segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

Crítica – Crimes Obscuros


Análise Crítica – Crimes Obscuros


Review – Crimes Obscuros
No papel, a história real que inspirou este Crimes Obscuros poderia render um ótimo filme. Um escritor polonês assassinou um empresário e anos depois escreveu um romance no qual narrava o crime com precisão, o que acabou chamando atenção da polícia e levando à sua prisão. Seria possível usar essa história para discutir os limites da ficção ou fazer uma narrativa policial metalinguística que tratasse como o gênero em si constrói tramas sobre personagens que buscam evidências do mundo real para criar narrativas que expliquem os fatos investigados. Crimes Obscuros, porém, não faz nada disso e se contenta em ser banal e violento.

No filme, o policial polonês Tadek (Jim Carrey) decide reabrir um caso de assassinato de três anos atrás quando descobre que o escritor Kozlov (Marton Csokas) narrou o crime em detalhes em um de seus romances sendo que as informações do assassinato nunca foram divulgadas ao público. Aos poucos Tadek vai se tornando obcecado em resolver o crime e acaba se aproximando da ex-namorada de Kozlov, Kasia (Charlotte Gainsburg), e cruza limites éticos que comprometem a investigação.

É uma típica história do policial que fica perigosamente “contaminado” pela violência do seu cotidiano ao ponto de perder a perspectiva. O problema, no entanto, nem é remeter a uma estrutura manjada, mas executá-la sem qualquer nuance ou esforço (como a série Mindhunter, que também trata de um investigador que perde a perspectiva) resultando em um produto que não tem nada a dizer sobre as doses cavalares de violência explícita, incluindo estupros, que mostra.

Como Tadek é desde o início um sujeito infeliz e deprimido, fica difícil perceber qualquer grande transformação nele ao longo do caso, tirando o impacto de sua jornada, já que parece que ele apenas esperava a oportunidade de dar vazão às trevas que tinha em si ao invés de um sujeito tragicamente transformado pela violência. Do mesmo modo, o vilão Kozlov deveria ser um sujeito astuto e ardiloso, mas ao invés disso ele soa como um boçal estúpido que só abre a boca para desfiar um niilismo de botequim inócuo que nunca serve para refletir as questões de verdade e ficção que o filme tenta abordar. Como nenhum dos personagens soa particularmente interessante nem nos dá qualquer vontade de torcer por eles, a reviravolta da última cena acaba não tendo impacto algum.

Não ajuda que elenco, direção e roteiro confundam exagero com intensidade. Todos os personagens e situações berram o tempo todo ao espectador o quanto eles são sombrios, sórdidos e corrompidos, mas o filme não tem nada a dizer sobre essa decadência moral ou social. Suas cenas de violência ou estupro não tem qualquer outra função a não ser produzir o choque por conta de sua representação gráfica, não sendo nada mais do que uma fetichização inane da violência. A mão do filme é tão pesada que por vezes tudo soa quase autoparódico, como se eu estivesse vendo algum esquete cômico zoando toda essa tendência de filmes dark, depressivos e sisudos, ou então algo feito por um pré-adolescente que achar que ser violento e monocromático é sinônimo de ser maduro e complexo.

No fim, Crimes Obscuros é uma exploração vazia da violência e sordidez humanas, prejudicada pelo ritmo arrastado e personagens desinteressantes.


Nota: 2/10


Trailer

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