) era posicionado como um ser extremamente poderoso, alguém que viraria a balança a favor de Grindelwald. No entanto, aqui ele é facilmente derrotado. Muitos personagens, incluindo Creedence, dão guinadas perto do final que não foram devidamente construídas ou merecidas, soando como um dispositivo gratuito do roteiro.

Conveniente também é a habilidade de Grindewald em ver o futuro, que funciona ou deixa de funcionar quando a trama exige, com o vilão deixando até mesmo de prever ações que nem precisava de magia para adivinhar, como as reais intenções de Yusuf (William Nadylam). Aliás, Yusuf e Gridelwald tem a melhor cena do filme, quando Grindelwald apaga as memórias que ele tem de Leta. O momento serve para mostrar como a violência do genocídio é muito mais do que simplesmente matar, é uma violência contra a memória e uma tentativa de reescrever a história à força.

Uma pena que o restante do filme praticamente evite lidar com qualquer discussão mais consistente a respeito do fascismo ou pluralidade de opiniões em um regime democrático. Como há a presença de um pleito eleitoral na trama, com a brasileira Vicência Santos (Maria Fernanda Cândido) sendo uma candidata, imaginei que isso seria usado como um meio de debater sobre civilidade, tolerância e como o autoritarismo penetra nas instituições, no entanto isso nunca acontece. O filme nos apresenta uma eleição em que não conhecemos nada sobre as visões de mundo dos candidatos e no fim tudo é decidido por um animal mágico. Para um filme com tantas temáticas políticas ele é bizarramente apolítico.

O filme também tem sua parcela de eventos mal construídos ou pouco convincentes, como a ideia de Kowalski tentar assassinar Grindelwald. Considerando que todos sabem que ele é um trouxa desprovido de magia (o próprio Grindewald diz isso explicitamente), como é que todos acreditam que ele seria capaz de usar magia para tentar matar o vilão? Não faz sentido e o filme nunca tenta trabalhar como isso seria minimamente crível nas regras até então estabelecidas.

Eu tinha esperança que Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore fosse finalmente mostrar ao que essa nova saga veio, mas apenas exibe uma trama inane, confusa, cheia de subtramas que não levam a lugar nenhum e personagens mal desenvolvidos.

 

Nota: 4/10


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