terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

Crítica – Vingança a Sangue Frio


Análise Crítica – Vingança a Sangue Frio


Review – Vingança a Sangue Frio
“É só mais um filme de vingança protagonizado pelo Liam Neeson”, pensei quando entrei para assistir este Vingança a Sangue Frio. O que eu não imaginava é que ele, que é um remake do filme norueguês O Cidadão do Ano (2014), fosse uma espécie de anti-filme de vingança, completamente ciente dos clichês desse tipo de trama e disposto a brincar com isso.

Na trama, Nels Coxman (Liam Neeson) trabalha dirigindo um removedor de neve em uma estrada nas montanhas do estado do Colorado. Quando seu filho é morto por traficantes, Nels decide encontrar o culpado a qualquer custo para vingar o filho morto. Esse breve resumo faz tudo parecer algo bem banal para esse tipo de história, com muita ação explosiva e a violência servindo como catarse para as injustiças do mundo.

Na verdade, o resultado está bem longe disso, mais parecendo um filme dos irmãos Coen como Fargo (1996) ou Queime Depois de Ler (2008) no qual as pessoas reagem de maneira desproporcional a eventos que não compreendem plenamente, essas ações tem consequências inesperadas que geram outras reações desproporcionais das demais pessoas e tudo vira uma imensa bola de neve de despreparo, burrice e acaso. Talvez muitos acabem desgostando do filme por conta disso, já que seus primeiros minutos ou material de divulgação não preparam plenamente o público para essa guinada tragicômica.

A violência aqui (que é representada de maneira bem gráfica, por sinal) não é algo catártico, que resolve os problemas ou traz paz ao protagonista, ela apenas gera mais e mais violência, mais mortes e mais consequências com as quais Nels tem que lidar. Um exemplo é o fato dele ser abandonado pela esposa e não fazer nada a respeito. O personagem está tão fechado em seu ideal de vingança que não se importa em sacrificar relações pessoais e não percebe o quanto sua vida vai ficando mais vazia conforme sua vingança segue.

Há uma ênfase considerável em tempos mortos ou em momentos ociosos dos personagens, nos quais capangas estão sentados em um carro esperando por alguém ou quando o vilão está levando o filho para a escola. Essas conversas aparentemente banais e repletas de excentricidade ajudam a dar humanidade aos personagens, com isso cada morte é dotada de um relativo peso, pois passamos tempo e criamos vínculos com essas pessoas (embora muitas sejam criminosos desprezíveis) deixando de vê-los como meros pedaços de carne a serem abatidos.

Tudo bem que o vilão, Viking (Tom Bateman), é em essência um traficante típico e ocasionalmente sai prejudicado pelos excessos do ator Tom Bateman, mas ao menos a trama nos mostra que, ao seu modo, ele de fato se preocupa com o filho e tem um código de honra claro. O mesmo pode se aplicar aos demais personagens, por mais que ninguém desvie dos lugares comuns desse tipo de narrativa, mas ao menos eles tem personalidade suficiente para soarem interessantes e nos motivar a acompanhá-los.

Vingança a Sangue Frio é uma grata surpresa ao se revelar uma espécie de anti-filme de vingança, demonstrando a banalidade vazia da violência e sua incapacidade de produzir uma catarse.


Nota: 7/10


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