terça-feira, 12 de março de 2019

Crítica – Megarromântico


Análise Crítica – Megarromântico


Review – Megarromântico
A proposta inicial de Megarromântico parece ser a de criticar os restritos ideais de beleza e excesso de idealização dos relacionamentos nas comédias românticas hollywoodianas. Ao longo de sua execução o filme demonstra certa confusão em relação à sua proposta, aderindo às próprias convenções que parecia criticar. Dessa maneira, ele nunca atinge a contundência de algo como 500 Dias Com Ela (2009) que também mostrava as consequências de idealizar demais um relacionamento e imaginar que na vida tudo se desenrola igual a uma comédia romântica.

A narrativa é centrada em Natalie (Rebel Wilson) uma arquiteta que desde pequena foi ensinada pela mãe a não acreditar no que o cinema diz sobre o amor e cresceu rejeitando a ideia de amor romântico construída pelo cinema. Um dia ela é assaltada no metrô e bate a cabeça com força, ao acordar ela descobre que está dentro de uma comédia romântica na qual um bonitão, Blake (Liam Hemsworth). se apaixona por ela sem motivo algum, da mesma forma que uma bela instrutora de yoga, Isabella (Priyanka Chopra), se apaixona por Josh (Adam Devine), melhor amigo de Natalie.

O início é competente em nos mostrar como a natureza idealizada das comédias românticas se manifesta até mesmo nos cenários, com ruas perfeitamente limpas e um comércio que consiste apenas de cafés, restaurantes, lojas de grife femininas ou lojas de cupcakes bonitinhos. O modo gratuito e exagerado com o qual Blake se comporta junto de Natalie serve para mostrar o quanto boa parte das comédias românticas nunca consegue justificar a paixão arrebatadora que o galã sente pela mocinha, acontecendo apenas porque o roteiro exige que aconteça. De maneira semelhante, a mudança na relação de Natalie com a assistente, Whitney (Betty Gilpin, da série GLOW), serve para mostrar o inerente machismo das comédias românticas que sempre coloca mulheres em posição de rivalidade.

Os diálogos constantemente referenciam frases de efeito e declarações românticas de comédias românticas famosas, mas na maioria dos casos não tem muito a comentar sobre isso, confiando que apenas o senso de nostalgia ou reconhecimento dessas referências será o bastante para que o público ache tudo divertido. A questão é que tudo aquilo que inicialmente parecia crítico e paródico cai completamente no convencional na segunda metade quando o filme se torna uma cópia direta de O Casamento do Meu Melhor Amigo (1997), se rendendo ao clichê da protagonista que se dá conta quase que tarde demais que seu grande amor sempre esteve ao seu lado, admirando-a em silêncio.

Assim toda a verve revisionista se perde em prol de mensagens batidas sobre não fechar os olhos para o amor que está perto da gente. Claro, há um esforço de quebrar certos padrões físicos, já que nem Wilson nem Devine (que já tinham feito par romântico na trilogia A Escolha Perfeita) se encaixam na aparência tradicional de mocinhas e galãs desse tipo de filme, e passar uma mensagem de auto aceitação de que devemos nos amar como somos, mas soa muito pouco para um filme que inicialmente demonstrava ambicionar muito mais. A sensação é que todas as brincadeiras metalinguísticas servem mais para facilitar que o público aceite certos lugares-comuns desgastados do que revisar de modo crítico e consistente as temáticas e iconografia do gênero.

O resultado de Megarromântico acaba sendo um filme incerto de sua própria identidade, indeciso entre uma crítica quebradora de padrões e um exercício autoconsciente de conformismo.

Nota: 5/10

Trailer


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