quinta-feira, 13 de abril de 2023

Crítica – Criaturas do Senhor

 

Análise Crítica – Criaturas do Senhor

Review – Criaturas do Senhor
Em geral não tenho problemas com tramas que caminham por um ritmo deliberado e fervem lentamente as tensões entre seus personagens. Criaturas do Senhor, porém, tem um cozimento tão lento de seus conflitos principais que durante sua metade inicial chegamos a perder de vista seu foco. Isso não significa necessariamente que é uma produção ruim, ele tem uma boa parcela de virtudes, mas não aproveita plenamente o potencial de sua trama e as inquietações que ela suscita.

A narrativa se passa em uma pequena vila pesqueira na Irlanda. Aileen (Emily Watson) sustenta a família trabalhando em uma fábrica de processamento de pescados. Um dia Brian (Paul Mescal), filho mais velho de Aileen, retorna da Austrália decidido a retomar a criação de ostras que deixara. Sua mãe o ajuda a recomeçar, mas a presença de Brian começa a causar problemas para a família quando ele é acusado de violência sexual contra uma garota local. Aileen mente para a polícia, fornecendo a Brian um álibi, mas a mentira começa a rondar a pequena comunidade e a matriarca fica dividida entre seu senso de proteção ao filho e seu senso de justiça.

quarta-feira, 12 de abril de 2023

Succession e a banalidade da morte

 

O impacto da morte de Logan Roy em Sucession

Antes de qualquer coisa, aviso que o texto a seguir contem SPOILERS da atual temporada de Succession, então se você não está acompanhando a série e não quer que eventos da quarta e última temporada sejam revelados, sugiro voltar depois. Dito isso, irei me deter especificamente ao terceiro episódio da quarta temporada, intitulado Connor’s Wedding.

Pelo título imaginamos que o episódio irá focar no casamento de Connor (Alan Ruck), o mais velho dos filhos de Logan (Brian Cox), ao mesmo tempo em que seguimos o patriarca em sua viagem para Suécia para renegociar a venda de seu conglomerado a um excêntrico bilionário e seus outros três filhos, Kendall (Jeremy Strong), Shiv (Sarah Snook) e Roman (Kieran Culkin) tentam arrancar ainda mais dinheiro do negócio. Até então tudo parece típico da série, os esquemas corporativos, a alienação afetiva dos Roy, Logan tentando sair por cima.

terça-feira, 11 de abril de 2023

Crítica – Rye Lane: Um Amor Inesperado

 

Análise Crítica – Rye Lane: Um Amor Inesperado

Review – Rye Lane: Um Amor Inesperado
Em tempos em que qualquer blockbuster ou comédia romântica despretensiosos passam facilmente da marca de duas horas, é um alívio encontrar uma produção que sabe ir direto ao ponto e usa os elementos conhecidos dos gêneros para construir uma economia narrativa que permite trama focar no que é singular de seus personagens ao invés de apenas repetir elementos conhecidos. Bastante celebrado no festival de Sundance, a produção britânica Rye Lane: Um Amor Inesperado, que chega ao Brasil via Star Plus, é uma bela surpresa.

A trama é centrada no casal Dom (David Jonsson) e Yas (Vivian Oparah). Eles se conhecem em uma tarde no sul de Londres quando ambos estão passando por términos ruins, especialmente Dom que é encontrado por Yas chorando em um banheiro. A partir daí eles compartilham um com o outro as recentes desilusões afetivas e aos poucos vão se aproximando conforme conversam ao longo do dia.

quarta-feira, 5 de abril de 2023

Crítica - Atlanta: 3ª Temporada

 

Análise Crítica - Atlanta: 3ª Temporada

Review - Atlanta: 3ª Temporada
A série Atlanta sempre flertou com o surrealismo, com o segundo ano entrando ainda mais nessa seara e também em episódios com histórias mais isoladas, remetendo a uma estrutura de antologia. Em sua terceira temporada, que chegou aos streamings brasileiros com anos de atraso (a quarta e última temporada já foi exibida lá fora ano passado), a série mergulha ainda mais no surrealismo, dividindo a narrativa do quarteto principal com episódios que contem histórias isoladas, tentando um meio termo entre uma narrativa seriada e uma estrutura antológica.

