terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Crítica - Caçadores de Emoção: Além do Limite


Análise Crítica - Caçadores de Emoção: Além do Limite


Review - Caçadores de Emoção: Além do Limite
A ideia de fazer um remake do clássico de ação Caçadores de Emoção (1991) da diretora Kathryn Bigelow (de Guerra ao Terror e A Hora Mais Escura) e estrelado por Keanu Reeves e Patrick Swayze me parecia um esforço inútil e provavelmente fadado a fracassar. Primeiro porque o filme de 1991 continua a se sustentar muito bem hoje, não precisando de nenhum tipo de atualização e segundo porque ele praticamente já tinha recebido um remake na forma de Velozes e Furiosos (2001), tornando o esforço de uma nova versão ainda mais irrelevante. Sério pessoal, a trama e o desenvolvimento do primeiro Velozes e Furiosos é idêntica a de Caçadores de Emoção, apenas substituindo o surfe por corridas. A questão é que mesmo tendo em mente todo o potencial que esse filme tinha para dar errado, ainda assim eu não esperava por algo tão ruim quanto ele de fato é.

Assim como no filme original, acompanhamos o jovem agente do FBI Johnny Utah (Luke Bracey, o Comandante Cobra de G.I Joe:Retaliação) em sua investigação por uma gangue que comete crimes audaciosos. Suas suspeitas o levam para o mundo dos esportes radicais no qual conhece o misterioso Bodhi (Edgar Ramirez, que também está em cartaz no igualmente fraco Joy: O Nome do Sucesso), que pode ser o líder da gangue. O atleta busca completar uma série de façanhas conhecidas como as "Oito de Ozaki", proezas tidas como impossíveis, mas que se alcançadas deixariam uma pessoa em tal comunhão com o planeta que ele alcançaria o nirvana (o espiritual, não a banda) e, além disso, Bodhi acredita que cumprir o desafio salvaria o mundo, pois sua a comunhão com o planeta permitiria que o mundo se curasse das feridas causadas pela humanidade. Não contente, Bodhi decide fazer "oferendas" ao planeta para ser auxiliado em sua jornada e assim comete crimes como destruir uma madeireira ou implodir uma mina.

A questão nem é que a premissa parece mais adequada a um Final Fantasy ou qualquer outro RPG japonês do que a um filme que se passa no nosso mundo. O problema é o filme levar tudo isso a sério, tornando o que deveria ser uma bobagem divertida (como o original) em um filme sisudo e pretensioso que mais se preocupa em vomitar uma mistureba de várias filosofias orientais de modo rasteiro e sem coesão do que efetivamente empolgar e divertir. Isso também prejudica que a mensagem de preservação ambiental seja transmitida de modo competente e esta acaba se perdendo no meio dessa bagunça narrativa e ideológica.

A decisão por levar tudo a sério também irá impactar negativamente nos personagens e nas relações entre eles, principalmente em Bodhi. No original ele era um viciado em emoção e adrenalina que roubava bancos para financiar sua vida de curtição e evitava ao máximo o uso de violência. Seus propósitos não eram exatamente nobres, mas era fácil se relacionar com ele, afinal quem nunca imaginou como seria ter uma vida de adrenalina, curtição e sem responsabilidades? Mais que isso, tornava crível e compreensível o fascínio que sua figura exercia no atleta frustrado que era Utah. Aqui nada disso acontece, já que o vilão é um tolo delirante com um egocêntrico complexo messiânico que mata sem piscar movido por dogmas e crenças radicais, não sendo nem um pouco diferente de qualquer terrorista que age por motivações religiosas.

Reduzido a um terrorista genérico, fica difícil comprar a amizade entre Bodhi e Utah, já que não temos motivos para crer na camaradagem entre eles e nem Ramirez nem Bracey conseguem convencer que há qualquer laço entre eles. Isso piora quando o filme insiste em repetir momentos icônicos do original, como a cena que Utah dispara para cima por não querer atirar em Bodhi, pois se não sentimos a amizade entre os dois, o momento é esvaziado de peso dramático e surge mais como uma exigência do roteiro do que um desenvolvimento natural da relação dos dois.

Bracey, aliás, é um amontoado ambulante de clichês como Utah com direito a um trauma no passado por causa da morte de um parceiro e é incapaz de injetar uma gota de personalidade em seu protagonista, que nos soa vazio e apático. Completando o grupo de personagens desinteressantes temos a australiana Teresa Palmer como o interesse romântico de Utah, cuja relação também ocorre gratuitamente apenas porque o roteiro exige e é descartada com a mesma conveniência, falta de emoção e apatia.

A falta de engajamento com os personagens acaba tirando a urgência e tensão das cenas de ação, afinal não é possível haver suspense se não damos a mínima para o destino dos personagens. As cenas de ação e aquelas que envolvem esportes radicais são muito bem executadas e primam pelo uso de dublês e locações reais e seu escopo ainda é beneficiado pelo uso do 3D. A questão é que apesar do esforço e comprometimento dos dublês e esportistas envolvidos ser verdadeiramente louvável pelo grau de dificuldade das proezas realizadas, ainda assim falta energia e empolgação a esses momentos, que não bastam para afastar o tédio que toma conta durante boa parte da projeção. Na maioria das vezes mais parece que estamos vendo vídeos do Discovery Channel ou Globo Esporte do que efetivamente um filme de ação. Os momentos em que o filme decide usar efeitos digitais, no entanto, são sabotados por uma computação gráfica artificial, em especial no confronto final entre Bodhi e Utah em meio a uma tempestade no meio do mar e claramente percebemos que ambos estão diante de um chroma key tosco.

Com tudo isso, Caçadores de Emoção: Além do Limite acaba sendo um filme de ação desprovido de emoção, divertimento ou empolgação, deixando o bom trabalho dos profissionais envolvidos nas cenas de ação se perder em meio a uma trama bagunçada e sisuda, personagens desinteressantes e embates sem energia. Chega a ser surpreendente que um filme com tanta correria, tiros, escaladas e saltos de paraquedas consiga ser tão chato.

Nota: 3/10
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