quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

Crítica - Kingdom Hearts 3


Análise Crítica - Kingdom Hearts 3


Review - Kingdom Hearts 3
Kingdom Hearts (2002) foi a principal razão para eu querer um Playstation 2. A mistura entre Disney e Final Fantasy em uma roupagem de RPG de ação me soava fascinante e, quando finalmente consegui o console em 2005, ele não me decepcionou. Kingdom Hearts 2 chegou um ano depois, em 2006, e ainda considero um dos melhores jogos do PS2, melhorando em praticamente tudo do original. O tempo passou e nada de Kingdom Hearts 3 sair, uma geração inteira de consoles chegou e acabou sem que o terceiro capítulo da história de Sora tivesse sido lançado. Claro, tiveram vários spin-offs, prelúdios, etc, que preenchiam lacunas ou contavam histórias paralelas (joguei todos, por sinal), mas uma entrada “numerada” não saía, até que este ano, treze anos depois do segundo jogo, finalmente recebemos o encerramento da trilogia e ele é tudo que os fãs esperavam.

A trama começa logo depois dos eventos de Kingdom Hearts: Dream Drop Distance, com Sora e Riku encerrando seus testes de maestria da keyblade e partindo para localizar os sete guardiões da luz para enfrentar a nova Organization XIII criada por Xehanort. Como de costume, a jornada leva Sora, Donald e Pateta por diferentes mundos baseados em filmes da Disney (e agora da Pixar também), como Frozen (2013), Enrolados (2010) ou Monstros S.A (2001).

Como a narrativa é uma culminação de tudo que aconteceu em todos os jogos (mesmo os spin-offs) é necessária alguma familiaridade com os eventos anteriores para compreender o que está acontecendo e mesmo assim alguns elementos soarão confusos. Sim, os próprios personagens brincam com o fato tudo ter se tornado tão complexo ao ponto de ficar quase incompreensível, com viagens no tempo, personalidades alternativas e tudo mais. A questão é que mesmo com o jogo oferecendo algumas recapitulações não diria que é de fácil entrada para novatos. Os momentos de maior força emocional, como o reencontro com Aqua ou Ventus, podem não ter impacto nenhum em que não está familiarizado com a história da franquia nem compreende plenamente o peso desses retornos.

Incomoda um pouco o fato da trama constantemente reduzir Kairi ao papel de donzela em perigo a ser resgatada por Sora, afinal Kairi é também uma usuária da keyblade e não faz sentido que ela seja menos capaz do que os outros. A ausência de personagens de Final Fantasy também é sentida, já que Squall, Cloud e outros desempenhavam papéis importantes nos dois primeiros jogos e aqui eles desaparecem por completo, com os moogles sendo o único elemento de Final Fantasy verdadeiramente presente. Não sei até que ponto foi uma decisão criativa ou uma imposição da Disney, que não queria dividir os holofotes de seus personagens, mas considerando o quanto Kingdom Hearts 3 é competente em oferecer desfechos a praticamente todos os arcos desenvolvidos ao longo da franquia, é uma pena que não tenhamos um encerramento para personagens que tiveram conosco desde o começo.

O combate é mais acelerado e grandiloquente do que qualquer outro exemplar da franquia, incorporando os finalizadores de Kingdom Hearts 0.2 Birth By Sleep: A Fragmentary Passage (a franquia tem títulos bem aloprados) e adicionando uma gama de novos elementos. Sora agora pode transformar sua keyblade e cada arma oferece uma transformação diferente, seja em escudo, pistolas ou lança. Como é possível equipar até três e mudá-las durante o combate, isso abre um grande leque de possibilidades estratégicas. O protagonista também pode invocar atrações dos parques da Disney para usar durante o combate, como ao longo do jogo também adquire o poder de invocar alguns personagens como Simba (de O Rei Leão) ou Ariel (de A Pequena Sereia). O resultado é uma ágil coreografia de luzes e cores enquanto os personagens despacham hordas de inimigos, resultando no melhor sistema de combate da franquia.

A quantidade de membros do grupo também aumenta. Se antes Sora só podia levar consigo dois outros personagens, o que implicava que Donald ou Pateta precisariam ficar de fora para Sora pudesse lutar ao lado dos personagens de cada mundo, agora é possível levar até quatro. Assim, é possível deixar Sora lutar ao lado de Buzz e Woody ou de Mike e Sully sem sacrificar a progressão de personagens fixos como Donald e Pateta. Tal como no segundo jogo, Sora também pode fazer ataques em conjunto com os membros de seu grupo, ampliando suas táticas em combate.

Falando nos personagens Disney, o trabalho de dublagem é ótimo, conseguindo na maioria dos casos trazer de volta o elenco original das animações, como no caso de Frozen e Operação Big Hero (2014), ou ao menos conseguindo vozes bem similares, como em Monstros S.A. A exceção fica por conta do mundo de Piratas do Caribe, no qual as vozes de Elizabeth Swann, Will Turner ou Barbossa em nada parecem com os personagens originais, causando bastante estranhamento. A música traz de volta os temas marcantes dos outros jogos, bem como as canções dos filmes que inspiram cada universo (acharam que não ia ter Let it Go?), além de trazer novos temas cantados por Utada Hikaru, responsável pelas canções dos dois outros games.

Os mundos trazem grandes espaços abertos a explorar e são visualmente fieis aos seus filmes de origem, alguns até mudam o estilo gráfico do jogo. Tudo, incluindo Sora, Donald e Pateta, se torna mais fotorrealista no mundo de Piratas do Caribe, enquanto no mundo do Ursinho Pooh os gráficos se alteram para um estilo em cel shading que remete a animações bidimensionais. Cada mundo também oferece suas próprias mecânicas, oferecendo variedade na jogabilidade, como a possibilidade de pilotar robôs gigantes no mundo de Toy Story ou de navegar pelos oceanos no mundo de Piratas do Caribe, que funciona quase como uma versão “disneyficada” de Assassin’s Creed: Black Flag.

Existem também vários atividades secundárias como a coleta de itens para criar equipamentos, os puzzles no mundo de Pooh ou os minigames culinários envolvendo o ratinho Remy de Ratattouille (2007). As comidas feitas com Remy servem para dar diferentes bônus temporários aos personagens e as diferentes combinações de entrada, prato principal e sobremesa também fornecem bonificações próprias, oferecendo bastante espaço para experimentação de combinações diferentes.

A Gummi Ship retorna como o veículo de viagem entre os mundos, agora oferecendo um espaço aberto de exploração (pensem nos segmentos de voo livre em Star Fox) ao invés de fases de tiro de progressão linear. Nesses espaços abertos existem itens a coletar para melhorar a nave e missões de combate, dando muito o que fazer e explorar. No entanto, quem quiser (já que os segmentos de nave sempre foram divisivos na franquia) pode reduzir o uso da Gummi Ship ao mínimo, já que ela só é necessária para chegar aos mundos ainda não visitados. Uma vez tendo visitado qualquer mundo é possível viajar a ele diretamente sem necessidade da nave.

Kingdom Hearts 3 é um excelente e emocionante desfecho para a trilogia iniciada há mais de uma década. Resolvendo todas as tramas, ampliando a jogabilidade e apontando novos rumos.

Nota: 8/10


Obs: O jogo está disponível para PS4 e Xbox One

Trailer:

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