quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

Crítica – True Detective: 3ª Temporada


Análise Crítica – True Detective: 3ª Temporada


Review – True Detective: 3ª Temporada
Depois de uma excelente primeira temporada, True Detective retornou para uma divisiva segunda temporada que pegava emprestado as estruturas labirínticas do noir e não agradou muita gente. A série ficou em banho-maria por anos, com muitos cogitando que ela não voltaria depois do baixo rendimento do ano dois. Felizmente a HBO reconheceu sua parcela de culpa no problema da segunda temporada, admitindo ter apressado o criador e roteirista Nic Pizzolato para entregar a continuação do excelente ano de estreia. Assim, o canal decidiu dar uma chance à série e essa nova temporada certamente agradará mais os fãs da primeira, embora não chegue a ser tão boa.

A trama se passa no estado Arkansas e segue uma investigação que se desenvolve ao longo de mais de duas décadas. Na década de 70, o detetive Wayne Hays (Mahershala Ali) e seu parceiro Roland (Stephen Dorff) investigam o desaparecimento de duas crianças. Quase dez anos depois o caso é reaberto quando novas provas surgem que indicam que a investigação inicial incorreu em conclusões erradas e décadas depois, um Wayne já idoso e esclerosado dá uma entrevista para um documentário que tenta preencher as lacunas do caso.

A temporada alterna entre essas três linhas do tempo entre cada episódio e serve para mostrar como Mahershala Ali constrói esse personagem ao longo das décadas. Se no início Wayne é resoluto e confiante, na década de oitenta ele já se mostra frustrado e irritado com a burocracia e politicagem da polícia que lhe impede de fazer seu trabalho, enquanto que no presente ele se mostra traumatizado pelo passado e fragilizado pela doença. Ali vai dando ao personagem mudanças sutis na postura, linguagem corporal e tom de voz, mas que dizem muito sobre Wayne.

Stephen Dorff tem bem menos tempo de tela que Ali, mas consegue aproveitar bem as chances dadas ao seu personagem como a cena do episódio final em que ele arranja uma briga em um bar só para não ter que lidar com a culpa de ter assassinado um homem. O momento dele chorando sozinho sentado no chão enquanto interage com um cão vira-lata mostra todo o tormento interno, solidão, carência afetiva e culpa de Roland.

A atriz Carmen Ejogo tem mais tempo ao lado de Wayne como sua esposa Amelia, tentando ajudar ele na investigação ao mesmo tempo em que utiliza o trabalho do marido para satisfazer suas ambições literárias ao escrever um livro sobre o caso. Apesar de Ejogo fazer de Amelia alguém capaz de agir lado a lado de Wayne, o texto a torna dependente demais do marido e ela nunca tem um arco próprio servindo basicamente como um meio para mover a investigação ou o arco de Wayne adiante.

O mesmo pode ser dito da subtrama do documentário, que serve mais como um veículo para Wayne nos expor sua experiência ao longo da investigação (e entregar um pouco de fanservice com algumas menções aos eventos da primeira temporada) do que algo que vai ter alguma repercussão sobre a trama, tanto é que a documentarista interpretada por Sarah Gadon simplesmente desaparece no final, nem sendo citada por ninguém.

Nesse sentido, o mistério em si acaba sendo secundário à jornada dos personagens ao longo dessas décadas, mas é suficientemente intrigante para manter o interesse. Como de costume na série, o crime revela um desencanto com as corruptas estruturas de poder da sociedade nas quais os poderosos fazem o que bem entendem enquanto deixam uma trilha de vidas destruídas em seu caminho de impunidade. A resolução acerta ao não tornar tudo uma mirabolante conspiração e sim um conjunto de tragédias misturadas com abuso de poder, o que torna tudo um pouco mais crível e pé no chão. Por outro lado, peca no modo como entrega a resolução, através de um longo diálogo expositivo de um dos suspeitos ao invés dos detetives conseguindo reconstruir tudo através do exame das evidências.

É quase um retorno ao que foi o primeiro ano, com um caso que se desdobra ao longo de anos e um foco na relação dos dois detetives e suas respectivas vidas pessoais. Não faz nada que já não tenhamos visto na primeira, mas é envolvente e bem atuado o suficiente para valer a pena.

Nota: 7/10


Trailer

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