segunda-feira, 1 de julho de 2019

Crítica – Homem-Aranha: Longe de Casa


Análise Crítica – Homem-Aranha: Longe de Casa


Review – Homem-Aranha: Longe de Casa
Homem-Aranha: De Volta ao Lar (2017) era um competente recomeço para o herói aracnídeo nos cinemas. O filme deixava uma clara possibilidade de continuação em sua cena pós-créditos, com Mac Gargan (Michael Mando), que os fãs de quadrinhos conhecem como o Escorpião, jurando vingança contra o herói. A Marvel, no entanto, não usou esse gancho em Homem-Aranha: Longe de Casa, preferindo repercutir o impacto dos eventos vistos em Vingadores: Ultimato.

A trama começa situando o que aconteceu após a derrota de Thanos (Josh Brolin) e o retorno daqueles que sumiram por conta do estalo. O mundo está de luto por conta dos heróis que pereceram na última grande batalha e Peter Parker (Tom Holland) questiona seu lugar no vácuo de poder deixado pela ausência de figuras como Tony Stark (Robert Downey Jr) e Steve Rogers (Chris Evans). De férias, Peter viaja com sua turma de escola para a Europa e lá ele planeja contar a MJ (Zendaya) que gosta dela. Os planos de Peter são frustrados quando Nick Fury (Samuel L. Jackson) aparece em seu hotel pedindo ajuda para enfrentar criaturas de outra dimensão com a ajuda de Quentin Beck (Jake Gyllenhaal), também de outra dimensão.

Se o anterior era em essência um filme oitentista baseado nas tramas colegiais de John Hughes, esse usa outro conjunto de referências dessa década como Férias Frustradas II (1985) ou Jogos de Guerra (1983), funcionando quase como uma mistura desses dois filmes. A primeira metade da trama, porém, carece de um maior direcionamento, demorando a chegar em suas reais intenções e falhando em entregar uma ameaça interessante, já que os Elementais são basicamente grandes nuvens de computação gráfica e filmes como Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado (2007) ou Lanterna Verde (2011) já mostraram que “vilões nuvem” não funcionam.

É só quando acontece uma reviravolta lá pela metade que o filme realmente ganha fôlego e apresenta um conflito bem delimitado, enquanto que antes tudo parecia relativamente frouxo e episódico. Não vou entrar em detalhes em relação ao que acontece, mas quem conhece os quadrinhos certamente vai conseguir antever a revelação (eu já supus o que aconteceria desde o primeiro trailer).

Muito do filme gira em torno de Peter em dúvida entre sua vida de super-herói ou deixar tudo de lado para curtir sua adolescência e viver seu romance ao lado de MJ. Não é exatamente novo nos filmes do herói e Sam Raimi já tinha tratado esse dilema muito bem em Homem-Aranha 2 (2004), mas Tom Holland e Zendaya são fofos o suficiente para nos fazer embarcar no flerte desajeitado dos dois personagens e da segunda metade em diante a trama consegue colocar conflitos que servem para amadurecer Peter. Já Jake Gyllenhaal dá a Beck/Mysterio carisma suficiente para que compreendamos o fato de Peter confiar nele em tão pouco tempo, embora muito disso também se deva ao fato do garoto estar em busca de um mentor substituto com a ausência de Stark.

Embora o filme saiba explorar com competência as habilidades de Mysterio, mostrando como ele pode ser perigoso e criando imagens bem delirantes, a motivação do personagem acaba sendo pouco convincente para o escopo do plano que ele cria e torna tudo um pouco mirabolante demais. Ainda assim, o texto é inteligente em usar o personagem como um reflexo dos tempos em que vivemos, com notícias falsas e deepfakes circulando na internet de maneira tão descontrolada que se torna difícil saber o que é real e as pessoas simplesmente deixam de dar valor à verdade para dar valor ao que confirma seus pontos de vista, sejam eles válidos ou não.

Tal como o filme anterior do amigão da vizinhança, este aqui exibe uma boa dose de humor, mas, da mesma forma que seu predecessor e outros filmes da Marvel, o uso do humor é relativamente irregular. Ele funciona muito bem quando serve à trama em cenas como a que Peter tenta sentar ao lado de MJ no avião, nos diálogos desajeitados entre Peter e MJ ou no aparvalhado professor vivido por Martin Starr, mas em muitos momentos as gags cômicas mais atrapalham do que ajudam.

Um exemplo é a cena em que Peter conhece Nick Fury pela primeira vez e eles são constantemente interrompidos por roncos dos colegas e pessoas batendo na porta. Era uma cena para mostrar as personalidades dessas duas pessoas colidindo pela primeira vez e dar prosseguimento à trama, mas o ritmo e o peso da cena é constantemente interrompido por piadinhas inúteis que gastam tempo sem ter nada a dizer. É como se a Marvel achasse que o público não é capaz de levar os dramas e dilemas desses personagens à sério ou considere que precisa ficar colocando piadinhas em toda cena como forma de chamar atenção da audiência. De todo modo, essa necessidade incansável de enfiar humor em qualquer cena o tempo todo já está se tornando mais que cansativa.

Homem-Aranha: Longe de Casa é uma competente, ainda que irregular, aventura que se sustenta pelo carisma de seus personagens e pelo modo como repercute os últimos eventos do universo Marvel.

Nota: 7/10

Obs: O filme tem duas cenas adicionais durante os créditos


Trailer

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