quarta-feira, 4 de julho de 2018

Crítica – Fevereiros


Análise Crítica – Fevereiros


Review – Fevereiros
Documentários sobre artistas da música se tornaram um grande filão comercial do cinema brasileiro nos últimos anos. A maioria deles segue o padrão “talking heads” com entrevistas estáticas ocasionalmente intercaladas com imagens de arquivo e embora este Fevereiros siga essa estrutura base, sua protagonista, a cantora Maria Bethânia, é tão fascinante que é difícil não se envolver com ela.

O documentário tem um recorte específico sobre a vida da cantora, tendo como ponto de partida a homenagem feita a Bethânia pela escola de samba carioca Mangueira, cujo samba-enredo no ano de 2016 foi uma celebração dos 50 anos de carreira de Bethânia. Poderia ser meramente um filme publicitário sobre um samba-enredo vencedor (e talvez seja), mas o filme ganha força ao ir um pouco além da história pessoal de sua protagonista e tentar entender as matrizes culturais que tanto a influenciaram.

Nesse sentido, o filme é tanto um exame das influências de Bethânia como da importância das tradições religiosas do Recôncavo da Bahia para a cultura e para música brasileira (afinal, o samba de roda nasceu no Recôncavo). São nos momentos em que o filme explora as festas populares e religiosas de Santo Amaro, derivadas tanto de matrizes católicas quanto das religiões afro-brasileiras, em que ele se afasta um pouco mais das estruturas mais típicas do documentário musical brasileiro para acompanhar as festas e as andanças de Bethânia pelas ruas da cidade.

As imagens das festas são muitas vezes pontuadas por canções da protagonista, ajudando a entender como as vivências culturais de Bethânia impactam na sua produção artísticas e como sua permanente relevância se deve, em parte, à sua habilidade de dialogar com essa cultura popular secular. Filmadas quase sempre no nível da rua, as cenas das festas da cidade nos ajudam a perceber a intensidade, exuberância e fervor daquelas manifestações, compreendendo como elas mobilizam e inspiram tanta gente.

Mesmo em seus momentos mais “quadrados”, nas entrevistas com Bethânia e membros da sua família, o filme encanta pelo carisma do clã Velloso e dos “causos” que os irmãos Caetano e Mabel contam sobre as vivências deles e de Bethânia com a religiosidade do Recôncavo. É difícil ouvir as falas de Caetano, Mabel ou Bethânia sobre as festas da região e não abrir um sorriso no rosto a cada situação pitoresca narrada por eles.

Assim, mesmo aderente a um formato bem típico de documentário musical, Fevereiros cumpre sua promessa de nos fazer entender o que faz a cantora Maria Bethânia retornar a Santo Amaro todo segundo mês do ano, a força desta cultura e quanto ela está presente na música da artista.


Nota: 8/10


Trailer

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