terça-feira, 10 de outubro de 2023

Crítica – Meu Nome é Gal

 

Análise Crítica – Meu Nome é Gal

Review – Meu Nome é Gal
As cinebiografias de músicos são um constante filão explorado pelo cinema brasileiro. Meu Nome é Gal é o exemplar mais recente dessa tendência, contando a história da cantora Gal Costa e sua importância para a MPB. É um projeto que começou a ser tocado com a cantora ainda viva, pensado como uma celebração de seu legado e uma homenagem em vida para ela, ao contrário de muitas biografias feitas após a morte de artistas.

A trama foca na ascensão de Gal Costa (Sophie Charlotte) como cantora, em especial a partir de sua colaboração com os músicos do movimento do Tropicalismo e como ela usou a arte para comentar sobre a política brasileira e sobre a opressão da ditadura militar. Como muitas cinebiografias de músicos, a trama sofre com um ritmo muito episódico, saltando rapidamente no tempo entre vários momentos apesar de acompanhar um período relativamente curto da vida da personagem.

Por outro lado, o filme é bastante eficiente em evocar o clima de tensão dos anos de chumbo da ditadura militar e a sensação de insegurança instaurada em qualquer um que não se conformasse com os padrões impostos pelo governo vigente. De maneira semelhante, a produção também é competente em retratar como esse ambiente político deu origem ao movimento cultural do tropicalismo, mostrando os bastidores do movimento que se construía em cima de discussões políticas, artísticas e um estilo de vida relativamente boêmio.

Sophie Charlotte carrega o filme com a crescente intensidade de Gal, que começa como uma jovem tímida, que pensa apenas na voz no momento de cantar, para uma artista que passa a usar cada vez mais o corpo para se expressar, entendendo a força estética e política que essa performance corporal pode ter, principalmente em tempos tão repressivos quanto aqueles. Ao longo da trama a cantora também percebe a importância de se posicionar sobre os tempos em que vive, ponderando como se silenciar diante das arbitrariedades da ditadura seria equivalente a ser permissivo com essa estrutura de opressão, entendendo o imperativo moral que é enfrentar o autoritarismo.

Charlotte é auxiliada por um ótimo elenco de apoio que dá vida aos contemporâneos de Gal no Tropicalismo. Muitas vezes nesse tipo de filme a presença de outras figuras marcantes da música acaba pendendo para representações que mais parecem tentativas de imitar as pessoas retratadas do que um esforço de compor um personagem pleno, mas isso não acontece aqui. Caetano Veloso (Rodrigo Lelis) e Gilberto Gil (Dan Ferreira) remetem aos músicos que retratam sem parecer que estão apenas reproduzindo maneirismos através de um mimetismo vazio. Lelis e Ferreira demonstram naturalidade no modo como conduzem a cadência particular da fala de seus personagens e expressões típicas deles, fazendo esses maneirismos emergirem naturalmente de sua conduta e personalidade do que como um esforço consciente de imitar um comportamento específico.

Apesar dessa competência na reconstrução do clima político e cultural da época, a narrativa raramente nos dá a impressão de que há algo em jogo para a personagem. Em muitos momentos temos a impressão de que um conflito irá surgir, como o momento em que a mãe de Gal chega de surpresa no apartamento dela e a encontra com uma namorada, apenas para que tudo seja resolvido rapidamente. O filme inclusive se encerra de maneira muito súbita, não construindo uma sensação de clímax para a história. As diretoras chegaram a mencionar que fizeram alterações no filme depois da morte de Gal, então é difícil saber até que ponto esse desfecho súbito foi fruto de mudanças de última hora ou se havia um final mais redondo planejado.

De todo modo Meu Nome é Gal vale pelo retrato que faz do ambiente político e cultural ao redor do movimento tropicalista e da energia de Sophie Charlotte como Gal Costa, a despeito de uma estrutura episódica e um desfecho súbito.

 

Nota: 6/10


Trailer

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