segunda-feira, 9 de julho de 2018

Crítica – Good Girls: 1ª Temporada


Análise Crítica – Good Girls: 1ª Temporada


Review – Good Girls: 1ª Temporada
Tive curiosidade em conferir a primeira temporada da série Good Girls por sua premissa parecer uma espécie de versão mais cômica de Breaking Bad e pela presença da atriz Christina Hendricks (a Joan de Mad Men). A premissa poderia render uma comédia crítica sobre as contradições e problemas da classe média dos Estados Unidos, mas essa temporada de estreia nunca explora suas ideias de maneira satisfatória.

A série é centrada em três mulheres, cada uma com problemas financeiros de natureza diferente. Beth (Christina Hendricks) é uma pacata dona de casa que vê seu casamento naufragar ao descobrir que seu marido, Dean (Matthew Lilard), não só a está traindo com a secretária como também perdeu boa parte das economias do casal em investimentos ruins. Annie (Mae Whitman), a irmã de Beth, trabalha como caixa em um supermercado e está prestes a perder a guarda da filha para seu rico ex-namorado, não tendo condições de pagar um advogado. Já a garçonete Ruby (Retta) está com dificuldades para pagar o caro tratamento médico da filha e teme que seus problemas financeiros custem a vida da garota.

Desesperadas, elas decidem assaltar o mercado em que Annie trabalha, mas durante o roubo descobrem que os cofres do estabelecimento guardavam muito mais dinheiro do que imaginavam. Isso porque o mercado fazia parte de uma operação de lavagem de dinheiro do criminoso Rio (Manny Montana), que logicamente não ficou contente com o assalto e vai atrás das três para cobrar seu dinheiro, com juros.

O principal mérito da série é o trio principal de atrizes. Primeiro porque elas constroem uma amizade sincera entre suas personagens, nos fazendo nos importar não só com cada uma individualmente, mas com elas em conjunto e com a preservação dessa amizade à despeito das dificuldades que irão se impor a elas. As atrizes também são hábeis em construir o senso de frustração daquelas mulheres, constantemente passadas para trás, subestimadas e silenciadas, tornando compreensível que elas tenham tomado medidas tão drásticas como recorrer ao crime para retomar o controle de suas vidas. É por causa das três que os principais momentos de drama funcionam, mesmo quando é possível prever as principais reviravoltas com muita antecedência.

A série tenta equilibrar o drama com a comédia, mas por mais que renda alguns momentos engraçados, principalmente quando as personagens tentam lidar com algumas consequências absurdas para seus esquemas criminosos. No entanto, o material nunca chega a ser tão aloprado ou tão crítico como, por exemplo, As Loucuras de Dick & Jane (2005), que tecia uma crítica mais ácida e competente ao modo como a estrutura financeira dos EUA é feita para estimular a classe média a consumir mais do que sua capacidade, mantendo-a em constante estado de dívida. Nesse sentido, Good Girls acaba não tendo muito a dizer que já não tenha sido dito (e melhor) sobre a relação entre classe média, consumo e endividamento nos Estados Unidos.

Há também a questão das muitas inconsistências no comportamento das personagens. Em uma cena Beth é perfeitamente capaz de peitar sem medo um criminoso perigoso como Rio, mas pouco tempo depois é incapaz de dissuadir ou intimidar uma dona de casa vizinha que a chantageia depois de descobrir seus esquemas criminosos. Sim, a trama da razões para que Beth tenha pena da mulher ao ponto de não dar o nome da chantagista para que Rio a matasse, mas considerando o quanto ela se mostra engenhosa ao longo da trama, soa pouco crível que Beth ceda à chantagem ao invés de tentar resolver de outra maneira. Do mesmo modo, a personagem se mostra bastante inteligente em formular seus golpes, mas contraditoriamente é ingênua demais para prever as consequências de suas ações, como o fato de que Rio certamente tentaria se vingar depois dela tê-lo entregado à polícia.

Outra questão é que a trama parece convenientemente esquecer de certos elementos da narrativa, tornando-os inconsequentes. Um exemplo é quando Annie forja provas de que o chefe cometeu atos de pedofilia, usando essas provas para dissuadi-lo a denunciá-la. Alguns episódios depois, o chefe planta drogas no armário de Annie, esquecendo que ela poderia incriminá-lo por algo ainda mais grave e a própria Annie esquece de usar a “apólice de seguro” que tinha contra chefe, fazendo todo o esquema de forjar a pedofilia ser uma perda de tempo já que nunca volta a ser citado e não tem qualquer repercussão na trama.

Eu queria muito ter gostado de Good Girls, mas apesar do talento das protagonistas, a série é superficial e inconsistente demais para funcionar como deveria. Resta torcer para que as coisas melhorem na já garantida segunda temporada.


Nota: 5/10


Trailer

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