terça-feira, 17 de dezembro de 2019

Crítica – A Batalha das Correntes


Análise Crítica – A Batalha das Correntes


Review – A Batalha das Correntes
O lançamento deste A Batalha das Correntes no cinema é um daqueles casos que me deixa confuso quanto ao processo de decisão de algumas distribuidoras brasileiras. Filmes celebrados, sucesso de público e crítica, vencedores de prêmios muitas vezes chegam diretamente em home video (um dos casos mais recentes foi Ex Machina), enquanto grandes fracassos ignorados (merecidamente) por múltiplas instâncias de recepção ocupam espaço precioso nas telas de cinema do Brasil.

A Batalha das Correntes se encaixa no segundo caso. Pronto para ser lançado em 2017, o filme entrou num limbo de distribuição (como aconteceu com Amigos Para Sempre) depois que o escândalo envolvendo o produtor Harvey Weinstein tomou as manchetes. Dois anos depois, o filme, que tinha sido pensado para concorrer em festivais e premiações, foi finalmente lançado e a recepção foi de pura apatia. Que um filme que tenha demorado tanto para sair e tenha tido uma recepção tão morna (merecidamente) seja lançado nos cinemas ao invés de serviços de streaming ou coisa assim não tem justificativa. Principalmente quando produtos muito melhores sequer tem chance de chegar a uma sala de cinema.

A trama é baseada na história real da disputa entre Thomas Edison (Benedict Cumberbatch) e George Westinghouse (Michael Shannon) a respeito de qual sistema elétrico iria prevalecer no fornecimento de energia nos Estados Unidos. A disputa entre os dois se desenvolveu ao longo de anos e envolveu ainda nomes como Nikola Tesla (Nicholas Hoult).

Contando a história através de reuniões envolvendo longas discussões sobre correntes, motores e polaridade, a narrativa tem dificuldade em transformar a disputa entre esses dois homens em uma matéria dramática envolvente, falhando em despertar empatia, criar drama, intriga, tensão ou qualquer outro sentimento. A fita é inundada por uma quantidade excessiva de diálogos expositivos que explicam não só a ciência com a qual os personagens lidam (o que seria até compreensível), mas também os sentimentos e pensamentos deles. Assim, a trama nos diz como eles se sentem, mas nunca permite que efetivamente vejamos isso.

Provavelmente isso ocorre pelo grande intervalo de tempo que a trama tenta cobrir, se movendo muito rápido e deixando que anos transcorram entre uma cena e outra, conferindo a tudo um caráter episódico e fragmentado. Personagens entram, saem ou morrem sem que isso cause muito impacto ou repercussão. Outros, que possuem mais destaque, desaparecem por um bom tempo e quando voltam já estão em um estado bem diferente do que os vimos pela última vez. Um exemplo é o que acontece com Tesla. O vemos ser enganado pelo seu sócio e perder tudo, mas minutos depois ele está apresentando um novo motor elétrico sem que saibamos o percurso dele até ali ou como saiu da falência.

Cumberbatch faz o mesmo tipo de gênio antissocial que fez durante boa parte da última década (Sherlock, Doutor Estranho, O Jogo da Imitação, etc) e que a essa altura de sua carreira seria capaz de fazer até dormindo. Claro, Cumberbatch está longe de ser ruim, mas o fato dele repetir muito do que já o vimos fazer combinado a um texto que não passa da superfície do personagem não dá muito com o que conquistar a audiência. O mesmo pode ser dito do personagem de Michael Shannon.

A fotografia acerta no constante uso de lens flares constantemente no quadro, como que para transmitir o senso de uma visão ofuscada, descostumada pelo brilho das lâmpadas elétricas, demonstrando como a eletricidade inundou de luz aqueles ambientes que antes eram escuros. Mesmo esse tipo de decisão estilística mais acertada faz pouco para conseguir a trama envolvente. O final ainda derrapa em algumas questões de acuidade histórica ao dar a entender que Thomas Edison foi o grande inventor do cinema quando, na verdade, ele também perdeu “a batalha do cinema” para os irmãos Lumière, cujo cinematógrafo era mais versátil, eficiente e móvel. Isso está conectado à ideia de supremacia do povo estadunidense e os EUA contestam a história internacionalmente aceita em outros campos também, como a insistência deles que foram os irmãos Wright, e não Santos Dumont, quem inventou o avião.

A Batalha das Correntes acaba sendo um produto inane, que falha em tornar uma rivalidade histórica em um drama envolvente, se perdendo em uma narrativa difusa e superficial.

Nota: 4/10


Trailer

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