quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

Crítica – Não Olhe

Análise Crítica – Não Olhe


Review – Não Olhe
Adolescência é um período de insegurança, de transformação constante, de olhar para o espelho e não se reconhecer refletido ali. Nesse sentido, a ideia de um filme de terror no qual o medo vem do reflexo no espelho parece ser uma promissora metáfora sobre os problemas de autoimagem e autoestima que permeiam essa fase da vida.

A narrativa é protagonizada por Maria (India Eisley) uma adolescente introvertida e com poucos amigos que também se sente inadequada por não atender ao padrões de perfeição de seu exigente pai, Dan (Jason Isaacs). Aos poucos, ela percebe que seu reflexo no espelho se move de maneira autônoma e começa a conversar com Maria, se identificando com Airam (Maria ao contrário, sacaram?). Airam é tudo que Maria queria ser, confiante, segura de si, sem se deixar se abalar pela cobrança dos pais, então a garota vai cada vez mais dando ouvidos ao seu próprio reflexo.

Tudo isso poderia render um bom suspense psicológico, com a personagem cedendo aos seus piores impulsos internos na tentativa de provar a todos que não é a garotinha frágil que todos imaginam e literalmente fazer as pazes com o que vê no espelho. O desenvolvimento, porém, descamba para um slasher genérico no qual Airam vai matando uma a uma todas as pessoas que maltrataram Maria.

Essa abordagem podia até ser divertida pela violência, gore ou criatividade das mortes, mas a verdade é que tudo é conduzido de maneira morosa e os atos de vingança em si carecem de impacto. A única exceção talvez seja a morte de Lily (Penelope Mitchell), na qual a protagonista usa o orgulho da amiga contra ela, mas de resto ela simplesmente vai até seu alvo e o mata sem muita cerimônia. Não ajuda que tudo seja cinzento e monocromático, fazendo tudo parecer desprovido de identidade.

A jovem India Eisley é eficiente em construir as duas facetas de sua personagem e as torna diferentes ao ponto em que é possível diferenciá-las pelo tom de voz e linguagem corporal. Já o restante do elenco fica preso em papéis unidimensionais e que por vezes pendem para o caricato, como o cirurgião plástico interpretado por Jason Isaacs. O filme parece ter algo a dizer sobre gaslighting e o modo como Dan constantemente deixa a esposa dopada de remédios apenas para mantê-la sob controle e incapaz de perceber suas traições, mas nada disso é desenvolvido ao ponto de render algum argumento sobre a questão.

Não Olhe acaba desperdiçando uma boa premissa com uma execução pouco inspirada, preferindo ser um slasher derivativo e esquecível do que a examinar os temas que propõe.


Nota: 4/10

Trailer

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