terça-feira, 8 de março de 2022

Crítica – Kimi: Alguém Está Escutando

 

Análise Crítica – Kimi: Alguém Está Escutando

Review – Kimi: Alguém Está Escutando
Misturando Janela Indiscreta (1954) e Um Tiro na Noite (1981), Kimi: Alguém Está Escutando é um suspense eficiente, que fala sobre nosso medo de sair provocado pela pandemia e também a respeito da paranoia de sermos o tempo todo monitorados por dispositivos como Siri e Alexa.

Na trama, Angela (Zoe Kravitz) é uma jovem agorafóbica (medo de sair de casa) que trabalha numa companhia de tecnologia fazendo debug para a assistente virtual Kimi, um dispositivo não muito diferente da Alexa. Um dia, trabalhando nos áudios cujos comandos o programa não consegue interpretar, ela ouve o que parece ser um assassinato. Angela tenta levar o problema aos superiores, mas todos estão preocupados que a empresa em breve venderá ações na bolsa, preferindo silenciar Angela. Assim, a jovem precisa superar os medos, lidar com a ameaça e resolver o mistério.

Zoe Kravitz é ótima em construir o senso de alienação e distanciamento de Kimi, tão incomodada e temerosa por contato que soa quase como alguém com Asperger. Como o roteiro trata apenas de maneira vaga os eventos que levaram ao trauma da personagem, cabe à atuação de Kravitz nos mostrar como a ideia de sair de casa deixa Angela aterrorizada.

De certa forma, a agorafobia de Angela acaba funcionando também como uma metáfora para nosso medo de sair de casa durante a pandemia, no qual, assim como a protagonista, tememos uma ameaça invisível sempre à espreita. A narrativa, inclusive, se passa no período pandêmico, com os personagens mencionando constantemente os efeitos psicológicos do isolamento.

Do mesmo modo, a exploração da tecnologia e do funcionamento desses dispositivos de assistentes virtuais revelam como praticamente não há mais privacidade. Isso fica evidente quando Angela vai à sede da empresa e descobre que eles já tem até seu cadastro biométrico de retina mesmo sem ter fornecido diretamente essas informações. Falar desse tema envolveria discutir várias questões sobre tecnologia e ética, mas tal como os traumas da protagonistas, o roteiro passa rápido por esses elementos, preferindo focar no suspense.

A condução de Steven Soderbergh é eficiente em criar uma atmosfera de tensão na qual a protagonista não sabe em quem confiar ou em que medida seus traumas estão afetando o modo como ela lida com a situação. Nas cenas em que Kimi sai de casa, Soderbergh abusa de enquadramentos com a câmera inclinada em relação ao eixo horizontal (também chamados de “plano holandês”) que conferem um caráter distorcido às imagens criando uma sensação de vertigem e desnorteamento que contribuem para transmitir a percepção distorcida e o desconforto que Angela experimenta ao sair de casa.

Kimi: Alguém Está Escutando passa apenas superficialmente por seus principais temas, mas se sustenta por conta da intepretação dedicada de Zoe Kravitz e a direção que consegue criar um envolvente clima de tensão e paranoia.

 

Nota: 7/10


Trailer

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