domingo, 18 de novembro de 2018

Crítica – Luna


Análise Crítica – Luna


Review – Luna
Uma garota percebe olhares diferentes dos colegas de escola. Ela então pega o celular e começa a chorar com o que vê. Em casa, mensagens abusivas e agressivas chegam a ela via redes sociais. Sentindo-se acuada, ela grava um vídeo para a mãe que mais soa como uma carta de suicídio. Tudo isso acontece nos primeiros minutos de Luna e se essa premissa parece mais uma história trágica de cyberbullying e slut shaming, o que o diretor Cris Azzi faz a seguir consegue subverter nossas expectativas.

A trama é centrada em Luana (Eduarda Fernandes), uma adolescente cuja vida é aparentemente banal. Ela faz amizade com Emília (Ana Clara Ligeiro), recém-chegada à sua escola. A amizade com Emília faz Luana explorar sua sexualidade e também a frequentar chats de vídeo via internet no qual Luana conversa com outras pessoas usando uma máscara e nome falso para proteger a própria identidade.

Durante boa parte da projeção, Luna é uma trama bem típica de amadurecimento e autodescoberta, mas que conquista pelo carisma e naturalidade que as intérpretes de Luana e Emília têm juntas. Aos poucos, no entanto, seu olhar vai passando do amadurecimento para as tensões enfrentadas pelas mulheres ao explorar o próprio corpo. De um lado há o medo das represálias sociais, o temor de ser “mal vista” ou criticada por se sentir segura ou confortável consigo mesma. Do outro, há o temor disso atrair a atenção de predadores, da violência sexual e abusos físicos.

O filme é eficiente em criar o clima de desamparo experimentado por Luana uma vez que ela é exposta na internet, a sensação de estar vulnerável e desprotegida sem ter como resolver a situação. Esse sentimento é ressaltado pelo modo como a personagem é filmada no quintal de sua casa, cercada de névoa em um bosque, servindo como uma metáfora visual para o sentimento de isolamento de Luana.

O terceiro ato, porém, acaba tratando de maneira muito passageira algumas questões sérias, como o quase abuso sofrido pela protagonista nas mãos do pai de uma amiga, e toda a questão de exposição em redes sociais, em especial o fato de Emília decidir filmar Luana, também é questionada muito rapidamente. Apesar disso, as intenções do filme se concretizam muito bem no ótimo desfecho no qual Luana enfrenta os xingamentos na escola ao clamar para si o domínio do próprio corpo, recebendo também o apoio de alguns colegas, mostrando que não há nada errado em assumir o próprio corpo.

Desta maneira, Luna se mostra um estudo cheio de sensibilidade do processo de amadurecimento da juventude feminina e dos desafios enfrentados por elas.


Nota: 7/10


Esse texto faz parte de nossa cobertura do XIV Panorama Internacional Coisa de Cinema


Trailer

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