terça-feira, 9 de janeiro de 2024

Crítica – Os Rejeitados

 

Análise Crítica – Os Rejeitados

Review – Os Rejeitados
Dirigido por Alexander Payne, Os Rejeitados é um filme sobre solidão que pondera a respeito da importância de conexões humanas em nossa vida. A trama se passa no final de 1970, em um colégio interno no interior dos Estados Unidos. Todos estão indo embora para as festas de fim de ano, mas um professor precisa ficar para cuidar dos alunos que, por qualquer motivo, não irão para casa durante o recesso. É uma tarefa ingrata da qual muitos docentes fogem, recaindo para o professor de História, Sr. Hunham (Paul Giamatti), por ele não ter família nem vida pessoal.

Detestado pelos alunos e sem mais ninguém pela escola, Hunham acaba se aproximando de Tully (Dominic Sessa), aluno problemático que basicamente foi largado na escola pela mãe que resolveu sair em lua de mel com o novo marido. Aos dois se junta a cozinheira Mary (Da’Vine Joy Randolph), que está passando pelo luto da perda do filho, falecido no Vietnã. São pessoas que se sentem isoladas do mundo, desamparadas e sem rumo por um motivo ou outro. Sem pressa e com um ritmo bem deliberado vamos aprendendo sobre esses personagens conforme eles passam tempo juntos e se abrem uns com os outros.

Se de início há alguma medida de animosidade entre eles, afinal são estranhos forçados à companhia um do outro em um espaço relativamente confinado, aos poucos eles passam a se apoiar mais um no outro. Em parte porque não há mais ninguém ali, em parte porque percebem as semelhanças, de serem indivíduos que se sentem incompletos, à deriva ou que perderam o rumo.

Sendo tão centrado nesse trio de personagens, são as performances do elenco que fazem a narrativa funcionar tão bem, já que os arcos de aprendizado e amadurecimento são relativamente esquemáticos, mas não deixam de envolver pela emoção genuína que esses atores conseguem transmitir. Paul Giamatti nos faz perceber como o jeito turrão de Hunham funciona como um mecanismo de defesa, tanto para manter um distanciamento das provações cruéis e imaturas de estudantes mimados, mas por temer transparecer suas próprias inseguranças e sentimento de inadequação. Inicialmente pensamos que é apenas uma insegurança por conta da aparência estrábica, mas conforme ele se abre conhecemos como até mesmo sua carreira acadêmica é menos exemplar do que depreenderíamos por sua conduta e que ele se resignou com sua posição atual por temer não conseguir nada melhor.

Da’ Vine Joy Randolph trabalha muito bem o modo como o luto vem em ondas. Mary parece estar bem a maior parte do tempo e não demonstra se afetar pelos comentários de outros a respeito da morte de seu filho. A cozinheira, no entanto, é inundada pela dor quando se menos espera, com pequenas coisas servindo de gatilho para essas sensações ou pelo fato de suas emoções simplesmente transbordarem depois dela passar muito tempo as contendo. Randolph nos faz perceber essa contenção e o desalento que não parece ter fim nos momentos em que Mary se deixa tomar pelo luto.

Já o garoto Dominic Sessa faz Tully parecer só mais um moleque privilegiado que acha que pode tudo porque sua família tem dinheiro e estuda em uma escola de elite. Ele não deixa de ser isso, ao menos em parte, mas a trama nos faz entender o que está por trás dessa conduta e do sentimento de abandono e insegurança que o motiva por ter sido praticamente abandonado pela mãe e perdido o contato com o pai que sofre de uma severa doença mental. Mesmo a tentativa do garoto em rever o pai tem como resultado o reforço de sua solidão e como não há possibilidade de construir um relacionamento com seu genitor.

Todos esses elementos individuais de solidão e desamparo ajudam a tornar compreensível a eventual amizade entre eles e o laço que se constrói entre o trio, cujo aprendizado uns com os outros serve para seguir em frente. É a emoção verdadeira que emerge dessa conexão que dá impacto à decisão final de Hunham e torna tão tocante quando Mary se senta ao lado de Tully e segura na mão do garoto enquanto os pais dele decidem seu destino em uma reunião com o diretor da escola.

Com um ótimo trio de protagonistas, Os Rejeitados é uma sensível análise sobre o peso da solidão e a importância de conexões.

 

Nota: 8/10


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