quarta-feira, 16 de agosto de 2023

Crítica – Piscina Infinita

 

Análise Crítica – Piscina Infinita

Review – Piscina Infinita
Em Piscina Infinita o diretor Brandon Cronenberg explora o mesmo tipo de horror corporal que seu pai, o diretor David Cronenberg, construiu tão bem ao longo de sua carreira. O resultado é algo que soa como uma mistura de Crash: Estranhos Prazeres (1996) com Uma Noite de Crime (2013).

A trama se passa na fictícia ilha de La Tolqa (que parece remeter à Indonésia), focando no escritor James (Alexander Skarsgard) que vai passar férias na ilha em um resort de luxo acompanhado da esposa. Lá ele conhece Gabi (Mia Goth) e o marido Alban (Jalil Lespert) e fica amigo do casal. Em uma noitada ao lado deles, James acidentalmente atropela e mata um morador local. Ele é preso no dia seguinte pelas autoridades da ilha e condenado à morte e aí ele descobre o estranho sistema judicial da ilha. Para não desencorajar o turismo, a ilha oferece que os ricaços que frequentam o local assinem um termo e paguem um valor para serem clonados e que o clone seja executado em seu lugar. Assim James descobre que não há consequência para os ricos na ilha e que Gabi viaja para La Tolqa a anos apenas para exercitar seus piores impulsos. Seduzido pela jovem, o escritor se entrega a uma existência de hedonismo e violência.

No momento em que vê seu clone ser executado é possível perceber como o semblante de James muda do horror para uma espécie de satisfação mórbida conforme o personagem se dá conta de que pode fazer o que bem entender sem sofrer qualquer consequência. O grupo liderado por Gabi representa como essa ausência de consequência leva o ser humano a ceder aos seus piores impulsos, vivendo apenas para satisfazer seus prazeres físicos (de sexo, violência e o que mais imaginar) em jogos de poder e sedução.

Preso nessa teia, James aos poucos se dá conta de que ele é só mais um brinquedo nas mãos de Gabi, com a ideia do uso constante de clones servindo como uma metáfora para o fato de que os ricos veem as pessoas ao seu redor como descartáveis e substituíveis. A ideia de clones em substituição a uma pena de prisão também pondera como os ricos evadem consequências e a noção de que se a pena de qualquer crime é simplesmente o pagamento de uma multa, então a lei não vale para os ricos.

O fato de tudo isso se passar em uma ilha-nação subdesenvolvida soa como um comentário a respeito de empreendimentos de luxo nesse tipo de local como uma espécie de neocolonialismo. A despeito do discurso de que o turismo ajudaria no desenvolvimento da região, a verdade é que esse tipo de resort existe apenas para que os ricos (em especial de países desenvolvidos) continuem a explorar o local e se beneficiarem da pobreza que reina ali para fazerem o que quiserem e usar o dinheiro para fazer os problemas desaparecerem.

Essas ideias são embaladas por cenas bem chocantes de violência e tortura, como o segmento em que James, Gabi e os demais vestem máscaras sinistras para invadir uma casa ou o momento em que James espanca um clone seu. O filme também insere alguns momentos lisérgicos no qual o protagonista fica sob efeito de alucinógenos e se envolve em orgias que soam ainda mais hedonistas e insanas por conta da maneira como o filme usa luz e montagem para imprimir um senso de consciência alterada. Ainda assim a trama dá a impressão de andar em círculos por volta da metade do filme, repetindo os mesmos padrões de violência e prazer sem levar muito adiante, alongando as coisas um pouco mais do que deveria.

De todo modo, Piscina Infinita funciona como um competente horror corporal sobre identidade e o hedonismo destrutivo dos ricos.

 

Nota: 7/10


Trailer


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