terça-feira, 11 de julho de 2023

Crítica – O Pacto

 

Análise Crítica – O Pacto

Review – O Pacto
Guy Richie é um diretor conhecido pelo seu estilo visual marcante em produções como Snatch: Porcos e Diamantes (2000) e mesmo suas realizações menos sucedidas como o fraco Rei Arthur: A Lenda da Espada (2017) exibem a energia visual do diretor. Talvez seja por isso que O Pacto seja tão surpreendente no sentido que não traz praticamente nada do cinema de Richie e poderia ter sido dirigido por qualquer operário padrão da indústria, talvez por isso o título original (Guy Richie’s The Covenant) já traga consigo o nome do diretor porque de outro modo não seria possível identificar a presença dele no filme.

A narrativa acompanha a história ficcional do soldado John Kinley (Jake Gyllenhaal). Servindo na guerra do Afeganistão, Kinley é ferido em uma emboscada, perde todo seu pelotão e é salvo pelo tradutor afegão Ahmed (Dar Salim), que o transporta por mais de 100 quilômetros em território talibã. Kinley volta aos Estados Unidos, mas Ahmed não recebe a prometida extração do país e visto estadunidense. Com um senso de dívida e descrente na burocracia das forças armadas, Kinley decide voltar ao Afeganistão e financiar do próprio bolso a retirada de Ahmed e família do país.

Richie conduz tudo com o realismo imagético típico de filmes recentes sobre a guerra do Afeganistão, sem nada que visualmente inventivo. Sim, é competente, mas nada que não tenhamos visto antes ou que esteja à altura da sua capacidade como realizador. Kinley e Ahmed seguem o clichê da dupla que não se suporta, mas aprende a se respeitar, mas felizmente o trabalho de Gyllenhaal e Salim ajuda a elevar essa relação ao construir uma cumplicidade silenciosa, na qual eles parecem dizer muito um ao outro com apenas um olhar.

É esse forte senso de conexão que minimamente sustenta o filme, já que visualmente ele é esquecível e dramaturgicamente ele soa confuso. As cenas de ação, em especial o resgate final de Ahmed, claramente exaltam o poderio e eficiência das forças armadas estadunidenses e o filme faz pouco esforço para ponderar sobre o intervencionismo dos EUA ou o pouco resultado prático da ocupação no Afeganistão. Por outro lado, o segmento com Kinley em casa, preso no labirinto burocrático enquanto tenta retirar Ahmed visa criticar o descaso dos EUA com seus colaboradores, algo corroborado pelo letreiro final que informa o espectador que na retirada das tropas os tradutores e colaboradores afegãos foram abandonados pelas forças armadas, deixados para morrer ou serem perseguidos pelo talibã.

Essas instâncias de crítica são muito breves para ter a contundência necessária, simplificam uma série de questões complexas políticas, sociais e culturais desse uso de colaborares por parte das forças armadas. A crítica também se perde em meio a outras cenas que refletem o aspecto heroico dos soldados dos EUA. Além disso, se a ideia era criticar o abandono dos tradutores pelas forças armadas, porque inventar uma narrativa ficcional de um soldado honrado que arriscou tudo para salvar um aliado afegão quando isso não aconteceu? Se não foi inspirado em nenhum incidente real, a narrativa do filme representa uma desonesta reescrita da história e um desserviço ao que tenta criticar. Seria mais impactante para a denúncia que Richie pretendia se ele tivesse contado a história daqueles que apesar do seu serviço e colaboração foram covardemente deixados para morrer como se fossem objetos descartáveis.

 

Nota: 4/10


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