quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Crítica - Liga da Justiça

Análise Liga da Justiça


Review Liga da JustiçaO recente Mulher Maravilha mostrou que a Warner/DC podia aprender com os erros dos filmes anteriores. Já este Liga do Justiça, embora tenha sua parcela de problemas, continua a colocar o universo cinematográfico da DC nos eixos ao introduzir novos heróis e apostar na dinâmica entre eles.

A trama começa quando o Batman (Ben Affleck) começa a detectar aparições de criaturas alienígenas ao redor do mundo e suspeita que um ataque ao planeta está à caminho. Ao mesmo tempo a ilha das amazonas é atacada pelo Lobo das Estepes (voz de Ciaran Hinds), um guerreiro alienígena que veio à Terra para recuperar três Caixas Maternas, artefatos de grande poder escondidos em nosso planeta desde tempos imemoriais. A rainha Hipólita (Connie Nielsen) avisa Diana (Gal Gadot) da ameaça iminente e ela e Bruce tentam reunir outros seres especiais para combater a ameaça.

O começo do filme é bem acelerado e bagunçado conforme a trama tenta dar conta de introduzir ao menos três novos personagens e seus núcleos de coadjuvantes nas menos de duas horas de projeção. A narrativa corre para colocar todas as suas peças no tabuleiro, engatando uma cena cheia de diálogos explicativos depois da outra no qual muito é dito, mas pouco é sentido em relação aos dilemas de cada herói, já que é tudo muito rápido.

A trama acerta, no entanto, nas personalidades de cada um dos seus heróis, em especial no senso de humor, hiperatividade e falta de traquejo social do Barry Allen/Flash (Ezra Miller) ou no jeito bruto e bonachão de Arthur/Aquaman (Jason Momoa). O elenco funciona tanto isoladamente quanto em conjunto dando a eles vários momentos para se conectar uns com os outros. Os melhores são o vínculo formado entre o Flash e o Ciborgue (Ray Fisher) pelo fato de ambos terem adquirido suas habilidades por acidente, assim como boa parte dos diálogos entre Bruce Wayne e o resto dos personagens. As interações são coerentes com as personalidades de cada um e o filme consegue criar um senso de união ao mostrar como eles se complementam não só em nível de habilidades mas no modo como lidam com as coisas, o  pragmatismo e engenhosidade do Batman complementa a copassividade e senso de correção moral da Mulher Maravilha, assim como a ingenuidade e calor humano de Barry complementa a frieza do Ciborgue.

Diferente do excesso de sisudez dos outros dois filmes neste universo dirigidos por Zack Snyder, este consegue equilibrar melhor o senso de grandiosidade, fotografia que tende ao realismo com um clima mais leve e aventuresco, com momentos de humor sem esquecer do desenvolvimento de seus personagens, tal qual acontecia com Mulher Maravilha. As cenas de ação sabem aproveitar as habilidades de cada um deles e o filme é mais comedido com seu uso da câmera lenta, sabendo usá-la a favor da ação ao invés de contra ela, exceto talvez pela inútil tomada da cápsula de munição do Batmóvel quicando em câmera lenta no asfalto.

A narrativa, no entanto, não consegue escapar do clichê de fazer um personagem ficar momentaneamente louco e raivoso obrigando os demais a contê-lo, o que é piorado pelo conveniente mal funcionamento do Ciborgue ao atacar um possível aliado, tudo convergindo em uma tentativa de forçar um confronto entre os heróis. Essa série de lugares-comuns, porém acaba sendo menos incômoda do que deveria por resultar em um dos momentos mais legais do filme que é uma luta em supervelocidade envolvendo o Flash e outro personagem.

Se os heróis são envolventes, o vilão, por outro lado, é uma nulidade. O Lobo das Estepes nunca recebe nenhuma motivação além de um objetivo vago de coletar as Caixas e retornar ao seu mundo (que deve ser Apokolips). Como há apenas uma menção tímida a Darkseid, o Lobo das Estepes sequer consegue funcionar como uma espécie de "etapa inicial" para uma ameaça maior. O personagem ainda é prejudicado pela escolha de fazê-lo todo como um gigante de computação gráfica artificial que mais parece um design rejeitado para chefão de jogo de RPG online. Ciaran Hinds tenta o máximo para lhe conferir alguma gravidade com sua voz áspera, mas o bonecão digital não convence e jamais soa como um perigo real para os heróis. Teria sido melhor colocar um ator em uma armadura, como o Ares de Mulher Maravilha, do que criar algo completamente computadorizado.

Aliás, o filme tem alguns problemas em relação ao seu uso de efeitos especiais, algo que uma produção de mais de 200 milhões de dólares não tem o direito de errar. O corpo do Ciborgue, feito todo digitalmente, não convence, deixando claro boa parte do tempo que é um decalque feito por cima da silhueta do Ray Fisher do que algo que é parte dele, sendo o rosto dele a única coisa convincente na maior parte do tempo. Parece que a Warner não aprendeu nada com o fiasco do uniforme digital de Lanterna Verde (2011) e teria sido melhor misturar próteses e peças reais de figurino com efeitos digitais (como a Marvel faz com o Homem e Ferro), inclusive porque assim a equipe de pós-produção teria um referencial real de como a superfície metálica reage com as variações de luz e partícula dos diferentes ambientes. Do mesmo modo os retoques digitais feitos para apagar o bigode do Henry Cavill (vocês perceberão quando verem) fazem o rosto do ator ficar incrivelmente esquisito.

Mesmo com alguns problemas de estrutura e um vilão inócuo, Liga da Justiça é uma aventura bem divertida que funciona por entender seus personagens e saber desenvolver as relações entre eles.


Nota: 6/10

Obs: O filme tem duas cenas adicionais durante os créditos

Trailer

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