segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Crítica - Inhumans: Primeira Temporada

Análise  Inhumans: Primeira Temporada


Review  Inhumans: Primeira Temporada
Quando terminei de assistir esta primeira temporada de Inhumans a primeira coisa que pensei foi: "Eu deveria ter parado de assistir depois do episódio duplo de estreia". Isso porque os dois episódios que abrem a série (e foram exibidos juntos) são tão desastrosos que já ficava evidente que as coisas não melhorariam dali em diante, mas teimosamente (ou masoquisticamente) insisti em continuar.

A segunda e terceira temporadas de Agents of SHIELD já tinham sugerido a existência da família real dos Inumanos e uma cidade fora da Terra no qual a espécie viveria oculta da raça humana. Esta série aborda justamente a cidade lunar de Attilan e a família real liderada por Raio Negro (Anson Mount) e Medusa (Serinda Swan). A narrativa começa quando Maximus (Iwan Rheon, o Ramsay de Game of Thrones), irmão mais novo de Raio Negro, articula um golpe contra o trono. Raio Negro, bem como o restante da família real, acabam fugindo para a Terra. A trama tinha potencial de ser uma espécie de Game of Thrones no espaço, cheia de intriga palaciana e personagens moralmente ambíguos, mas sequer chega perto de atingir esse efeito.


O primeiro problema é que a narrativa nunca se esforça para fazer o público entender como funciona Attilan, estabelecendo tudo de maneira apressada e deixando que conceitos complexos como sua rígida estrutura de castas, aparentemente necessária para que a cidade sobreviva em um ambiente de poucos recursos como a Lua, nunca sejam explicados de maneira satisfatória. Como toda essa estrutura social é abordada de maneira rasa, é difícil nutrir afeição por Raio Negro, já que ao invés de um monarca devotado ao seu povo e família, ele acaba soando como um déspota que oprime parte de sua população para dar privilégios a uma minoria.

Em um momento ele e Medusa chegam a mencionar que manter essa estrutura rígida é difícil para eles lidarem, mas isso é muito pouco para dar conta dessa questão. Além disso soa hipócrita e condescendente falar em dificuldade quando eles vivem aparentemente (porque a série nunca deixa claro quais são as dificuldades vivenciadas em Attilan) em conforto enquanto seus súditos vivem na penúria. Essas ideias poderiam trazer ambiguidade e profundidade ao casal real, mas não funciona porque a questão é simplesmente complexa demais para o modo simplório como a série a trata.

O golpe dado por Maximus também é apressadamente mal explicado. Claro, é possível compreender que seu discurso de acabar com as castas tenha apelo com essa parcela da população, mas qual o motivo das castas altas, incluindo membros da guarda real, apoiarem seu golpe? Eles não veriam isso como uma possibilidade de perda de privilégios? É só quando mais da metade da temporada já passou que a trama menciona um grupo de resistência dentro de Attilan, mas a esse ponto já soa como uma tentativa de resolver um furo do que um desenvolvimento orgânico.

A motivação de Maximus é inicialmente compreensível, percebemos que ele está cansado do tratamento condescendente de todos por ter se transformado em um mero humano depois de passar pela terrigênese (ao invés de ganhar poderes) e decide provar seu valor através da tomada do trono. Quando a trama caminha para o fim, no entanto, é revelado que ele não tinha qualquer intenção em reestruturar a organização social de Attilan, mas que seu interesse principal em tomar o trono era poder ignorar as leis vigentes e se submeter a uma segunda terrigênese na esperança de finalmente ganhar poderes. Isso acaba reduzindo o personagem a um mero megalomaníaco sedento por poder e retira a complexidade moral anteriormente estabelecida. Iwan Rheon é ótimo ao evocar os anos de frustração por ser constantemente subestimado e a raiva e ressentimento que tem por seu irmão e os demais, mas seu personagem é sabotado por escolhas ruins de roteiro.

O resto do elenco, por outro lado, não é tão bom quanto Rheon. Falta a Anson Mount a imponência e altivez necessária para convencer da força do silencioso monarca Raio Negro, que não fala por sua voz ser tão poderosa que seria capaz de derrubar uma montanha. Aliás, há uma escolha dramatúrgica bem esquisita no modo como a série lida com a comunição por sinais do personagem  fazendo Medusa traduzir em voz alta seus gestos. Isso seria compreensível quando ele se dirige aos súditos ou pessoas pouco habituadas com sua forma de comunicação, mas não faz sentido que ela precise traduzir os gestos até quando ele está em cena apenas com pessoas com quem tem anos de proximidade, como Gorgon (Eme Ikwuakor) ou Karnak (Ken Leung), que já deveriam estar habituados em entendê-lo. O pior é que a Medusa faz esta "tradução" em voz alta até quando está sozinho com Raio Negro em cena. Eu entendo que os realizadores queriam que o público entendesse o que o monarca diz, mas a maneira escolhida é incoerente e pouco orgânica, talvez o uso de legendas fosse melhor ou talvez não colocar nada nessas cenas em que ele dialoga com pessoas próximas, confiando na performance física de Mount e na inteligência do público em compreender o contexto da cena.

A Medusa é uma personagem igualmente difícil de se conectar, já que em boa parte do tempo ela mais parece uma dondoca mimada, birrenta, egoísta e irritante do que uma monarca orgulhosa e inteligente. Isso compromete que nos importemos com seu arco de amadurecimento e a construção de sua amizade com a terráquea Louise (Ellen Woglom). Outros personagens são desperdiçados em subtramas que não vão a lugar nenhum, como Karnak que passa vários episódios em uma plantação de drogas e tem um envolvimento romântico que parece acontecer por pura necessidade de roteiro. Sua subtrama podia ser cortada quase que inteira sem grande prejuízo de tanto que está deslocada do resto. Eu entendo que eles queriam dar ao personagem uma trama na qual ele aprendesse a ser menos dependente de seus poderes, mas o modo como ela foi feita não tem relação nenhuma com o restante da série, já que é difícil se importar com o lento triângulo amoroso de Karnak e os plantadores de maconha quando o destino de uma civilização inteira está em jogo. Por sinal a trama romântica de Crystal (Isabelle Cornish) e um humano é igualmente dispensável e forçada.

Além dos problemas de roteiro, há uma série de problemas técnicos e estéticos. Todo o design de Attilan falha em impressionar ou transmitir a ideia de algo alienígena e próspero. As cenas internas parecem feitas em um galpão cinzento qualquer e as externas são prejudicadas por uma computação gráfica artificial. Os efeitos digitais ruins também são vistos nos cabelos da Medusa e nos poderes de outros personagens, sendo o enorme cão Dentinho (Lockjaw) a única coisa minimamente convincente. Os figurinos, por sua vez, parecem uma coisa feita por cosplayers sem dinheiro e falham em evocar a exuberância e austeridade que se esperaria das vestes de uma nobreza ou família real. Tudo isso deixa evidente que o universo habitado pelos Inumanos seria mais adequado para o cinema do que para o orçamento apertado de uma série de emissora de TV aberta.

Eu achei que a primeira temporada de Punho de Ferro seria a pior série de super-heróis que eu veria esse ano, mas Inhumans toma esse posto por seu roteiro raso, personagens inconsistentes e produção tosca. Ao menos a temporada tem somente oito episódios.

Nota: 3/10


Trailer:

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