segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

Crítica – Segredos de um Escândalo

 

Análise Crítica – Segredos de um Escândalo

Review – Segredos de um Escândalo
Existe de fato uma maneira completamente objetiva de contar a história de outra pessoa? A história das nossas vidas nos pertence ou é construída de pontos de vista de pessoas externas a nós? Até que ponto as histórias que contamos sobre nós mesmos não são um grande delírio sobre os eventos reais que construímos na tentativa de nos blindar de lidar com as implicações de nossas ações. Dirigido por Todd Haynes Segredos de um Escândalo coloca essas e outras perguntas diante de nós.

A trama acompanha a atriz Elizabeth (Natalie Portman) que está estudando para interpretar uma personagem baseada em uma pessoa real, Gracie (Julianne Moore). Vinte anos atrás Gracie foi presa por manter um relacionamento sexual com um garoto de treze anos. Ao sair da prisão ela retomou o relacionamento e permaneceu casada com o rapaz, Joe (Charles Melton), até o momento em que Elizabeth a procura para fazer o filme. Eles vivem uma existência pacata no interior dos Estados Unidos, ocasionalmente lidando com um ou outro olhar torto, mas parecem uma família estável, com um relacionamento amoroso e dois filhos bem ajustados, embora o mesmo não possa ser dito dos filhos do primeiro casamento de Grace.

sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

Drops – Do Outro Lado da Dor

Análise Crítica – O Outro Lado da Dor


Review – O Outro Lado da Dor
Luto é um processo e nem todo mundo lida com a perda da mesma maneira. Em alguns casos, como o tratamento de uma doença, podemos até nos prepararmos aos poucos para a perda de alguém, mas pode ser muito mais doloroso quando é uma perda súbita. É isso o que acontece em Do Outro Lado da Dor, escrito, dirigido e estrelado por Dan Levy.

O marido de Marc (Dan Levy) morre depois que seu taxi colide com um motorista bêbado saindo de uma festa de Natal. Um ano depois, Marc ainda sofre com a perda de Oliver (Luke Evans) e finalmente resolve abrir o cartão de Natal que o marido lhe deixou. Lá Marc descobre que Oliver tinha contado que conheceu outra pessoa e investigando o espólio do marido se dá conta que ele tinha alugado um apartamento em Paris e que havia outra pessoa com ele. Marc então decide ir a Paris acompanhado dos amigos Thomas (Himesh Patel) e Sophie (Ruth Negga).

quinta-feira, 11 de janeiro de 2024

Crítica – Eco

 

Análise Crítica – Eco

Review – Eco
Com uma produção conturbada, a minissérie Eco parecia condenada a não funcionar. Fui assistir seus cinco episódios, que estrearam de vez na Disney+, sem esperar muita coisa e confesso que fiquei positivamente surpreso com sua atmosfera sombria e realismo urbano que remetia aos melhores momentos das séries da Marvel na Netflix, em especial Demolidor.

A trama segue Maya Lopez (Alaqua Cox) depois dos eventos da série do Gavião Arqueiro em que baleou o Wilson Fisk (Vincent D’Onofrio). Maya retorna para sua cidade natal em Oklahoma para se reconectar com a família da qual foi alienada por Fisk. Maya, no entanto, está com a cabeça a prêmio depois do atentado. Isso e o fato de Fisk ter sobrevivido colocam ela e sua família em perigo.

Para quem não viu Gavião Arqueiro, o primeiro episódio da série serve para introduzir novamente Maya, explorando sua tragédia pessoal com a morte do pai, a relação de mentor que ela construiu com Fisk e sua eventual descoberta do que aconteceu com pai. Não é meramente uma recapitulação, já que traz momentos que ampliam nosso conhecimento da personagem e a inserem num contexto maior da cronologia do universo Marvel, incluindo uma luta contra o Demolidor. Apesar disso, o início não afasta a impressão de que seu conteúdo é relativamente redundante e faz a trama principal demorar a engrenar.

quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

Rapsódias Revisitadas – Sindicato de Ladrões

 

Crítica – Sindicato de Ladrões

Análise – Sindicato de Ladrões
Em uma determinada cena de Sindicato de Ladrões, o protagonista menciona que ter uma consciência é algo que pode levar uma pessoa à loucura. O filme seminal de Elia Kazan estrelado por Marlon Brando comemora seus 70 anos de lançamento em 2024 e suas reflexões sobre consciência de classe e manter seus princípios diante da corrupção ao nosso redor seguem válidos.

