terça-feira, 9 de outubro de 2018

Crítica – Nasce Uma Estrela


Análise Crítica – Nasce Uma Estrela


Review – Nasce Uma Estrela
Eu estava empolgado pela nova versão de Nasce Uma Estrela por conta da presença de Lady Gaga no elenco, mas, ao mesmo tempo, me perguntava se havia substância o suficiente para que essa história fosse contada uma quarta vez. A primeira versão foi em 1937, a segunda em 1954, ambas no universo no cinema, e foi a versão de 1976 estrelada por Barbra Streisand que deslocou a história para o mundo da música, ambiente no qual a nova versão também se passa.
                         
Jackson Maine (Bradley Cooper, que também dirigiu o filme) é um astro da música cuja carreira está se aproximando fim. Ele está perdendo a audição e se afundando em drogas, apenas vivendo da fama de outrora. As coisas mudam quando ele conhece Ally (Lady Gaga), uma cantora talentosa que reacende a paixão de Jack pela música. O relacionamento de ambos evolui, mas os problemas de Jack com drogas vão piorando à medida que a carreira de Ally deslancha.

É um drama à moda antiga, mas que nunca soa como algo antiquado. Na verdade, suas ponderações sobre a fama, a superficialidade do mundo da música e como essa indústria mastiga as pessoas e depois cospe fora são extremamente contemporâneas e talvez seja isso que tenha atraído Bradley Cooper a esse material. Mesmo sendo essa a quarta versão do filme, cada uma delas foi pertinente à época em que foram lançadas. É como diz Bobby (Sam Elliott), irmão e empresário de Jack, “algumas histórias são contadas de novo e de novo”, mas é como cada artista empresta sua voz a essas histórias que muda tudo.

Cooper e Gaga tem uma cumplicidade bem verdadeira juntos, sendo fácil entender aquilo que os aproxima. Jack vê nela seu eu do passado, alguém com uma voz e muito a dizer, enquanto Ally vê nele a liberdade que sempre almejou. Há neles um laço tão forte que mesmo pequenas coisas, como o instante em que Jack passa os dedos no nariz de Ally, tornam-se grandes momentos de troca e intimidade tamanho o sentimento que os dois transmitem um para o outro sem precisarem recorrer a palavras.

É curioso que apesar de ser um filme sobre o mundo da música e com muitas performances musicais, Cooper decida por filmar boa parte dos diálogos sem usar música, deixando que as falas e o desempenho dos atores transmitam tudo que é necessário. Isso funciona tanto para as cenas entre Jack e Ally quanto as que envolvem os demais personagens.

Se antes eu falei da química de Cooper e Gaga também preciso mencionar o afeto sincero que há entre os protagonistas e os coadjuvantes, realmente dando a impressão de que são pessoas que se conhecem há anos e se preocupam uns com os outros. Isso fica evidente na cena entre Jack e o músico vivido pelo comediante Dave Chappelle, que traz um calor humano que não esperava encontrar nele com uma voz repleta de serenidade afetuosa. Essa sensação de pessoas com longa convivência e sentimento mútuo também pode ser visto nas cenas entre Jack e Bobby. Os irmãos tem uma relação complicada, mas nutrem um afeto real um pelo outro embora nem sempre saibam demonstrar e se você não sentir nada ao ver Bobby segurando o choro ao ouvir Jack falar o quanto o admira, provavelmente você morreu por dentro.

Outro que aparece pouco, mas faz valer o seu tempo de tela é o pai de Ally, Lorenzo, interpretado pelo comediante Andrew Dice Clay. Em Blue Jasmine (2013) Clay já tinha mostrado habilidade para o drama e aqui volta a reforçar sua capacidade dramática, conforme demonstra sua preocupação com a filha, embora também tenha momentos de humor como um típico patriarca italiano.

Apesar do talento dos coadjuvantes é mesmo em Gaga e Cooper que reside o coração do filme. Cooper dá a Jack uma profunda sensação de melancolia, como se o personagem soubesse que está no crepúsculo da carreira (e talvez da vida) e só quer se manter entorpecido até tudo passar. Isso pode ser sentido até mesmo quando ele canta e a performance musical de Cooper traz em sua voz um dor subjacente que é bem verdadeira. Por mais que Jack ame Ally, Cooper permite que vejamos uma pontada de ciúme ou ressentimento pelo sucesso dela e conforme Jack se afunda nos seus vícios há também uma grande vulnerabilidade nele, em especial pelo sua impressão de estar sendo um estorvo para ela. É essa vulnerabilidade e vergonha que vemos em Cooper que torna o final de seu personagem tão impactante.

Gaga, por sua vez, dá uma certa medida de insegurança a Ally, alguém que tem consciência do talento, mas que ouviu tantos “nãos” que foi convencida da própria incapacidade. Há nela uma certa descrença e amargura por nunca ter conseguido realizar seu potencial e seu relato como sempre encontrou portas fechadas no mundo da música fala muito sobre o sexismo e superficialidade dessa indústria. Apesar disso, Gaga permite que vislumbremos nela a paixão pela música sufoca pelos anos de frustração, algo evidente cada vez que a personagem canta.

Qualquer um que tenha visto Lady Gaga cantar sabe da força de sua voz e todas as cenas musicais do filme se beneficiam do talento dela e da emoção que ela confere a cada canção, sendo difícil não se arrepiar ao ouvi-la cantar, em especial no devastador número final em que ela canta I’ll Never Love Again.

Nasce Uma Estrela não é só um excelente remake, mas um excelente romance sobre as dificuldades do mundo do entretenimento, elevado pelo talento de seu elenco e direção cuidadosa de Bradley Cooper.

Nota: 9/10


Trailer

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