A terceira temporada começa com Earn (Donald Glover), Al (Brian Tyree Henry) e Darius (Lakeith Stanfield) chegando à Amsterdã para a turnê europeia de Al. Inesperadamente Vanessa (Zazie Beets) se une ao trio, sem dar muita explicação do motivo de ter ido para a Europa. É claro que isso é o início para uma série de eventos bizarros que podem ou não ser reais.

terça-feira, 4 de abril de 2023

Drops – Mistério em Paris

 

Análise Crítica - Mistério em Paris

Review - Mistério em Paris
Assim como foi Mistério no Mediterrâneo (2019), este Mistério em Paris é mais uma comédia do Adam Sandler em que ele usa um filme para poder sair de férias com os amigos e botar a conta para algum estúdio pagar. Não tenho nenhum problema em particular com artistas tentando aproveitar as locações dos seus filmes, desde que o público tenha a contrapartida de um produto que valha a pena assistir, o que não é o caso aqui.

Depois dos eventos do primeiro filme, Nick (Adam Sandler) e Audrey (Jennifer Aniston) veem sua agência de detetive à beira da falência e seu casamento em crise novamente. As coisas mudam quando recebem um convite para o casamento do Marajá (Adeel Akhtar) em uma ilha paradisíaca, mas o que deveria ser um momento de respiro dá lugar ao caos quando o Marajá é sequestrado.

segunda-feira, 3 de abril de 2023

Crítica – Tetris

 

Análise Crítica – Tetris

Review – Tetris
Quem imaginaria que a negociação pelos direitos de um jogo de videogame renderia um drama envolvente? Eu certamente não, mas Tetris, produção da AppleTV+ faz exatamente isso, embora tome muitas liberdades com a história real em que se inspira. A narrativa se passa no final da década de oitenta, sendo baseada na história real do empresário Henk Rogers (Taron Egerton), que descobriu o jogo Tetris em uma feira de eletrônicos e viu o potencial de vendas do game. O problema é que o jogo foi criado por um russo dentro da União Soviética e conseguir comprar ou vender algo do país é um desafio burocrático, principalmente quando rivais mais ricos do ocidente estão dispostos a conseguir os direitos do jogo.

De início a narrativa consegue imprimir um ritmo ágil e uma estética pop conforme ouvimos Henk narrar como conheceu Tetris e o emaranhado jurídico dos direitos do jogo a partir de visuais que emulam a estética 8 bits enquanto introduzem os principais personagens do filme. O que deveria ser basicamente uma história envolvendo longas reuniões e rodadas de negócios consegue criar um senso palpável de suspense ao estabelecer claros riscos para Henk e para o criador do jogo, Alexey Pajitnov (Nikita Efremov). Além disso, a trama consegue deixar claro para o espectador o motivo do fascínio com o game e as razões para ele ser tão viciante, então entendemos bem o valor do que está disputa.

sexta-feira, 31 de março de 2023

Crítica – Sombras de Um Crime

 

Análise Crítica – Sombras de Um Crime

Review Crítica – Sombras de Um Crime
O detetive Philip Marlowe foi um dos personagens mais marcantes do ciclo noir aparecendo em filmes como À Beira do Abismo (1946), na interpretação icônica de Humphrey Bogart. Este Sombras de Um Crime marca uma nova tentativa de colocar o personagem de volta às marquises do cinema, mas deixa bastante a desejar.

Na trama Marlowe (Liam Neeson) é contratado pela misteriosa Cavendish (Diane Kruger) para encontrar seu amante desaparecido, Nico (François Arnaud). Conforme investiga, Marlowe descobre que Cavendish está no meio de uma briga com a mãe, Dorothy (Jessica Lange) pelo dinheiro da família e que Nico pode ser a chave para tudo.

