quinta-feira, 6 de agosto de 2020

Rapsódias Revisitadas – Um Príncipe em Nova York

Análise Crítica - Um Príncipe em Nova York


Review - Um Príncipe em Nova York
Lançado em 1988 com um Eddie Murphy em franca ascensão e o diretor John Landis no auge de seu poder como realizador de comédias (ele foi o responsável por sucessos como Os Irmãos Cara de Pau e Trocando as Bolas), Um Príncipe em Nova York ajudou a sedimentar o estrelato de Murphy e introduzir elementos que Murphy continuaria a explorar (até o desgaste) em seus futuros filmes.

Na trama, Akeem (Eddie Murphy) é o príncipe e único herdeiro da poderosa nação africana de Zamunda. Ao completar 21 anos seu pai, o rei Jaffe (James Earl Jones), insiste que Akeem se case com uma noiva escolhida por ele. O príncipe, no entanto, não quer um casamento arranjado e deseja conhecer o mundo fora de seu país, viver uma vida na qual ele não é paparicado o tempo todo e tratado como um sujeito normal. O rei então dá a ele 40 dias para que ele viva nos Estados Unidos como bem entender. Assim, Akeem para para Nova York acompanhado pelo amigo e criado Semmi (Arsenio Hall). Chegando na cidade, ele se apaixona por Lisa (Shari Headley) e decide conquistá-la.

De certa forma é um filme com todas as mensagens e conflitos típicos de uma comédia romântica. O atrito entre Akeem e o pai traz a questão de “tradição vs modernidade”. O desenvolvimento da relação entre o protagonista e Lisa, com o eventual enlace romântico (spoiler para um filme de mais de 30 anos), traz os temas de que o valor interior, não o financeiro, que importa. Já vimos dezenas de comédias românticas com todas essas ideias, mas tudo é conduzido com tanta energia e carisma que é difícil não se envolver.

Murphy dá a Akeem uma ingenuidade sincera que faz funcionar todo o arco de “peixe fora d’água” do protagonista. Essa sinceridade também ajuda a compreender a aproximação entre ele e Lisa e porque ela, filha de um empresário do Queens, prestaria atenção em um excêntrico faxineiro africano. No auge de seus poderes cômicos, Murphy interpreta outros personagens secundários além de Akeem, como dois idosos da barbearia e um cantor de igreja, demonstrando sua capacidade camaleônica de interpretar múltiplos personagens em cena, algo que ele exploraria à exaustão até o horrendo Norbit (2007)

Também no auge de seu talento estava o comediante Arsenio Hall, que faz dupla com Murphy não só como o servo de Akeem, mas também interpretando vários outros personagens. As interações entre Murphy e Hall, com qualquer personagem que estejam interpretando, rendem os momentos mais engraçados do longa, embora Hall também tenha seus momentos sozinho, como a cena em que ele tenta mandar um telegrama para o rei e é questionado pela incrédula atendente dos correios.

Embora não invista muito nisso, o filme também comenta sobre a visão bestializada e exotizante que os EUA tem da África, algo que aparece nas interações entre Akeem e Darryl (Eriq La Salle), o rival do protagonista pelo afeto de Lisa. Darryl tenta o tempo inteiro desmerecer Akeem por sua origem, como se na África todos fossem selvagens incultos, demonstrando uma visão eurocêntrica sobre o que é desenvolvimento ou progresso. Por outro lado, nem todas as piadas envelheceram bem, com algum humor relativamente machista e que reproduz modelos antiquados de masculinidade.

Ainda assim há muito o que apreciar em Um Príncipe em Nova York, um dos melhores filmes da carreira de Eddie Murphy e uma encantadora comédia romântica.

Trailer

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