A trama acompanha Terry (Marlon Brando), um ex-boxeador que passou a trabalhar para os mafiosos que controlam o sindicato dos portuários em New Jersey. Quando uma pessoa próxima a Terry é morta por falar contra esses corruptos líderes sindicais e Terry se aproxima da irmã do morto, o ex-boxeador começa a se questionar se proteger esses mafiosos é mesmo a melhor escolha. A narrativa é levemente baseada na história real de um portuário que tentou derrubar o sindicato corrupto de onde trabalhava, mas se na vida real ele fracassou, na ficção Kazan tece uma trama que nos lembra da força que os trabalhadores tem quando se unem, mesmo que seja contra suas supostas lideranças.

terça-feira, 9 de janeiro de 2024

Crítica – Os Rejeitados

 

Análise Crítica – Os Rejeitados

Review – Os Rejeitados
Dirigido por Alexander Payne, Os Rejeitados é um filme sobre solidão que pondera a respeito da importância de conexões humanas em nossa vida. A trama se passa no final de 1970, em um colégio interno no interior dos Estados Unidos. Todos estão indo embora para as festas de fim de ano, mas um professor precisa ficar para cuidar dos alunos que, por qualquer motivo, não irão para casa durante o recesso. É uma tarefa ingrata da qual muitos docentes fogem, recaindo para o professor de História, Sr. Hunham (Paul Giamatti), por ele não ter família nem vida pessoal.

Detestado pelos alunos e sem mais ninguém pela escola, Hunham acaba se aproximando de Tully (Dominic Sessa), aluno problemático que basicamente foi largado na escola pela mãe que resolveu sair em lua de mel com o novo marido. Aos dois se junta a cozinheira Mary (Da’Vine Joy Randolph), que está passando pelo luto da perda do filho, falecido no Vietnã. São pessoas que se sentem isoladas do mundo, desamparadas e sem rumo por um motivo ou outro. Sem pressa e com um ritmo bem deliberado vamos aprendendo sobre esses personagens conforme eles passam tempo juntos e se abrem uns com os outros.

segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

Crítica – Dave The Diver

 

Análise Crítica – Dave The Diver

Review – Dave The Diver
Nunca fui exatamente fã de roguelikes, mas o excelente Hades me fez ter interesse em jogos do tipo. De lá para cá experimentei títulos como 20XX e Rogue Legacy 2 que me mostraram como um exemplar bem feito do gênero pode ser viciante. Dave The Diver me chamou atenção pela sua mistura singular de roguelike e simulador de restaurante.

O jogador controla Dave, um mergulhador profissional que é chamado por amigos para investigar uma estranha fenda oceânica que parece se modificar a cada dia e traz peixes de diferentes partes do mundo. Além de tentar descobrir o mistério do local, Dave também ajuda o chef Bancho com seu restaurante japonês, pegando peixes para que ele faça pratos cada vez mais elaborados e lucrativos.

sexta-feira, 5 de janeiro de 2024

Crítica – Maestro

 

Análise Crítica – Maestro

Review – Maestro
O termo oscar bait é normalmente usado para qualificar produções que parecem feitas sob medida para a temporada de premiações. São filmes que seguem de perto aquilo que normalmente encontramos em películas indicadas a prêmios, como tramas baseadas em fatos reais, atores realizando transformações físicas e alguns outros elementos. Maestro, biografia de Leonard Bernstein dirigida e estrelada por Bradley Cooper, parece um filme perfeitamente formatado para a temporada de prêmios, embora acabe não entregando nada de interessante.

A narrativa segue Bernstein (Bradley Cooper) da juventude, quando rege a Filarmônica de Nova Iorque pela primeira vez, até seus últimos. O filme foca tanto no trabalho musical de Bernstein quanto na relação dele com o a esposa, Felicia (Carey Mulligan). O problema é que a trama parece não ter muito a dizer sobre o maestro além do fato dele ser genial e dele ser bissexual, sem, no entanto, explorar esses dois elementos.

quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

Crítica – What If...?: Segunda Temporada

 

Análise Crítica – What If...?: Segunda Temporada

Review – What If...?: Segunda Temporada
A primeira temporada de What If...? tinha algumas boas histórias, mas sofria um pouco com alguns episódios que não desenvolviam suas premissas de modo interessante. Essa segunda temporada é mais consistente na sua curadoria de histórias e apresenta tramas que se valem melhor de suas ideias.

Como na primeira temporada, a série acerta ao situar suas tramas em diferentes gêneros. O primeiro episódio protagonizado pela Nebulosa é bem tributário ao film noir, remetendo a produções como O Falcão Maltês (1940) ou o noir futurista de Blade Runner (1982). O episódio de Peter Quill invadindo a Terra remete a filmes de monstro e aquele que traz Happy preso na torre dos Vingadores com um bando de criminosos é claramente feito para remeter a Duro de Matar (1988).

quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

Crítica – O Melhor Está Por Vir

 

Análise Crítica – O Melhor Está Por Vir

Review – O Melhor Está Por Vir
O diretor italiano Nanni Moretti é famoso por fazer filmes que exploram o momento em que ele vive em sua vida pessoal. São produções com um cunho autoficcional que partem de um sentimento autobiográfico para tecer tramas que remetem às inquietações e sentimentos do diretor sem necessariamente possuírem a ambição de serem um reflexo fidedigno de sua vida. Em Caro Diário (1993), por exemplo, ele falou de seus problemas de saúde. Neste O Melhor Está Por Vir ele fala de crises matrimoniais, desilusões políticas e as transformações no mercado audiovisual.

A trama segue o diretor Giovanni (Nanni Moretti) que está prestes a começar a produção sobre um filme a respeito do Partido Comunista Italiano na década de 1950 e como eles reagiram à invasão soviética a Hungria. Ao mesmo tempo, ele tem problemas em casa por conta da decisão de sua esposa, Paola (Margherita Buy), de produzir um outro filme além do dele. O outro filme produzido por Paola é um filme de máfia bem típico, o que incomoda Giovanni e vai criando conflitos entre eles.

terça-feira, 2 de janeiro de 2024

Crítica – Wish: O Poder dos Desejos

 

Análise Crítica – Wish: O Poder dos Desejos

Feito para celebrar os 100 anos da Disney, Wish: O Poder dos Desejos é uma homenagem mais focada em nos lembrar do longevo legado do estúdio do que para mostrar o espírito de inovação que o tornou tão amado. É uma produção que tem sua parcela de qualidades, mas que não tem o impacto que esperaríamos de uma celebração de um século.

A trama é focada em Asha, uma jovem que deseja se tornar aprendiz do rei Magnifico, um monarca que trouxe paz e prosperidade ao reino com seu poder de extrair e guardar os desejos de seus cidadãos, realizando-os periodicamente. Quando Asha descobre que o rei usa os desejos como forma de controlar a população ao invés de inspirá-la, ela decide devolver os desejos ao povo. A jovem faz um pedido para uma estrela e ela ganha vida. Agora, com a ajuda da estrela e seus poderes mágicos, ela decide enfrentar o rei.

É uma trama típica da Disney, com animais falantes e números musicais que nos lembra da importância de sonhar e perseguir os próprios desejos. Não tem nada aqui que quebre o molde do estúdio, mas não chega a ser um grande problema já que a produção tem carisma e encantamento o suficiente para nos manter interessados. Os números musicais são vibrantes e alguns deles, como o que envolve galinhas dançantes, remetem aos mosaicos das coreografias de Busby Berkeley. Não tem nenhuma música que soe com o impacto de hit instantâneo algo como Dos Oruguitas ou Não Falamos do Bruno de Encanto (2021), mas são canções carismáticas que entregam o que se espera.

Muito da graça do filme vem de como a trama costura referências aos vários filmes da Disney ao longo do último século, da silhueta da Malévola que aparece no livro de magia sombria do rei, passando pelo fato de que os amigos de Asha se vestem como os sete anões, que o manto que a protagonista usa remete ao da fada madrinha de Cinderela (1950) ou o vilão basicamente se tornar ao final no espelho da Rainha Má de Branca de Neve e os Sete Anões (1937). Nesse sentido, o avô de Asha ser um idoso de 100 anos em busca de alcançar seu desejo de inspirar as pessoas é uma clara metáfora para a Disney em si, que chega ao seu aniversário de um século ainda tentando nos fazer acreditar nos sonhos e na magia.

Como algo que nos diz o tempo todo que foi feito para celebrar o legado do seu estúdio, é relativamente decepcionante que ele arrisque tão pouco e prefira que sua celebração consista meramente de repousar sobre os próprios louros passados (nos lembrando de vários filmes melhores do que esse que estamos assistindo) do que em nos mostrar que a Disney ainda é capaz de inovar, de nos surpreender, de nos pegar desprevenidos e nos fazer nos perguntar “como eles imaginaram isso?” como fizemos em seus filmes mais memoráveis. Ao invés de nos mostrar como tem vigor para mais outros 100 anos de encantamento Wish: O Poder dos Desejos se acomoda em meramente nos fazer lembrar das glórias passadas. Claro, o filme tem lá seus bons momentos e não tem nada de particularmente problemático, só não está plenamente à altura de ser celebração que se propõe a ser.

 

Nota: 6/10


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