domingo, 23 de dezembro de 2018

Crítica – Bird Box


Análise Crítica – Bird Box


Review – Bird Box
Uma mulher e duas crianças caminham vendadas em meio a uma floresta tomada por um nevoeiro. A mulher alerta as crianças para não tirarem as vendas, pois se verem as criaturas invisíveis que tomaram nosso mundo, correm o risco de morrer. No papel a premissa de Bird Box parece risível, mas funciona melhor na prática. A questão é que a trama se pretende a um exame da erosão da sociedade diante de um ambiente apocalíptico e também a uma metáfora sobre a maternidade e faz as duas coisas apenas superficialmente.

Malorie (Sandra Bullock) está grávida e tem dúvidas se conseguirá amar e criar vínculo com a criança que irá nascer. Em meio a esses questionamentos, o mundo é tomado por um surto de insanidade, com pessoas enlouquecendo e se matando aparentemente sem razão alguma. Não demora a descobrirem que a razão de tudo isso são criaturas que, quando vistas, levam a pessoa à loucura. A trama alterna duas temporalidades, o presente no qual Malorie viaja com duas crianças através de um rio e o passado, com ela ainda grávida refugiada em uma casa com outros sobreviventes.

A trama presente é bem mais interessante que a do passado, já que esses flashbacks não tem muito a apresentar além de uma coleção de lugares comuns de cenários pós-apocalípticos. Como é habitual nesse tipo de história, os flashbacks mostram como os próprios humanos podem ser mais perigosos que qualquer criatura, algo que filmes como O Nevoeiro (2007) já fizeram bem melhor, e como o ser humano recorre à barbárie na ausência de leis ou regras.

Não ajuda também que o grupo de sobreviventes seja povoado por personagens unidimensionais que refletem arquétipos tradicionais desse tipo de história, do sujeito de bom coração, passando pelo babaca egoísta e à pessoa ingênua que comete um erro fatal, já vimos todos esses personagens inúmeras vezes. O elenco ajuda a dar alguma humanidade a esses tipos cansados, em especial Trevante Rhodes (de Moonlight e o recente O Predador) ou Lil Rel Howery (de Corra!), mas alguns outros, como John Malkovich, acabam caindo no caricatural.

Enquanto isso, a trama do presente é hábil em criar um clima de isolamento e perigo constante com seu trio de personagens literalmente viajando às cegas. Sandra Bullock é bastante eficiente ao evocar o desespero e temor de Malorie em tentar conduzir sozinha e sem enxergar aquelas duas crianças e a trama consegue criar boas situações de tensão envolvendo os três personagens, em especial o clímax quando eles se separam em uma floresta. Não é nada que já não tenhamos visto em outros filmes do gênero, como o recente Um Lugar Silencioso, mas é eficiente o bastante para envolver. Na verdade, seria até possível dizer que este filme é uma espécie de mistura entre Um LugarSilencioso e Fim dos Tempos (2008) do M. Night Shyamalan.

Como mencionei antes, a viajem de Malorie com as duas crianças pode ser entendida como uma metáfora para a maternidade e a jornada de aceitação da personagem do seu papel como mãe. Ela precisa cegamente se conectar a essas crianças e precisa fazer o seu melhor para mantê-las seguras e preparadas para os desafios que encontrarão sem ter qualquer certeza de que está fazendo a coisa certa ou de que as duas crianças irão obedecê-la.

Bird Box acaba preso demais a convenções de histórias pós-apocalípticas, mas oferece momentos de suspense suficientes para fazer a experiência ser minimamente aproveitável.


Nota: 6/10

Trailer

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