terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

Crítica – How To Get Away With Murder: 6ª Temporada

 Análise Crítica – How To Get Away With Murder: 6ª Temporada


Review – How To Get Away With Murder: 6ª Temporada
Depois da péssima quinta temporada, pensei seriamente em não retornar a How To Get Away With Murder. Na verdade, tinha certeza que não voltaria e só assisti essa sexta temporada por ela ser a última. Afinal, já que aguentei até aqui, melhor terminar com isso de uma vez. A conclusão se sai um pouco, mas apenas um pouco mesmo, melhor que o terrível quinto, embora não deixe de ser uma fraca conclusão para uma série que começou muito bem e teve a qualidade caindo a cada novo ano. Aviso que o texto contem SPOILERS da temporada.

Depois dos eventos da quinta temporada, Annalise (Viola Davis) está em uma clínica de reabilitação para resolver seus vícios e reconstruir a vida. Enquanto isso, Frank (Charlie Weber), Bonnie (Liza Weil) e os demais tentam desvendar o sumiço de Laurel (Karla Souza) e do filho dela, tentando entender quais foram as razões de seu desaparecimento.

Como falei em críticas sobre temporadas anteriores, a série ficou refém do próprio formato, com a estrutura de flashfowards em cada episódio tentando criar uma pista do que virá ao mesmo tempo em que tenta desviar a atenção do espectador torna-se extremamente previsível. Assim que vemos o enterro de Annalise no final do primeiro episódio já dá para prever que ela não morrerá como decorrência da investigação da conspiração que tenta incriminá-la. Do mesmo modo, quando um dos flashfowards mostra Michaela (Aja Naomi King), sabemos que ela não vai ser a culpada. Desta maneira, ao invés de gerar intriga ou suspense os flashfowards se tornam um exercício de paciência, uma tentativa de distração que já não funciona mais porque entendemos muito bem como funciona e a série não faz qualquer esforço para subverter isso.

A temporada também continua os expedientes desonestos de nos mostrar um evento apenas para depois retificar a continuidade desses mesmos acontecimentos criando reviravoltas que não soam devidamente construídas ou merecidas, mas inventadas de último minuto apenas para chocar. Isso acontece também na revelação da culpada por toda a conspiração contra Annalise, cuja responsável é uma personagem que não tinha aparecido durante toda a temporada, nem considerada como suspeita até então.

Na verdade, toda a conspiração é tão bagunçada, mirabolante e carecendo de um antagonista de peso que é difícil se importar. Desde a temporada anterior Xavier Castillo (Gerardo Celasco) era um vilão desinteressante e sem personalidade, a governadora aparece pouco para causar algum impacto e a real responsável literalmente nem aparece. Mal descobrimos que Hannah (Marcia Gay Harden), a irmã de Sam (Tom Verica), estava por trás de tudo, e ela já aparece morta fora de cena, sem que haja um confronto, um embate, sem drama ou tensão. Tudo é muito anticlimático e insatisfatório. Se os produtores não conseguiram trazer Harden de volta para ao menos um episódio como Hannah, talvez fosse melhor repensar o papel da personagem em tudo aquilo.

Mais que isso, toda a conspiração soa absurda. Como Hannah (que não aparecia na série desde a primeira temporada), uma mera psicóloga, conseguiu mobilizar uma governadora, o FBI e um cartel de criminosos latinos a cometerem uma série de crimes e infrações apenas para condenar Annalise à morte? Mais que isso, tudo soa grandiloquente demais para uma vingança pessoal. Se ela queria Annalise morta, porque não simplesmente matá-la? E porque Hannah esperou tanto tempo para fazer isso? Afinal não ouvíamos nada da personagem desde a primeira temporada. O mesmo pode ser dito das motivações da governadora. Se ela queria se vingar de Annalise pela derrota na Suprema Corte, ela poderia simplesmente matá-la, que é o que acontece com ativistas de direitos civis no mundo real quando eles incomodam os poderosos.

Tudo bem que a revelação de que Sam e Hannah tinham uma relação incestuosa nos faz repensar muito do que julgávamos saber sobre Sam e também explica muito sobre o modo como Sam tratava Frank, mostrando que a série até sabe fazer revelações coerentes e bem amarradas quando quer. Por outro lado, todo resto que envolve a trama principal é tão bagunçado e desnecessariamente complicado que é difícil se importar.

Outro problema é a inserção de personagens que acabam tendo pouca ou nenhuma relevância para a trama. É o caso de Robert (Cas Anvar) que aparece como interesse romântico de Annalise, mas pouco impacta na trama. Vivian (Marsha Stephanie Blake), a mãe de Gabriel (Rome Flynn), é mais um veículo de exposição de informações sobre Sam do que uma personagem plenamente realizada. O retorno de Laurel, apesar de tanto mistério sobre seu sumiço, carece do devido impacto, soando como muita expectativa para pouco resultado.

Os primeiros episódios da temporada tentam conciliar a trama principal com histórias mais autocontidas que tentam tratar de outros temas como a questão da imigração em um caso que Connor (Jack Falahee) trabalha. Uma das poucas coisas que funcionam na temporada é o desenvolvimento das relações entre os alunos de Annalise, fechando os arcos de Connor e Oliver (Conrad Sicamora), finalmente colocando Michaela para encontrar o pai biológico e também resolvendo o relacionamento dela com Asher (Matt McGorry). A falecida Cicely Tyson continua sendo uma presença poderosa como a mãe de Annalise, roubando a cena sempre que aparece, ainda que a doença degenerativa da personagem esteja à mercê das conveniências do roteiro.

Tudo isso, no entanto, é muito pouco para salvar a temporada final de How To Get Away With Murder de suas conspirações desinteressantes, revelações desonestas e soluções anticlimáticas.

 

Nota: 4/10


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