quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Crítica - Bom Comportamento

Análise Bom Comportamento


Review Bom Comportamento
Não conhecia o trabalho dos irmãos Safdie e entrei para assistir a este Bom Comportamento sem saber exatamente o que esperar. O filme com qual me defrontei, no entanto, me deixou curioso pelos próximos trabalhos da dupla e também para conferir suas realizações anteriores. A trama é centrada em Constantine, ou Connie (Robert Pattinson). Ele tenta roubar um banco com seu irmão surdo Nick (Benny Safdie) para poderem sair da cidade e viverem a vida que desejam no campo, mas o golpe dá errado e Nick é preso. Connie tenta pagar a fiança do irmão, mas não tem dinheiro. Ao descobrir que o irmão se envolveu em uma briga na prisão e foi hospitalizado, Connie decide invadir o hospital para libertá-lo, mas seus planos não correm como esperado e ele precisa correr madrugada adentro para resgatar o irmão.

O universo do filme de alguma maneira remete ao de Killer Joe: Matador de Aluguel (2012) ao focar em indivíduos sórdidos ou marginalizados e espaços sombrios. Os personagens do filme ou são sujeitos de péssimo caráter, mentalmente desequilibrados ou são ignorantemente marginalizados, sendo presa fácil para os criminosos e golpistas que habitam por entre as ruas sombrias da madrugada.

Connie se encaixa na primeira categoria. Ele é um predador engenhoso com um talento para identificar pessoas vulneráveis e manipulá-las para seus propósitos. Isso fica evidente na sua relação com uma mulher com claros problemas emocionais (e talvez mentais) vivida por Jennifer Jason Leigh ou pela facilidade com a qual maneja uma adolescente para fazer o que ele quer. Acuado e correndo contra o tempo, Connie vai se tornando mais instável conforme a noite avança e Robert Pattinson, que já tinha entregue uma ótima performance esse ano em Z: A Cidade Perdida, traz uma energia insana e intensa ao personagem que parece sempre em movimento ou enredando algum esquema em sua mente. Ele é como um predador encurralado por um caçador tentando desesperadamente se manter vivo.

Apesar de usar qualquer um que encontre no caminho para conseguir o que quer, Connie não chega a ser um sociopata e exibe um afeto verdadeiro, à sua própria e talvez deturpada maneira, pelo irmão. Na última cena, quando Nick é levado para a escola de deficientes que Connie não queria que ele frequentasse, é possível entender a motivação do protagonista para empreender seu roubo e tentar construir uma vida fora da cidade para ele e o irmão.

Connie também não é um sujeito exatamente brilhante como fica claro pelo modo como muitos de seus planos dão errado, embora se considere mais esperto do que realmente é. Isso talvez seja o que motiva sua eventual discussão com um criminoso que cruza seu caminho e o acompanha em sua jornada pela noite. Assim como Connie, o sujeito sonha com uma vida de dinheiro e monta diferentes esquemas para ficar rico rápido, Connie desdenha dele constantemente e o criminoso lhe adverte que Connie não é melhor que ele. É como se esses dois sujeitos se vissem um no outro e finalmente se dessem conta de que não passam de criminosos pés-de-chinelo fracassados que nunca conseguirão coisa alguma.

Pattinson sempre está em primeiríssimo plano e essa constante proximidade ajuda a transmitir o sentimento de sufocamento e opressão vivenciado pelo protagonista conforme ele percebe suas chances erodirem sob seus pés. O uso de uma música eletrônica com pulsações constantes martelando o ouvido do espectador contribui para a imersão no estado metal de Connie, cuja mente trabalha sem parar e sob intensa pressão para tentar achar um modo de resolver seus problemas. A fotografia preza pelo constante uso de sombras, com tons de neon dos letreiros e luzes urbanas noturnas incidindo sobre as faces dos personagens dando evidência a eles mesmo na escuridão.

Esteticamente bem construído e com uma performance intensa de Robert Pattinson, Bom Comportamento se mostra uma tensa e sórdida jornada por sobrevivência e reparação.


Nota: 8/10

Trailer

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