quarta-feira, 28 de junho de 2017

Crítica - Okja

Resenha Crítica - Okja


Review Okja
Depois da ótima ficção-científica Expresso do Amanhã e suas ponderações sobre as relações de poder que pautam a sociedade, o diretor Bong Joon-Ho volta a flertar com ficção-científica para produzir um comentário social neste Okja. Dessa vez ele volta suas atenções para a indústria alimentícia através de uma típica história sua uma criança e seu animal/criatura de estimação.

A trama se passa em um futuro próximo, quando uma empresa, liderada por Lucy Mirando (Tilda Swinton), descobre uma nova espécie de leitão gigante, que requer pouco alimento e deixa pouca excreção. O animal tem potencial de revolucionar a pecuária e como estratégia de divulgação, a empresária espalha seis espécimes em 26 países ao redor do mundo para que em dez anos, quando os animais estiverem crescidos, decidam qual o melhor e façam uma grande apresentação do animal. Dez anos depois, a garota Mikha (Seo-Hyun Ahn) vive nas montanhas da Coreia do Sul ao lado do avô e sua superleitoa Okja. Quando Okja é declarada a vencedora da competição Mikha acaba indo junto para Nova Iorque, mas se vê no meio do embate entre a empresa de Mirando e um grupo de ativistas por direitos dos animais.

O filme não tem pressa em começar estabelecendo o laço entre a garota e a leitoa, deixando claro o quanto o animal significa pela menina e o afeto que ela tem pela criatura. Essa calma na construção será importante, já que a partir do momento em que Okja é levada para os Estados Unidos, a coisa começa a se mover muito mais rápido. Como os momentos de maior peso dramático se baseiam nos sentimentos da garota pela leitoa, seria difícil que o filme funcionasse sem que percebêssemos esse afeto de maneira tão palpável no início. Essa adesão à dupla principal é resultado também da energia e sinceridade da garota Seo-Hyun Ahn, bem como os competentes efeitos especiais que criam Okja.

Há um claro viés farsesco no modo como Joon-Ho conduz sua narrativa, da música ágil que muitas vezes parece evocar humor e ironia, passando pelas caracterizações exageradas dos ativistas e dos empresários. Tilda Swinton faz de Lucy uma mulher imatura e desesperada por atenção e seus figurinos infantilizados e enormes dentes brilhantes contribuem para essa caricatura. Do mesmo modo, o biólogo interpretado por Jake Gyllenhaal é um sujeito igualmente patético com sua voz aguda, sempre vestindo shorts e a mesma necessidade por atenção. Nem mesmo os ativistas escapam desse senso de ridículo que o filme busca imprimir em seus personagens, com um deles sendo tão radical em sua recusa por alimentos vindos das grandes produtoras que fica às portas de desmaiar de fome.

Conforme a trama se aproxima do desfecho, no entanto, vai deixando a abordagem farsesca de lado conforme eles invadem as fazendas de Mirando para resgatar Okja. Nesse momento, o filme adota um tom mais sério e denuncista para falar sobre o modo como a carne animal é produzida e comercializada, tentando também fazer os vilões, em especial a irmã de Lucy (também Tilda Swinton) em figuras ameaçadoras. É compreensível que o filme abandone a farsa ao mostrar imagens de maus tratos contra animais, afinal tudo é deprimentemente próximo demais da realidade para ser tratado como deboche, mas ainda assim parece que entramos em um filme completamente diferente quando isso acontece, dada a brusca variação tonal, fazendo as ideias do filme perderem parte de seu impacto e força.

Assim sendo, Okja acerta na construção emocional entre a menina e sua leitoa, pincelando essa jornada com um olhar crítico sobre o capitalismo industrial, embora o tom do filme nem sempre se mantenha consistente.


Nota: 7/10

Trailer

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