quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Crítica - Mark Felt: O Homem que Derrubou a Casa Branca

Análise Mark Felt: O Homem que Derrubou a Casa Branca


Review Mark Felt: O Homem que Derrubou a Casa Branca
O escândalo Watergate já foi bastante explorado pelo cinema hollywoodiano. O mais lembrado desses filmes é Todos Os Homens do Presidente (1976), que mostrava a investigação dos repórteres do Washington Post que expuseram o acobertamento cometido pelo governo com a ajuda de um informante de dentro do FBI. Este Mark Felt: O Homem Que Derrubou a Casa Branca acaba sendo um Todos Os Homens do Presidente sob a perspectiva do informante, o vice-diretor do FBI Mark Felt que acabou sendo apelidado como Garganta Profunda.

Ao reverter o ponto de vista em relação a uma história já conhecida era de se imaginar que a narrativa fosse se deter mais sobre a figura de Felt, seus conflitos e motivações, do que os eventos em si, que já foram exaustivamente explorados, mas o diretor e roteirista Peter Landesman (responsável pelo igualmente decepcionante Um Homem Entre Gigantes) parece mais interessado em recontar uma história já conhecida do que acrescentar algo a ela. A impressão é que em tempos de governo Trump, suspeita de conspiração com a Rússia e a demissão de um diretor do FBI por investigá-lo, a indústria cinematográfica queria lançar algo para lembrar ao público da importância de resistir aos desmandos de um presidente autoritário que não respeita a separação entre os poderes. Como não tinham nenhuma outra história do tipo, resolveram reciclar os eventos de Watergate e usá-los como metáfora para os tempos atuais.


O começo até dá a impressão que o filme irá ser mais um exame sobre Felt (Liam Neeson) do que dos pormenores já conhecidos do escândalo Watergate. O público é apresentado a Felt como um homem diligente, com forte senso de dever e que pensa trabalhar pelo bem estar da população e não da Casa Branca. Ao se ver preterido no cargo de diretor do FBI depois da morte de J. Edgar Hoover, Felt suspeita que há algo errado quando o novo diretor é alguém bastante próximo de Richard Nixon e sem qualquer experiência com o cotidiano operacional do FBI. As suspeitas do protagonista aumentam quando começam as investigações sobre o incidente no prédio Watergate e o novo diretor insiste em reportar tudo à Casa Branca, praticamente colocando o presidente Nixon, um suspeito, no controle da investigação.

O que começa promissor acaba se perdendo em uma série de cenas de reunião com diálogos meramente explicativos que informam ao público os (já conhecidos) detalhes sobre os bastidores da investigação Watergate, mas fazem pouco para desenvolver seus personagens. A relação complicada entre Felt e sua esposa (Diane Lane) ou sua filha ausente (Maika Monroe) é explorada de maneira tão superficial que quando o protagonista finalmente reencontra a filha ao fim do filme isso acaba não tendo qualquer peso dramático. Como o filme não deu tempo para que compreendêssemos a fuga da filha ou sentíssemos seu impacto (os diálogos meramente informam o que esse evento significou), fica difícil se importar com esse reencontro. Se o interesse do filme era mais nos fatos do que nos sujeitos talvez tivesse sido melhor realizar um documentário do que um filme de ficção.

Mesmo quando o texto não sai da superfície conseguimos aderir a Felt graças ao trabalho de Liam Neeson. O ator traz uma presença imponente, cheia de autoridade e gravidade que torna crível o modo como Felt conseguiu vazar tudo sem ser descoberto. A fotografia preza por sombras, tons cinzentos e planos de portas entreabertas, construindo os escritórios do FBI e da Casa Branca como um verdadeiro covil de feras nos quais predadores espreitam em qualquer canto e um movimento em falso pode custar tudo ao protagonista, imergindo o público na sensação de tensão e paranoia vivenciada por Felt.

Apesar de bem intencionado em seu lembrete sobre a importância de enfrentar um governo corrupto, Mark Felt: O Homem Que Derrubou a Casa Branca acaba fazendo pouco para ir além de uma mera reciclagem de uma história que já foi amplamente conhecida.


Nota: 5/10

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