segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Crítica – Parasita


Análise Crítica – Parasita


Review – Parasita
Dirigido pelo sul-coreano Bong Joon-ho, responsável por filmes com Expresso do Amanhã (2014) e Okja (2017), este Parasita é um daqueles filmes que consegue te pegar de surpresa toda vez que achamos que estamos compreendendo o que está acontecendo. Essas reviravoltas fazem o filme transitar entre diferentes gêneros e resulta em uma alegoria social que impacta pelo modo como nos guia a desdobramentos inesperados.

Na trama, a família do patriarca Ki-taek (Kang-ho Sung) se encontra toda desempregada. Para sobreviver eles recorrem a pequenos bicos como fazer caixas de pizza e outras atividades de baixa renda. A sorte deles muda quando Min (Seo-joon Park), colega de escola de Ki-woo (Woo-sik Choi), filho de Ki-taek, oferece seu emprego a Ki-woo. O trabalho em questão é dar aulas particulares de inglês para Da-hye Park (Ji-so Jung), a filha adolescente de um rico empresário do ramo de tecnologia. Chegando na casa da família, Ki-woo se torna fascinado com o estilo de vida abastado dos Park e começa a fazer planos de inserir os demais parentes em outros empregos para a família.

Dizer mais seria estragar a experiência de quem vai assistir, mas o que começa como um drama social logo dá lugar ao suspense e posteriormente a uma absurda farsa. Seriam gêneros difíceis de transitar de maneira orgânica, mas Bong Joon-ho consegue caminhar com segurança entre a seriedade e o farsesco. A história é, em essência, sobre relações de classe social e a maneira com a qual ricos e pobres enxergam um ao outro.

A ideia de existir um bunker no subterrâneo da casa dos Park serve como uma metáfora para a lógica da relação entre pobres e ricos, nas quais as classes mais baixas se escondem nas sombras e grotões, saindo apenas para coletar as migalhas deixadas pelos ricos, vivendo numa relação quase que parasitária. Essa ideia das classes baixas como moradoras do subsolo se manifesta na escolha dos dois principais sets do filme: a casa de Ki-taek é um apertado apartamento no subsolo, enquanto a casa dos Park é ampla e tomada por painéis de vidro que permitem ver o espaçoso quintal. Também mostra como essa divisão social mantem os ricos tranquilos em seu conforto enquanto os pobres brigam entre si por um mísero quinhão do estilo de vida da classe alta, prejudicando uns aos outros ao invés de cooperarem e nunca atentando que aqueles que os exploram como o verdadeiro inimigo.

É possível perceber nos personagens do filme dos tipos de mentalidade. Uma é aquela classe baixa que aspira ou tem esperança de ascender socialmente e ser tratada como igual, algo que o próprio filme mostra que é quase impossível a exemplo do senso de deslocamento de Ki-woo na festa de aniversário do caçula dos Park ou quando Ki-taek por acidente ouve o patrão reclamar do cheiro do motorista e diz que todas as pessoas que andam em transporte público tem um cheiro desagradável.

Outro olhar é aquele que parece ter se resignado à posição de inferioridade, tratando-a como algo natural e inquestionável, celebrando os ricos pelas sobras que porventura recebem. Há um personagem que se mostra grato pela generosidade de poder viver no subterrâneo dos Park (que, na verdade, nem sabem que o sujeito está ali), mas o filme também faz questão de mostrar que a família não tem qualquer preocupação além de si mesmos. Isso fica evidente no clímax do filme, quando eles ignoram a filha ferida de Ki-taek apenas para salvar o próprio filho que está em um estado bem menos grave. Na verdade, nenhum dos ricos presentes na festa faz qualquer gesto para ajudar Ki-taek.

Esses conflitos são desenvolvidos em situações que variam entre o tenso, como no momento em que os Park voltam para casa inesperadamente e a família de Ki-taek precisa correr para arrumar a casa, e o absurdo, como a cena em que personagens brigam por um celular. O modo como Ki-woo e sua família facilmente manipulam os Park para demitirem seus antigos empregados reforça a visão coisificada e bestializada que os ricos tem dos mais pobres, sempre prontos a pensar o pior a respeito deles e tratando-os como peças descartáveis.

Parasita consegue, portanto, construir uma contundente metáfora que fala do abismo que separa as diferentes classes sociais, tratando desses conflitos como uma mescla de tensão, tragédia e farsa.

Nota: 10/10

Trailer

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