terça-feira, 25 de dezembro de 2018

Crítica – O Retorno de Mary Poppins

Análise Crítica – O Retorno de Mary Poppins


Review – O Retorno de Mary Poppins
Não imaginei que a Disney faria outro filme com a babá Mary Poppins, afinal é notório que a escritora P.L Travers não gostou do que Walt Disney fez com sua personagem no filme de 1964 estrelado por Julie Andrews, uma história que também já foi contada nos cinemas em Walt nos Bastidores de Mary Poppins (2013), ainda que o filme alivie um pouco as animosidades entre Travers e Disney. A questão é que o estúdio conseguiu fazer um acordo com o espólio da escritora e assim chegamos a este O Retorno de Mary Poppins.

Na trama, as crianças Banks do primeiro filme já estão adultas. Michael (Bem Winshaw) é um pai viúvo de três crianças e está prestes a perder a casa, enquanto Jane (Emily Mortimer) é uma líder sindical que tenta organizar os trabalhadores durante o período de crise econômica. Assim, Mary Poppins (Emily Blunt) mais uma vez aparece na vida dos Banks, dessa vez sendo auxiliada por Jack (Lin-Manuel Miranda) um trabalhador que cuida das lamparinas das ruas.


É praticamente a mesma trama do original, com Poppins aparecendo para auxiliar a família Banks em um momento no qual o patriarca adulto está sobrecarregado com suas responsabilidades e as crianças precisam aprender a lidar com esses problemas. A babá então ensina o adulto a se reconectar com sua criança interior ao mesmo tempo em que ensina as crianças a lidar com as dificuldades e responsabilidades através de situações fantásticas e números musicais.

Claro, o filme mantém esse senso de fantasia e ludicidade a partir das “viagens” que as crianças fazem com Mary Poppins por lugares coloridos e visualmente impressionantes, nos quais a babá lhes ensina lições importantes como não julgar as pessoas pela aparência, o valor em ver as coisas sob perspectivas diferentes ou a lidar com o luto pela perda da mãe. Tal como no primeiro filme, existem algumas cenas em que os personagens humanos interagem com animais animados e o filme preserva a estética de animação feita à mão do filme original. O segmento em que eles viajam por uma tigela de porcelana impressiona pelo visual colorido, pela maneira como os figurinos dos atores se transformam para remeter a roupas de desenho animado e também pela atenção aos efeitos sonoros, já que os passos dos personagens de fato soam como se eles estivessem pisando sobre uma superfície de porcelana.

Emily Blunt evita imitar o que Julie Andrews fez como Poppins e dá sua própria versão da personagem, trazendo uma altivez semelhante, mas um pouco mais de rigidez e vaidade à babá, curiosamente aproximando mais a personagem de sua contraparte literária. Já Lin-Manuel Miranda enche Jack de charme e energia, ainda que seu sotaque britânico seja quase tão exagerado quanto o de Dick Van Dyke como Bert no filme original.

O que falta em “britanicidade” a Miranda é compensado por ele nos números musicais, já que as melhores canções pertencem a ele, seja o número que ele divide com Mary dentro do universo animado, seja a canção em que ele fala sobre a iluminação da cidade. Blunt, por sua vez, é responsável pela emotiva canção sobre superar perdas e alguns outros números bem carismáticos, ainda que nenhuma canção grude na cabeça como as do original (e, convenhamos, seria difícil superar algo como Supercalifragilisticexpialidocious).

Bem Winshaw e Emily Mortimer têm bastante química e unidade como os irmãos Banks adultos, mas Jane Banks acaba sendo posta em escanteio pelo roteiro, se limitando a uma subtrama romântica com Jack. Toda a construção dela como líder sindical, por outro lado, acaba não tendo impacto algum na narrativa e a personagem poderia ter qualquer outra ocupação que não faria muita diferença.

No fim, O Retorno de Mary Poppins não consegue superar ou se aproximar do impacto do original (e dificilmente teria como), mas apresenta uma aventura musical com charme, senso de espetáculo e lições importantes sobre responsabilidade, família e preservar a criança interior.

Nota: 6/10


Trailer

Nenhum comentário: