quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Crítica - Quero Matar Meu Chefe 2


O primeiro Quero Matar Meu Chefe (2011) era um filme cheio de problemas, mas conseguiu conquistar o público principalmente por causa do apelo cômico dos vilões que eram boas caricaturas dos piores tipos possíveis de chefes. Assim, é decepcionante constatar que este Quero Matar Meu Chefe 2 precise se apoiar tanto no original repetindo praticamente a mesma trama e as mesmas piadas, além de cometer os mesmos erros.

Na trama, Nick (Jason Bateman), Kurt (Jason Sudeikis) e Dale (Charlie Day) decidem abrir um negócio juntos e serem seus próprios chefes, mas seus problemas quando o inescrupuloso executivo de uma rede varejista (Christoph Waltz) os passa a perna e os deixa à beira da falência. Desesperados para não perderem tudo, decidem sequestrar Rex (Chris Pine), filho do executivo, para recuperarem seu dinheiro. O que eles não esperavam é que o próprio Rex estaria disposto a colaborar com o plano apenas para se vingar de seu pai.

A narrativa se desenvolve de modo exatamente igual ao primeiro filme, eles planejam o crime, pedem ajuda ao criminoso pé de chinelo "Ferra-Mãe" Jones (Jamie Foxx), se atrapalham, tentam corrigir tudo, se atrapalham e assim sucessivamente. Assim como no filme anterior o melhor são os coadjuvantes, sejam os chefes antigos (Kevin Spacey e Jennifer Aniston), que retornam em pequenas pontas, o patético Jones ou o jovem executivo interpretado por Chris Pine, que pega sua arrogância de capitão Kirk e a eleva à enésima potência. Christoph Waltz, por sua vez, aparece tão pouco que seu personagem não tem muito o que fazer.

Já o trio principal continua preso ao mesmo tipo de humor histérico e aborrecido, com os personagens gritando uns com os outros boa parte do tempo, em especial Dale que incomoda mais do que faz rir. Além disso, o filme ocasionalmente se entrega a piadas de gosto duvidoso, que parecem mais voltadas a reproduzir preconceitos e estereótipos do que questioná-los ou expô-los ao ridículo. Um exemplo disso é quando Kurt faz piada sobre a possibilidade de ter uma mulher como presidente e, bem, é isso, o filme julga o fato de ter uma presidente mulher algo intrinsecamente engraçado, quando na verdade é  perigosamente machista. O mesmo ocorre na cena em que eles inventam sotaques e todos eles soam como uma coleção de estereótipos raciais e regionais que tentam fazer rir através da reafirmação dessas reduções preconceituosas.

O principal problema (assim como no primeiro) continua a ser o tom inconsistente da obra. O filme continua sem se decidir acerca de sua própria natureza, não sabe se é uma comédia de humor negro, voltada a zoar a cruel cultura corporativa dos Estados Unidos que obriga os sujeitos a se tornarem sociopatas para subirem na vida, ou se é uma comédia de erros na qual um grupo de pessoas comuns se coloca em uma situação além de suas capacidades e sua incapacidade de lidar com as coisas vai escalando a situação a níveis mais absurdos. Assim sendo, ficamos sem ter uma clara noção se os protagonistas são simplesmente uns pobres coitados tentando sair da vala que cavaram para si ou se são sociopatas inescrupulosos que não veem problema com suas ações.

A trama vai passar boa parte de seu tempo, pulando entre esses dois extremos, numa cena eles vão se atrapalhar e botar tudo a perder, na seguinte planejam tudo nos mínimos detalhes de modo bastante calculado para logo depois voltarem a agir como tolos atrapalhados, nos deixando com a sensação de que os realizadores não conhecem exatamente a natureza de seus próprios personagens. Se o filme não se posiciona, fica difícil para o público fazê-lo e tudo acaba soando demasiadamente inconsistente e incoerente, principalmente por se tratar de uma continuação e percebemos que os personagens não evoluíram e não aprenderam quase nada (exceto, talvez, a cena do gravador) com sua experiência anterior. Essa sensação de estagnação é aumentada com a insatisfatória conclusão que os devolve não apenas ao ponto de partida deste filme, mas ao do anterior, deixando aberto o caminho para mais uma (e provavelmente ainda pior) sequência.

Deste modo, Quero Matar Meu Chefe 2 é um desnecessário caça-níqueis rasteiro e preguiçoso que pouco se esforça para tentar fazer algo melhor que o antecessor e oferece poucos momentos realmente engraçados.


Nota: 4/10

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