terça-feira, 29 de agosto de 2023

Crítica – The Beanie Bubble: O Fenômeno das Pelúcias

 

Análise Crítica – The Beanie Bubble: O Fenômeno das Pelúcias

Review – The Beanie Bubble: O Fenômeno das Pelúcias
De início The Beanie Bubble: O Fênomeno das Pelúcias parece mais um desses filmes sobre produtos para tentar contar uma história de um produto bem sucedido para falar de superação de dificuldades e sucesso. A impressão é que filmes como esse, Air, Tetris ou Flamin Hot são feitos para reproduzir mitos capitalistas sobre como basta trabalhar duro e acreditar em si para ter sucesso, mas como a ideia de meritocracia já não convence tanto e vivemos em um desencanto com o capitalismo, Hollywood decide contar histórias de sucesso de produtos. Felizmente a produção da AppleTV+ não cai nessa mera exaltação do capitalismo, mas exibe outros problemas.

A trama conta a história de ascensão e queda dos Beanie Babies bichinhos de pelúcia colecionáveis que viraram febre no início da década de 90 e gerou todo um mercado paralelo de colecionadores já que cada pelúcia era produzida em número limitado. A narrativa foca em Ty Warner (Zach Galifianakis), criador da empresa, e nas mulheres ao redor dele que foram essenciais para o sucesso da empresa. Robbie (Elizabeth Banks) era a sócia de Ty e responsável pelo dia a dia administrativo da corporação, Maya (Geraldine Viswanathan) foi quem teve a ideia dos Beanies serem lançados em número limitado e usar a nascente internet para fomentar comunidades de colecionadores e Sheila (Sarah Snook) era a noiva de Ty e as filhas dela deram ao empresário muitos designs para as pelúcias.

É menos uma história de sucesso e mais como o capitalismo pós-moderno tenta produzir demanda artificialmente para lucrar com especulação de valor em coisas que, em essência, não tem lá muito valor. Isso gera “bolhas” em que muita gente corre para obter esses bens, acreditando no dinheiro fácil que pode vir deles, até que o interesse eventualmente cai e tudo perde valor da noite para o dia. Não é à toa que o filme traça paralelos entre a bolha dos Beanies com criptomoedas e NFTs, tentativas recentes de criar uma demanda urgente por algo que essencialmente não vale nada na busca por somas de dinheiro fácil e rápido.

É também uma narrativa que vira do avesso a ideia de que o sucesso de uma empresa se dá por um gestor de visão. Aqui Ty é um sujeito mesquinho, ególatra e inseguro (uma combinação de traços que raramente produz bons resultados) com ideias péssimas que é sempre salvo pelas pessoas no seu entorno. Se não fosse a exploração do trabalho de pessoas como Robbie e Maya, a empresa nunca teria sucesso e o filme deixa claro que as ideias delas nunca foram fruto de algum estímulo dado por Ty e sim criadas a despeito dos piores impulsos do dono da empresa, como que para tentar salvar os empregos da estupidez do dono. A ideia do CEO como essa grande mente e principal responsável pelo sucesso de uma empresa cai por terra, desvelando a natureza exploratória do capitalismo na qual são trabalhadores que nunca recebem o devido valor que enriquecem seus patrões, deixando claro, por exemplo, como Maya era mal paga e preterida em promoções.

O terceiro grande fio temático é mostrar o machismo do ambiente corporativo e a tentativa de construir uma história de empoderamento a respeito das três mulheres que a narrativa acompanha. Entre as principais ideias é a que menos tem desenvolvimento e acaba funcionando porque todo o desfecho edificante dessas personagens contrasta com o humor satírico do filme até então. Na verdade em muitos momentos o filme dá esse tipo de guinada tonal brusca que não faz essas diferentes abordagens soarem coesas e deixa a impressão de um material inconsistente, que em certos momentos não sabe exatamente como se posicionar diante da história ou o que quer exatamente com suas personagens.

Outro problema é a quantidade de personagens, já que algumas não merecem a atenção devida, em especial Sheila, que aparece relativamente e não tem muito desenvolvimento para além de alguém que coloca as filhas em primeiro lugar. A trama dela é também a menos conectada ao sucesso direto da empresa, então talvez fosse melhor se a narrativa focasse mais em Maya e Robbie.

Zach Galifianakis rouba a cena como o mesquinho Ty, alguém que teve uma vida difícil e muitos problemas de abandono afetivo e que tentou lidar com isso da forma menos saudável possível. O resultado foi um sujeito instável, mitômano e que almeja ser o centro das atenções ao mesmo tempo em que se recusa a dar a devida atenção às pessoas ao seu redor. É impressionante como o egoísmo e estupidez de Ty quase sabotou o negócio em muitos momentos, tentando fechar publicações de colecionadores, sendo que isso só criava mais hype e impressão de valor a suas pelúcias, ou ideias sem sentido como usar Testemunhas de Jeová para vender seus produtos de porta em porta (e eu suponho que restringir os membros de uma força de vendas a uma religião deve configurar algum tipo de prática discriminatória).

Robbie é tratada como uma amiga leal, que conheceu Ty em seu pior momento e entende o que está por trás da fachada que ele cria para si, mas aos poucos desperta para o fato de Ty não se importar com ninguém além dele mesmo. Já Maya se mostra como alguém que verdadeiramente gosta da empresa e acredita em Ty, sempre buscando soluções inovadoras, embora a maneira como o chefe constantemente a menospreza acaba pesando sobre ela.

The Beanie Bubble acerta ao tentar virar do avesso certas noções sobre sucesso e capitalismo que produções semelhantes tentam nos convencer, embora seja prejudicado por uma quantidade muito grande de temas e protagonistas que não são plenamente desenvolvidos.

 

Nota: 6/10


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