Liam Neeson traz modos brutos e secos para Marlowe, mas carece do charme cínico de Bogart e outros intérpretes do famoso detetive particular. As personagens de Diane Kruger e Jessica Lange, por sua vez, carecem de ambiguidade já que deixam evidente desde o início que tem segundas intenções e assim nunca ficamos em dúvida que as estão manipulando Marlowe desde o início. Na verdade, o único destaque é o excêntrico criminoso vivido por Alan Cumming.

quinta-feira, 30 de março de 2023

Lixo Extraordinário – Assalto Aéreo

 

Crítica – Assalto Aéreo

Review - Money Plane
Lançado em plataformas digitais durante o auge da pandemia, Assalto Aéreo rapidamente se espalhou em comentários pela internet sobre o quanto ele era ruim. Parecia o tipo de podreira tosca que todos precisavam naquele momento em que não sabíamos como seriam nossas vidas nos meses subsequentes, com o filme se transformando em piada nos meios de cinefilia. Tendo finalmente assistido, consigo atestar que de fato é muito ruim, mas lamentavelmente não é aquele tipo de produção que se torna divertida por ser ruim.

A narrativa é protagonizada por Jack (Adam “Edge” Copeland), um ladrão que está em dívida com o poderoso Darius “The Rumble” Emanuel Grouch III (Kelsey Grammer) que propõe a Jack uma perigosa missão para compensar a dívida. Jack deve se infiltrar no “avião da fortuna”, uma aeronave que funciona como um cassino aéreo fornecendo todo tipo de jogos ou apostas ilegais para os mais ricos do submundo do crime, e roubar bilhões em criptomoedas armazenadas nos servidores do avião.

quarta-feira, 29 de março de 2023

Crítica – Cidade Invisível: 2ª Temporada

 

Análise Crítica – Cidade Invisível: 2ª Temporada

Review – Cidade Invisível: 2ª Temporada
A primeira temporada de Cidade Invisível surpreendeu ao misturar uma trama investigativa com elementos sobrenaturais das mitologias nativo-brasileiras. Esta segunda temporada, porém, derrapa em uma trama que demora de engrenar e acaba de maneira muito abrupta, quase como se fosse um capítulo de transição ou uma preparação para um conflito que ainda vai ocorrer do que uma narrativa com começo meio e fim.

Depois dos eventos do primeiro ano, Luna (Manu Dieguez), a filha de Eric (Marco Pigossi), vai com Inês (Alessandra Negrini) ao Pará para tentar trazê-lo de volta. A garota acaba fazendo um acordo com a Matinta Perê (Letícia Spiller) para trazer seu pai de volta. Eric retorna, mas a entidade cobra seu preço a Luna e agora Eric precisa encontrá-la. No meio do caminho, o protagonista encontra um esquema para usar o poder das entidades para alcançar o Marangatu, um lugar espiritual cujos fazendeiros da região creem encontrar muitas riquezas.

terça-feira, 28 de março de 2023

Crítica – O Urso do Pó Branco

 

Análise Crítica – O Urso do Pó Branco

Review – O Urso do Pó Branco
A internet ficou em polvorosa quando saiu o primeiro trailer deste O Urso do Pó Branco. Era o tipo de premissa maluca que o cinema precisava, ainda por cima levemente (mas muito levemente) baseada em fatos reais (no mundo real o urso simplesmente morreu depois de ingerir a cocaína). O resultado final diverte, mas fica aquém do que poderia ter sido.

A trama se passa na década de 80, no interior dos Estados Unidos. Depois que um traficante joga vários pacotes de cocaína de um avião, as drogas caem nas imediações de uma pequena cidadezinha do interior. A notícia se espalha, com policiais e criminosos vasculhando a mata ao redor em busca do pó, mas eles não esperavam que um grande urso negro tivesse chegado primeiro e estivesse disposto a matar qualquer um por mais narcóticos.

É uma trama completamente pirada, que coloca traficantes, policiais e turistas desavisados na mira do urso drogado. O tipo de coisa que você para e pensa como alguém teve capacidade de fabulação o bastante para fazer um filme com essa narrativa e, no geral, o filme entrega momentos bem divertidos, praticamente todos protagonizados pelo urso titular. Da cena em que ele sobe furiosamente uma árvore ao cheirar um pouco de pó no corpo de um biólogo que foi ajudar a guarda florestal a investigar o local, passando pela perseguição a uma ambulância, as cenas com o urso são os momentos em que o filme se entrega ao mais puro absurdo e é difícil não rir com toda a maluquice em cena. Também há um inegável valor de entretenimento ao ver atores tarimbados como Margo Martindale, Jesse Tyler Ferguson ou Ray Liotta sofrendo mortes brutais nas garras do animal titular.